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Opinião

Era uma vez em Atenas... Não são a verdade e a justiça que estão em jogo

Por William Lane
 
Estamos em Atenas, na segunda metade do século 5 a.C. A cidade-estado ainda é uma jovem democracia. Depois de uma série de reformas políticas e administrativas de Clístenes, entre 508 e 506 a.C., incluindo um sistema democrático de governo, Atenas amadurece com Péricles a sua democracia, em que o cidadão nascido, ou de pai nascido em Atenas (excluindo-se mulheres, escravos e estrangeiros), participa das decisões da cidade.
 
Além de sua organização administrativa, Atenas está ficando conhecida e será lembrada pelos intelectuais nascidos aqui e que estão despontando como grandes pensadores. Um dos principais é Sócrates (469-399 a.C.). Platão nasce no último quarto do século (427-347 a.C.). Aristóteles, no século seguinte (384-322 a.C.). Alguns dos principais pensadores desta época vivem ou passam por aqui. Pensadores que estão trazendo profunda transformação na sociedade e que, acredito, impactarão o mundo com suas ideias.
Além desses pensadores, estão chegando a Atenas e a outras cidades gregas alguns autodenominados mestres que buscam ensinar jovens da nobreza mediante pagamento de uma taxa, coisa nunca vista antes – ensinar em troca de dinheiro! Absurdo! São itinerantes, mas estão ficando famosos e enriquecidos. Chamamos eles de sofistas. Apesar, da derivação e semelhança com a palavra sofia (= sabedoria, conhecimento) e filosofia (= amigo/amante do conhecimento), o que ensinam e como ensinam é bem diferente dos outros pensadores. Na realidade, às vezes se confundem com eles, porém, há diferenças significativas. 
 
Alguns cidadãos, naturalmente, são simpáticos aos sofistas. Afinal, em uma democracia, todos têm o direito de opinar, e para isso precisam de conhecimento. Outros, porém, abominam as suas práticas e os consideram uns ‘intelectualóides’, que não oferecem verdadeiro conhecimento. 
 
Realmente, os sofistas não estão interessados nas questões últimas da vida, no conhecimento em si, nem mesmo na busca da verdade. Estão interessados em ajudar os jovens a obterem sucesso em uma carreira política ensinando, principalmente, a arte da oratória e da retórica. Defendem que a verdade não existe absolutamente, mas é um ponto de vista particular que deve ser propagado e, pela persuasão, convencer os outros a aceitá-lo como real. Não só isso, mas estão interessados apenas naquilo que tem alguma utilidade ou proveito prático. Nada de grandes reflexões metafísicas. O importante são os resultados que se quer obter.
 
Eles são tão hábeis que conseguem colocar em dúvida as convicções mais sólidas das pessoas levando-as a acreditar nas ideias superficiais, e duvidosas, deles. Espalham argumentos falsos, mas o fazem de forma tão convincente que as pessoas passam a acreditar no que dizem.


 
Recentemente entrou em cartaz a peça teatral de Aristófanes, As Nuvens. A trama retrata bem o que está acontecendo. Nela, certo cidadão, Estrepsíades, proprietário abastado, se afunda em dívidas e, sem conseguir pagá-las, descobre que há um novo jeito de levar os credores na conversa – pela persuasão e retórica dos sofistas. Resolve matricular o seu filho na escola de um desses mestres sofistas. Seu filho se nega. Então, ele mesmo se matricula, mas não consegue acompanhar os estudos, lhe faltam competências intelectuais. Volta a insistir com o filho, que finalmente consente. Lá, o filho, Fidípedes, encontra o Argumento Superior debatendo com o Argumento Inferior sobre quem poderia oferecer melhor educação. O Argumento Superior está do lado da Justiça e dos deuses, enquanto o Argumento Inferior nega a Justiça e oferece uma formação fácil que ensina o indivíduo principalmente a se livrar dos problemas pela persuasão. O Argumento Inferior prevalece e se torna o mestre de Fidípedes. Logo ele descobre e se entusiasma com o fato de que os melhores alunos do Argumento Inferior eram os que tinham alcançado as posições de maior poder na política de Atenas.
 
Concluídos os estudos, Fidípedes retorna para casa de seu pai. Estrepsíades, inicialmente, consegue pela retórica e persuasão ludibriar alguns de seus credores. Porém, se vê vítima dessa nova maneira de ser quando é surrado pelo próprio filho que se justifica com a mais hábil argumentação do Argumento Inferior de que não fez nada errado.
 
A prática e visão desses sofistas estão mudando muitas coisas na sociedade. Alguns estão convencidos que é assim que a democracia ateniense irá se manter e se perpetuar. Outros acham que isso está corroendo a democracia. A verdade e a justiça estão sendo vencidas pelo Argumento Inferior. Sócrates, por exemplo, será condenado à morte em 399 a.C. porque os seus acusadores conseguirão persuadir os tribunais com uma bela retórica sofista de que ele corrompe a juventude e não acredita nos deuses. Afinal, não é a verdade ou a justiça que estão em jogo. O importante é persuadir seus interlocutores que você é pessoa verdadeira e justa e fará o melhor em defesa da democracia e dos seus direitos. Desse modo, estamos nos destacamos como excelentes alunos do mestre Inferior.
 

A (RE)DESCOBERTA DA SERENIDADE – DEIXO COM VOCÊS A PAZ! NÃO FIQUEM AFLITOS | REVISTA ULTIMATO
 
"Serenidade” é definida como o estado da pessoa serena, que age de maneira calma e tranquila. Pode ser entendida também como a paz da mente, o equilíbrio emocional, o estado não perturbado, o domínio de si mesmo. Fúria, preocupação, inquietude e agitação são alguns de seus antônimos.
 
É disso que trata a matéria de capa da edição de 395 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui

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Pastor presbiteriano e doutor em Antigo Testamento, é professor e capelão no Seminário Presbiteriano do Sul, e tradutor de obras teológicas. É autor do livro O propósito bíblico da missão.
  • Textos publicados: 58 [ver]

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