Opinião
25 de fevereiro de 2013- Visualizações: 10216
18 comentário(s)- +A
- -A
-
compartilhar
A inversão dos contos de fadas
A grande vencedora do carnaval desse ano no Carnaval de São Paulo, a Mocidade Alegre, tematizou a sensualidade e a inversão de valores, com base nos contos de fada. A branca de neve apareceu cozinhando criancinhas, havia chapeuzinhos vermelhos eróticos, sete anões presidiários e o lobo mau provavelmente é elevado a herói. Não é para menos que Carnaval tem sua raiz etimológica na palavra latina “carne”.Claro que tudo não passava de uma brincadeira, mas há quem diga e defenda que toda brincadeira tem um fundo de verdade. O fundo de verdade não está nos personagens infantis, que se mostraram cruéis ou sexuais, que só não são mais lamentáveis, porque são cômicos.
A verdade está nas próprias inversões, que são uma das realidades mais tristes que a humanidade enfrenta desde que negou os valores mais tradicionais e de bom senso, e que existem em toda sociedade e em todo o ser humano de todos os tempos desde a queda.
Ou seja, a escola de samba tematizou (como tantas outras têm predileção por tematizar) o pecado, no sentido de libertinagem, usando o filtro dos contos infantis para promover a sensualidade. E não me pareceu que essa tivesse sido uma crítica, mas, antes, a exaltação desse estado de coisas invertido.
Muitos vão me perguntar: então quer dizer que você defende os contos de fada? Até certo ponto, no seu sentido tradicional, como foram trazidos para as sociedades anteriores a essa, com seu conteúdo moral e ético preservado, sim, defendo.
Quanto a isso, outros vão me perguntar: “mas e as figuras pagãs, como feiticeiras, dragões, lobos que falam, etc”? (que aliás fazem parte mais dos mitos, do que dos contos de fada; e já falamos sobre eles em outras oportunidades).
Quanto a elas, costumo dizer que é preciso, antes de tudo, saber ler, habilidade essa cada vez mais rara e cada vez menos praticada, inclusive pela população daqueles que se autodenominam “cristãos”. Nenhum conto de fadas promove ou defende a existência de bruxas, príncipes encantados, etc. O que importa é a “moral” da história. Valores como prudência, coragem, fidelidade, amizade, abnegação e amor são temas mais do que presentes nesses contos. E tais valores são perfeitamente cristãos. Embora eles não tenham poder “salvífico”, podem, sim, servir de ponte e ponto de contato para a introdução de narrativas e valores cristãos.
A tendência de misturar a realidade com a fantasia é um traço da modernidade, como a escola de samba vencedora acabou de provar, e não é infantil, é adulta. É o adulto que tem a malícia de encontrar em histórias desse tipo coisas como mecanismos de repressão ou de liberação sexual (sim, porque os freudianos e os cristãos dizem coisas completamente opostas sobre o mesmo fenômeno) ou estratégias maléficas de opressão capitalista.
Dependendo da faixa etária, a criança é bastante realista. Por mais que ela seja imaginativa, em condições normais, não vai procurar o lobo mau em baixo da cama. Mas tudo, é claro, depende da forma como se conta a história (o que implica, repito, na capacidade prévia de leitura e interpretação do adulto). Se é para meter medo na criança a fim de controlá-la melhor, fazendo-a acreditar no bicho-papão ou na mula-sem-cabeça e outras figuras que povoam nosso imaginário folclórico nacional, é claro que ela vai ter pesadelos. Mas isso não é problema da história e sim, do adulto por trás da história e de seu imaginário corrompido.
Enfim, a Bíblia diz que não é o que entra no coração do homem o que o corrompe, mas o que sai de lá. Então, vamos cuidar para não jogar bebês, junto com a água do banho no que diz respeito aos contos de fada e vamos “considerar tudo e reter o que é bom”.
Leia mais
É mestre e doutora em educação (USP) e doutora em estudos da tradução (UFSC). É autora de O Senhor dos Anéis: da fantasia à ética e tradutora de Um Ano com C.S. Lewis e Deus em Questão. Costuma se identificar como missionária no mundo acadêmico. É criadora e editora do site www.cslewis.com.br
- Textos publicados: 68 [ver]
25 de fevereiro de 2013- Visualizações: 10216
18 comentário(s)- +A
- -A
-
compartilhar

Leia mais em Opinião
Opinião do leitor
Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta é necessário estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o login ou seu cadastro.
Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
Assuntos em Últimas
- 500AnosReforma
- Aconteceu Comigo
- Aconteceu há...
- Agenda50anos
- Arte e Cultura
- Biografia e História
- Casamento e Família
- Ciência
- Devocionário
- Espiritualidade
- Estudo Bíblico
- Evangelização e Missões
- Ética e Comportamento
- Igreja e Liderança
- Igreja em ação
- Institucional
- Juventude
- Legado e Louvor
- Meio Ambiente
- Política e Sociedade
- Reportagem
- Resenha
- Sessenta +
- Série Ciência e Fé Cristã
- Teologia e Doutrina
- Testemunho
- Vida Cristã
Revista Ultimato
+ lidos
- Quem são e o que querem os evangélicos na COP30
- Dicas para uma aula de EBD (parte 1): Planeje a aula e o seu preparo pessoal
- Homenagem – Márcio Schmidel (1968–2025)
- Ultimato na COP30
- Vaticano limita a devoção a Maria na Igreja Católica
- Com Jesus à mesa: partilha que gera o milagre
- Acessibilidade no Congresso Brasileiro de Missões (CBM) 2025
- Sociedade Bíblica do Brasil dá início ao Mês da Bíblia 2025
- Geração Z – o retorno da fé?
- Dicas para uma aula de EBD (parte 2): Mostre o que há de melhor no conteúdo
(31)3611 8500
(31)99437 0043
Os vagabundos de Pinheirinho?
Carisma e caráter na Igreja
Ciência e Religião: uma conversa significativa
A diversidade das mulheres muçulmanas no Afeganistão e além





 copiar.jpg&largura=49&altura=65&opt=adaptativa)


