O meu próximo não é o que me convém

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"A fé me chama para o relacionar-se, agora sua ausência me faz acreditar na sua apropriação’’.

Texto de Lucas 10: 29

A pergunta de Jesus ao seu capcioso ou ardiloso inquiridor, abre-nos precedentes sobre onde quem é e onde está o meu próximo, em meio a uma realidade de tantas controvérsias e mudanças contínuas. De certo, as questões de Jesus colocaram o Doutor da Lei em uma saia justa, na berlinda, num aparente beco sem saída, não é mesmo. A parábola discorrida traz a tona personagens com suas posições, com suas restrições, com suas definições, com seus sins e nãos, sem se inclinar para escutar o outro lado, sem se permitir romper com as ilusões das respostas cômodas e convenientes. Todos aqueles personagens, com seus modelos de princípios e valores intactos, inalteráveis, indissolúveis, acima do bem e do mal, de tudo e de todos, amém.

Em contrapartida, o Deus ser humano Jesus Cristo, mostra-nos uma realidade em intensas e impactantes transformações e mudanças, com a noção de tempo e espaço não mais como antes, com uma eclosão de reivindicações de direitos, por parte de pessoas dos mais variados espectros ou biografias. Atentemos o quanto não somos confrontados, aparentemente, com um discurso assistencialista, mas sim somos levados para ir a direção de um caminho ousado e não necessariamente reconhecido, de um caminho de inovação e nem sempre recompensado. Vou adiante, quem é o meu próximo e onde está, uma pergunta central a ser feita por todo o discípulo das notícias e como isto implica se importar, estimar e respeitar o próximo pelo que é, em sua inteireza, com seus pedaços, com suas fraturas, com seus vazios, ciente de que ao se aproximar, adentramos no solo sagrado da vida, da vida humana, da imagem e semelhança de Deus. Em meio a tais palavras, Jesus parece destravar as portas e nos verte com uma alegria e justiça, com uma fé e uma esperança não presa ou muito menos apegada a discursos fechados, como se pudéssemos incorrer na farsa de se apropriar de Deus e descartar quem não se adequa aquilo que consideramos o certo.

É bem verdade, o impulso criativo e o logos criativo ou o Deus ser humano Jesus Cristo se dirige a todo o ser humano, a toda a criação e como posso tomar e fazer dessa verdade como uma propriedade exclusiva minha? Indo ao texto de João 1.9, constata-se ser Jesus, o Cristo, o meio que a todos (atentemos, todos) ilumina, direciona e inspira e, logo, não se restringe a um beco ou a um grupelho de escolhidos, de predestinados, de sorteados, não e não. Ultimamente, vivenciamos um período de turbilhões, as pessoas parecem se entrincheirar numa busca pelo previsível, pelo conveniente, por uma igualdade de cartas marcadas (em que todos batem palmas e não olham para os lados). Negar seria uma temeridade ou vergonha, Jesus estende as mãos para os de fora, para os diferentes, para os vistos como estranhos ou suspeitos, não anula quem discorda, quem se posiciona não como a maioria, estabelece passagens para o multifacetados, para o amplo, para o difuso, para o diverso (a mulher samaritana, o Centurião Romano, o cobrador de Impostos, o endemoninhado gadareno, a mulher hemorrágica, o Cego, o homem próximo ao tanque de Betesda). Então, quem é o meu próximo? Será que está tão longe, tão distante, tão inacessível, tão abstrato, tão idílico ou irreal, tão desencarnado? Retomo o fio da meada, onde está o teu próximo e quem é o teu próximo? Quem sabe, não devamos começar, por quem está ao nosso lado, todos os domingos, todos os dias, todas as semanas, em nossos encontros dominicais, em nossos ensaios, em nossos encontros de oração, em nossas idas a escola bíblica dominical e por ai vai?

Baruch Há Shem!

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Opinião do leitor