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Opinião

C.S. Lewis e a política

Por Paulo Ribeiro

O desafio de ensinar o óbvio: “amar o que é amável e desprezar o que é desprezível”
 
Em 1951, C.S. Lewis foi indicado a receber o título honorário de "Comandante do Império Britânico". Lewis recusou a oferta de Churchill para evitar que tal honraria fosse usada como trunfo político e partidário de alguns. Sua recusa, no entanto, não significava que Lewis não tivesse convicções sobre sistemas políticos. Ele estava apenas menos interessado na politicagem.
 
A visão política de Lewis era diferente dos outros porque ele se concentrava no aspecto aristotélico da política, a polis. A polis é a “comunidade abrangente, que combinava esferas e identidades [de] … religião, governo, família, escola e negócios”. Para Aristóteles, tudo isso é mantido corretamente “visando algum bem”. Esse foco é diferente dos interesses e das maquinações da política, que recebem a maior atenção da mídia e da comunidade.
 
Aos 10 anos, C. S. Lewis escreveu um ensaio “sobre o futuro relacionamento da Irlanda e da coroa britânica”. Quando atingiu a idade adulta, ensinou e escreveu sobre vários filósofos políticos, de Platão a Rousseau e Lenin. Mas o mais importante, Lewis comentou e escreveu muitas vezes sobre os fundamentos da política, a luz da lei natural (*). Este era o “permanente no político”, a verdade sobre a qual a lei e a ordem são fundadas e continuamente substanciadas. 
 
Se reconhecermos como a lei natural pode ser a força vital do sucesso da polis no seu florescimento, veremos que os escritos de Lewis transbordam de temas políticos. Esses temas são encontrados nas Cartas do Diabo, Crônicas de Nárnia e A Abolição do Homem, entre outros. Eles trazem muita sabedoria para o exercício da política.
 
Em A Abolição do Homem vemos que as tendências políticas no mundo moderno estão relacionadas, em última análise, a uma “rejeição filosófica da tradição da lei natural”. Em Aquela Fortaleza Medonha Lewis ilustrou a realidade de forma bastante potente, acreditando que uma peça de ficção seria mais impactante e receberia menos contra-argumentos da sociedade do que uma obra filosófica. No prefácio do livro, ele escreve que seu desejo é que a verdade seja vista como se pela primeira vez “despojada de [suas] associações de vitrais e Escola Dominical”. O objetivo deste livro e de suas outras peças de ficção não era “principalmente ganhar debates, mas moldar disposições emocionais por meio da educação moral”.
 
Para Lewis uma alma humana corretamente ordenada é aquela em que a razão se submete à autoridade de Deus, por um lado, e nossas emoções e apetites se submetem à autoridade da razão.
 
Uma burocracia científica agora é possível devido aos avanços em ciência, tecnologia e a relação que os governos têm com seus cidadãos. Por exemplo, muitos desfrutam de maior saúde, longevidade e lazer do que em qualquer outro momento da história. Lewis via os governos democráticos como ansiosos por espalhar os benefícios a todos, pois esse é o centro do pensamento democrático: a igualdade desfrutada por todos. Assim, ele viu uma combinação mortal nas democracias liberais: avanços tecnológicos, niilismo moral e poder. Esse estado totalitário envolto em democracia possibilitada pela degradação da educação. 
 
Em Abolição do Homem, Lewis se concentrou nas deficiências da educação moderna. Ele demanda que os alunos sejam ensinados a “amar o que é amável e desprezar o que é desprezível”. Para Lewis uma alma humana corretamente ordenada é aquela em que a razão se submete à autoridade de Deus, por um lado, e nossas emoções e apetites se submetem à autoridade da razão. Com a falta de ordem adequada o subjetivismo moral aplicado na educação resulta na ruína de nossa civilização. Lewis afirma que isso ocorre porque “conquistaríamos nossa própria natureza” e nos tornaríamos sujeitos aos caprichos da “natureza material”.
 
O resultado é educação e propaganda devastadoras. Além disso, o governo legítimo e a tirania tornam-se a mesma coisa. Isso leva a um fim horrível na era moderna devido aos seus avanços científicos. Os avanços combinados com um “estado onicompetente” usado pelos influenciadores sociais permitirão que eles “façam o homem” à sua própria imagem. Lewis ilustrou isso em Aquela Fortaleza Medonha com uma agência de engenharia científica e social (N.I.C.E.) cuja missão era “superar e subjugar a natureza com a ciência”.
 
Para Lewis, um pré-requisito para uma boa governança é o reconhecimento de um “superior natural”. A hierarquia é um componente interno. A obediência é construída sobre isso. Isso é uma deficiência da democracia. Seu efeito nivelador é uma lei antinatural.
 
Lewis selecionou aspectos-chave das obras de John Locke e John Mill para formular uma democracia viável: a teoria do contrato social de Locke e o princípio do dano de Mill. Lewis e Locke acreditavam que Deus era o autor da natureza humana e que toda pessoa é igual diante de Deus. Ambos acreditavam que Deus havia dado ao homem uma moralidade comum a todos e não exclusiva do cristianismo. De acordo com essa moral, nenhum homem deve prejudicar outro. Essa era a espinha dorsal da teoria de Locke, que detalhava uma execução mútua de deveres pelo governo e pelos cidadãos com base em suas posições. O governo deve proteger e permitir que seus cidadãos vivam seus direitos dados por Deus de acordo com suas preferências individuais, e os cidadãos devem viver harmoniosamente sem causar danos a nenhum membro da sociedade.  
 
Mill concordou que o governo tinha a responsabilidade de exercer seu poder sobre uma pessoa que causaria danos corporais a outro membro da sociedade. Ele fala de um limite, no entanto, para a extensão do poder de prevenção de danos do governo.  
 
Lewis adverte a Igreja da tentação de se engajar na idolatria da teocracia, o que ele chamou de o pior de todos os governos. Ele via que os cristãos eram igualmente suscetíveis ao abuso de poder por causa da natureza decaída da humanidade. Em segundo lugar, a concepção de Lewis protege o reino da política.  
 
Enfim, como chegamos até aqui? Lewis apontaria as mudanças-chave que começaram em meados do século XIX e continuaram por cerca de cem anos. A principal mudança é uma revolução educacional. Assim, as pessoas não conhecem o passado e não têm compreensão adequada para medir o valor do presente.
 
Eu não mereço uma participação no governo de um galinheiro, muito menos de uma nação. Nem a maioria das pessoas [...]. A verdadeira razão da democracia é justamente o inverso. A humanidade está tão decaída que não se pode confiar a nenhum homem um poder irrestrito sobre seus semelhantes 

Outra mudança é a proeza tecnológica dos séculos XX e XXI: as máquinas estão sempre melhorando. A humanidade é levada a pensar que “quase nada pode ser transformado em quase qualquer coisa”, de acordo com Lewis. Outras mudanças incluem “uma ênfase no conhecimento prático sobre a sabedoria” e “um crescente ceticismo em relação à razão”.
 
Numa época em que as democracias ao redor do mundo parecem menos interessadas em ser incubadoras de liberdade e mais de burocracias, a sabedoria presciente de Lewis nos ajuda a entender como e por que uma forma de governo tão promissora foi tão facilmente corrompida. Apesar de favorecer uma democracia liberal clássica, parecia ser uma posição padrão para ele. Ele acreditava que a democracia era a única opção viável para obstruir a tirania política. Sua honestidade sobre a falta de confiabilidade da capacidade do homem de governar é chocante e necessária em nossos dias.
 
Em “Preocupações Atuais” Lewis admitiu: “Eu não mereço uma participação no governo de um galinheiro, muito menos de uma nação. Nem a maioria das pessoas que acreditam em anúncios, em palavras de ordem e espalham boatos. A verdadeira razão da democracia é justamente o inverso. A humanidade está tão decaída que não se pode confiar a nenhum homem um poder irrestrito sobre seus semelhantes”.
 
Finalmente, a palavra do profeta Isaias nos dá uma recomendação sábia. 
Ai daqueles que fazem leis injustas, que escrevem decretos opressores, para privar os pobres dos seus direitos e da justiça os oprimidos do meu povo, fazendo das viúvas sua presa e roubando dos órfãos! (Isaías 10:1-2)

Em quem Lewis votaria?

Suspeito que Lewis teria se consolado em sua fé de que este mundo não é o único, e não é o que importa, em última análise.
 
(*) Lei Natural é o que podemos chamar de jogo limpo, ou decência, ou moralidade, ou a Lei da Natureza.


PARA QUE TODOS SEJAM UM – A UNIDADE DA IGREJA É POSSÍVEL?  | REVISTA ULTIMATO
 
Qual a melhor resposta para um mundo cada vez mais dividido e para uma igreja cada vez mais polarizada? Pode parecer estranho, mas a resposta bíblica é óbvia: a Unidade em Cristo. E a pergunta que se segue é: “Que unidade é essa?” Aquela pela qual Jesus orou (Jo 17.23). 

É disso que trata a matéria de capa da edição de 397 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.  

Saiba mais:
Doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade de Manchester, na Inglaterra, foi Professor em Universidades nos Estados Unidos, Nova Zelândia e Holanda, e Pesquisador em Centros de Pesquisa (EPRI, NASA). Atualmente é Professor Titular Livre na Universidade Federal de Itajubá, MG. É originário do Vale do Pajeú e torcedor do Santa Cruz.
>> http://lattes.cnpq.br/2049448948386214
>> https://scholar.google.com/citations?user=38c88BoAAAAJ&hl=en&oi=ao

Pesquisa publicada recentemente aponta os cientistas destacados entre o “top” 2% dos pesquisadores de maior influência no mundo, nas diversas áreas do conhecimento. Destes, 600 cientistas são de Instituições Brasileiras. O Professor Paulo F. Ribeiro foi incluído nesta lista relacionado a área de Engenharia Elétrica.
  • Textos publicados: 69 [ver]

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