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Opinião

Pecado, pecados - pecadinhos e pecadões

Por Dom Robinson Cavalcanti

Hoje, 21 de junho de 2023, o bispo Robinson completaria 79 anos.

Morto em 2011, o bispo Robinson Cavalcanti era teólogo e cientista político, foi professor da Universidade Federal de Pernambuco, além de coordenador do Centro de Filosofia e Ciências Humanas daquela universidade. Talvez, um dos pensadores protestantes brasileiros mais importantes da segunda metade do século 20.
 
Colunista da revista Ultimato durante 27 anos, Robinson foi também um dos redatores de importantes documentos, como “A Responsabilidade Social da Igreja” (Grand Rapids, EUA), “O Evangelho e a Cultura” (Willowbank, Bermudas) e “Estilo de Vida Simples como Opção Cristã” (Lausanne, 1974).
 
Para lembrar o seu legado, Ultimato dá destaque ao artigo a seguir, publicado há exatos 17 anos.

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A Criação por um Deus perfeito foi, obviamente, originalmente perfeita. Minerais, vegetais, animais e seres humanos no Jardim do Éden estavam todos em harmonia perfeita com o seu Criador. Os seres humanos foram dotados da imagem de Deus (imago Dei). Esse foi o projeto original da Ordem da Criação, e que um dia voltará a existir na Ordem da Restauração (Nova Jerusalém). O Pecado encarnado pela desobediência, distanciamento do alvo proposto, pela quebra de comunhão dos nossos primeiros pais (como “procuradores” da humanidade de todos os tempos), rompeu essa realidade, levando à expulsão do Éden, à entropia da natureza, à enfermidade física, emocional, moral e espiritual dos seres humanos e à sua condenação eterna. Todo ser humano tem a condição permanente de Pecador. As Famílias, as Nações, as Culturas, os Estados são afetados, também, por essa condição: são os pecados sociais, como a escravidão, a ditadura, a tortura, os sistemas econômicos injustos, a corrupção política, a guerra, e tantos outros.

Pecado é um atributo da condição humana atual na História, e de toda a natureza “geme” por sua redenção. A Palavra de Deus nos ensina que “todos pecaram e carecem da glória de Deus”, que “não há um justo, nenhum sequer”. Fomos concebidos em pecado e “o salário do pecado é a morte”. Perdemos o status de filhos de Deus, e somos apenas criaturas privilegiadas, que ainda guardam em si uma pálida imagem de Deus. Em suma: ninguém presta! Somos todos iguais. A Teologia Reformada descreve a condição humana como a de uma “Depravação Total”, ou seja, mesmo não tendo perdido a dignidade da criação, todas as esferas da existência foram afetadas pelo pecado. Todos somos depravados.

Pecamos por ações, omissões, palavras e pensamentos. É claro que os pecados por ações e por palavras são mais evidentes, e que os pecados por omissões e pensamentos dão “menos bandeira”, mas Deus tudo sabe, e, no fundo, somos todos iguais. Os que pecam por pensamentos e omissões tendem a procurar enquadrar os que pecam por ações e por palavras... Alguns são pecadores mais grosseiros, outros mais “polidos”, ou mais sonsos... Jesus Cristo nos advertiu: “não julgueis, para não serdes julgados” e, ainda, “quem não tiver pecado que atire a primeira pedra”.

Pecado (maiúscula, singular) é a condição humana; pecados (minúscula, plural) são as expressões pontuais dessa condição. O Pecador comete pecados. Não tem fundamento bíblico a divisão, feita pela pela Igreja de Roma, entre “Pecados Mortais” (maiores, mais graves, de primeira grandeza) e “Pecados Veniais” (menores, menos graves, de segunda grandeza). Como também não tem base bíblica a doutrina romana do “Estado de Graça” (o ser humano alcançando um estágio de viver sem pecado). Por outro lado, para usar o jargão protestante, podemos dizer que todo o ser humano “vive em pecado” (ninguém cumpre os dez mandamentos todos os dias)... A classificação de “pecadões” e “pecadinhos” é um artifício sem base na Revelação. A Reforma Protestante, por unanimidade dos seus autores, condenou essa divisão, mas, decorridos cinco séculos, todas as igrejas protestantes, mesmo mantendo formalmente essa negação, na prática construíram os seus “pecados de primeira” e “pecados de segunda” (embriaguez é de primeira; glutonaria é de segunda, p.x). Encarar o Pecado por uma “lista” escolhida pelos homens e por suas instituições (o tamanho das “listas”, e o que as integra varia de denominação, lugar e época) é conhecido como Legalismo. Colocar os delitos sexuais (os da Bíblia, os da Cultura e os que as Culturas acham que está na Bíblia) é conhecido como Moralismo (quase sempre irmanado com o pecado da Hipocrisia). Achar-se melhor dos que os outros se constitui no gravíssimo pecado da Arrogância Espiritual.

Cada sistema legal, por seus Códigos Penais, elege os pecados perante a Sociedade e o Estado, variam de país para país e de época para época. Não há sintonia perfeita entre as Leis dos países e a Lei de Deus, nem as normas e condenações de cada cultura (imperfeitas e variáveis, no tempo e no espaço) com a Lei de Deus. Não podemos condicionar nem equivaler a Teologia Moral e a Ética Cristã com a Lei Penal dos Estados ou com a Lei Moral das Culturas.

A Lei de Deus escrita nos corações humanos revela culpa, inquietação, saudade do Paraíso, alienação consigo mesmo, com o próximo e com a natureza, em decorrência da alienação básica com Deus, vivendo uma permanente ambigüidade moral e uma busca de saída, em vão, por obras, mortificações ou ritos.

A saída, a solução, a Salvação nos é oferecida pelo Amor Absoluto de Deus em Sua Graça, mediante o sangue do seu Filho derramado na Cruz, “que nos purifica de todo o nosso pecado”, com Ele tomando o nosso lugar. Ele, que estava vivo morre, para que nós, que estávamos mortos, vivêssemos. ”Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo – pela graça sois salvos” (Ef 2.4-5). O Espírito Santo de Deus nos convence do nosso estado de pecaminosidade e de perdição, e das vãs tentativas de solução humana, nos conduz ao arrependimento e à fé em Jesus Cristo, como nosso Único Senhor e Salvador, nos converte, nos regenera, nos torna novas criaturas, salvas. O cristão convertido vai sendo aperfeiçoado pelo Espírito Santo, para substituir as “obras da carne” pelo “fruto do Espírito”, especialmente em seu caráter e em seu temperamento, com novos valores e novos propósitos, nos assemelhando a Cristo. A esse processo contínuo (não linear ascendente, mas com avanços e recuos) denominamos de Santificação: separação para ser diferente e fazer diferença. O salvo é liberto dos efeitos do pecado (a perdição), o santificado tem reduzido sobre si o poder do pecado, mas, enquanto nessa vida, não estamos livres da presença do pecado, embora haja uma diferença entre tentação e prática.

O homem natural tem apenas sentimento de culpa e remorso; o cristão tem a possibilidade, pelo Espírito Santo, do arrependimento, que condiz com os ensinos da Palavra e leva à superação e à “novidade de vida”. Quem é perdoado por Deus tem que aprender a receber esse perdão, a se perdoar e a perdoar o seu próximo.

A principal disciplina cristã é interior, é uma auto-disciplina, pelo Espírito Santo. A Palavra e os Sacramentos são meios de graça para essa disciplina. Não fomos salvos pela Lei; ela apenas mostrou quem sou e como dependo de Deus, e hoje me serve de roteiro ético. A Palavra nos ensina que se algum irmão incorreu em alguma falta, temos que falar com ele a sós primeiro, ou, depois, com um grupo, e não levar diretamente à comunidade, muito menos “queimá-lo” pelo exercício do pecado da maledicência (clássica “fofoca”). Acusação, mentira e exagero são ministérios diabólicos (diabolos = acusador e mentiroso).

Em razão do estado de Pecado todos somos doentes espirituais, com diversidade de sintomas. A Igreja deve ser uma Comunidade Terapêutica, e os cristãos, uns com os outros, devem ser agentes terapêuticos e não patogênicos, embora haja muita igreja por aí enfermando pessoas sob o pesado jugo da culpa sem Graça. O objetivo último é sempre o perdão e a restauração, sejam crianças ou anciãos, pobres ou ricos, homens ou mulheres, doutos ou simples, leigos ou clérigos. O único pecado imperdoável é aquele contra o Espírito Santo (a rejeição da Graça). Com a conversão podemos afirmar que: “Aquele que está em Cristo é uma nova Criatura, as coisas antigas já passaram, eis que tudo se fez novo” (II Co 5.17). Com o processo de santificação vamos, cada dia, dizendo: “...esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão...” (Fl 3.13).

O Anglicanismo não é antinomista (desprezador da Lei), nem amoral; não é Legalista ou Moralista, mas portador da Graça e não da des-graça. Com equilíbrio, bom senso, exortação e amor, procuramos seguir as pegadas de Jesus.

Meditemos na Palavra de Deus: “Erguendo-se Jesus e não vendo a ninguém mais além da mulher, perguntou-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém de condenou? Respondeu ela: Ninguém, Senhor! Então lhe disse Jesus: Nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais”. (Jo 8.10-11).

Oremos:
“Deus Todo-Poderoso, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que não deseja a morte do pecador, porém que se converta dos seus pecados e viva... nos dê um verdadeiro arrependimento, e o Seu Espírito Santo, a fim de que as nossas obras que fazemos lhe sejam agradáveis, seja a nossa vida de hoje em diante, pura e santa: e assim alcancemos finalmente a vida eterna. De modo que ao fim possamos vir a Sua eterna alegria, por intermédio da graça de nosso Senhor Jesus Cristo. Amém”. (Livro de Oração Comum).

Paripueira (AL), 17 de junho de 2006.

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Para conhecer a obra e acompanhar a celebração da vida e do legado do professor e bispo Robinson Cavalcanti acesse Memorial Robinson Cavalcanti.
Foi bispo anglicano da Diocese do Recife e autor de, entre outros, Cristianismo e Política — teoria bíblica e prática histórica e A Igreja, o País e o Mundo — desafios a uma fé engajada. Faleceu no dia 26 de fevereiro de 2012 em Olinda (PE). 
  • Textos publicados: 29 [ver]

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