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18 de janeiro de 2012- Visualizações: 3192
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Sofrimento a olho nu
Acabei de chegar este final de semana de uma viagem que durou quase dois meses por quatro países do sudeste da Ásia. Muito interessante o que está ocorrendo por lá.
Chegar no mesmo dia que a Secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton em Myanmar, assistir na TV do quarto do hotel (até pouco tempo atrás não tinha CNN e no ciclone quase mataram a jornalista do emissora que entrou clandestinamente para fazer a reportagem), e ler nos jornais os comentários e reportagens dos encontros de Hillary com Aung San Suu Kyi (que ficou presa e em prisão domiciliar por muitos anos) me provocaram uma sensação indescritível.
No segundo país que visitei, vi um quarto - uma espécie de memorial - que guarda os ossos de mais de 2 mil pessoas mortas no genocídio ocorrido décadas atrás. Estar com e ouvir histórias dos sobreviventes foi de arrepiar. Ver as crianças sentadas brincando na poeira na fronteira com outro país, à espera dos pais que foram procurar emprego, mas nunca mais voltaram, e saber que há mais de 2 mil dessas crianças, provocaram lágrimas e nó na garganta tão forte ou até mais forte do que quando fico diante de cenas de destruição de catástrofes. Por outro lado, vi como um homem, praticamente sozinho, está mudando a situação de uma cidade: de uma terra de ninguém cheia de violência para a única cidade que se salvou da séria enchente no final do ano. Andei com esse homem ouvindo as suas histórias e vi, literalmente boquiaberta, o que ele está fazendo.
No terceiro país, vi que a província mais pobre está abrindo cassinos para atrair estrangeiros e melhorar sua economia! Aliás, essa opção está sendo usada até nos países ricos da região. Junto com cassinos, vêm os problemas colaterais: drogas e prostituição. Mas o que atinge violentamente a região é a escravidão infantil. Ouvi a história de um menino, aliás, bebê, que foi traficado. Quando a mulher “mula” que o levou a outro país junto com outras quatro crianças foi presa, os cinco também foram presos. A mulher e as quatro crianças desapareceram; ninguém contou o que aconteceu. Por três anos o menino não conhecia outra vida a não ser a prisão. Não aprendeu a falar nenhum idioma, misturava algumas palavras de várias línguas que conviveu. Hoje, aos 4 anos, foi adotado informalmente. Os novos pais contaram que por não conhecer carros, o menino fica fascinado quando vê um e fica na frente do veículo sem entender o perigo. Quando ouve a sirene de uma ambulância, ele levanta as mãozinhas como se estivessem algemadas, dizendo “polícia, polícia”. O garoto não tem nome, não tem certidão de nascimento, ninguém sabe quem é, portanto não “existe” para formalização de adoção.
No quarto país, fui a uma ilha que sofreu duas vezes com tsunamis como aquele que assustou o mundo. Meses depois a mesma ilha foi atingida por um terremoto que a arrasou completamente. Não recebeu ajuda do governo por muitas décadas porque a maioria da população é cristã. Por causa da subnutrição, o índice de tuberculose era 30%, uma em cada três pessoas! Hoje a ilha é palco de esforços para mudar a fé para a majoritária do país.
Engasguei ao ver as crianças (e jovens e mesmo adultos) apinhando-se na igreja durante a distribuição de guloseimas e presentes como parte de celebração natalina infantil que promovemos. Vieram crianças, jovens e adultos de várias aldeias, o que fez ultrapassar nossa previsão de participantes. Faltaram presentes.
Para uma demonstração de treinamento de futebol brasileiro, nos levaram para o campo de futebol enlameado, do tamanho de um quadro de vôlei, completamente lotado de meninos, meninas, jovens e adultos.
E assim, após visitar este quatro países, enviamos nossa equipe para as Filipinas, a fim de socorrer as vítimas da tempestade tropical que varreu o sudeste do país. Um dos voluntários da nossa equipe, o nutricionista, tinha chegado da viagem ao Chifre e Leste da África, atendendo de tragédia em tragédia.
Tem muito ainda para fazermos.
Foto: Casa levada por tempestade tropical nas Filipinas
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A autora do artigo não pode se identificar, nem os nomes de três países que visitou, por questões de segurança. Ela trabalha em uma rede de cristãos que socorrem vítimas de tragédias naturais no Brasil e no mundo
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