Opinião
- 17 de maio de 2021
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Na linha de frente - cuidando de quem cuida
Por Eleny Vassão
“O que mais me impressiona, ao entrar no setor Covid do hospital é o silêncio dos profissionais da saúde. Eles estão tão desgastados, exaustos e tristes por tantas perdas, que ali não se ouvem conversas, risadas e brincadeiras que são costumeiras entre a equipe de saúde, até mesmo nas UTIs. O silêncio é assustador e revela o estado emocional em que nossos colegas estão vivendo”, revela um médico oncologista e intensivista.
Em conversa com uma capelã e técnica em enfermagem, vários médicos relataram os efeitos sofridos por eles por estarem trabalhando na linha de frente da pandemia: compulsão alimentar e de bebida; falta de apetite; vontade de abandonar a profissão; medo da morte; sonhos e pesadelos ruins; insônia; exaustão a ponto de chorar; temor do futuro. Outros profissionais da saúde desabafam, relatando a sobrecarga de trabalho; sequelas psicológicas e psiquiátricas; morte de muitos colegas; ansiedade; síndrome do pânico; depressão; raiva do individualismo; falta ou excesso de sono; medo de levar a doença para a família e/ou de ficar doente; medo do futuro e da morte; dores constantes no corpo; unhas enfraquecidas e queda de cabelo; indignação e insatisfação.
Dando ouvidos aos profissionais da saúde
“Um ano de Covid... Não só os pacientes perdem o fôlego; os profissionais também não conseguem mais respirar.”
M. I., fisioterapeuta especializada em neurologia
“O que mais machuca a gente na recepção do hospital é as pessoas que telefonam preocupadas com seu familiar internado. Estão assistindo às notícias na TV e ficam temerosas com o aumento de mortes, pensando logo no seu querido.”
S., recepcionista de um hospital público
“Eu me lembro de chegar em casa algumas vezes e ter que desabafar e chorar, por ter um ‘nó’ na garganta.”
S. P., médico cardiologista e intensivista, administrador de UTIs
“A gente está ficando com a cabeça pesada, com o coração bem abatido em ver tanta gente morrendo.”
V. B. C., da equipe de higienização de um hospital
“Tenho ouvido que alguns médicos da minha cidade estão se suicidando porque não estão aguentando a pressão.”
D., psicóloga, atendimento em promoção da saúde
Acolhendo e cuidando de quem cuida
Como apoiar estes queridos profissionais da saúde que estão na linha de frente dessa terrível e prolongada pandemia da Covid-19, de maneira a ajudá-los a manter sua sanidade mental e encontrar forças para se levantar para mais um dia de luta pela vida de seus pacientes?
As equipes de capelania da Associação de Capelania na Saúde (ACS) têm trabalhado, de forma diária e voluntária, há 39 anos nos hospitais, acolhendo e oferecendo assistência espiritual, emocional e social no sofrimento, visando promover o bem-estar integral. Seus capelães e visitadores são capacitados através de anos de cursos teóricos e treinamento prático em capelania, e compõem as equipes de saúde dos hospitais, levando o conforto e a esperança da Palavra de Deus aos enfermos, seus familiares, profissionais da saúde e funcionários através de grande variedade de atividades.
Em tempos de pandemia, nossa preocupação maior tem sido com os profissionais da saúde da linha de frente, que têm se desgastado tanto, investindo incansavelmente todo seu conhecimento e vida no cuidado dos enfermos e sofrendo tantas perdas. Foi com este propósito que, contando com alguns de nossos capelães que nos ajudaram a levantar o depoimento de diferentes profissionais da saúde, e muitos queridos que nos enviaram seus relatos, escrevi o livro Linha de Frente - Cuidando de Quem Cuida - Carinho e acolhimento para os profissionais da saúde na pandemia do Covid-19.
“Eu sinto este acolhimento espiritual como um cobertor num dia frio, que vem dar calor e alívio. As orações são como este cobertor, que vem acalentar as nossas almas...”
Sonia Regina Martins Viana, técnica em enfermagem e capelã hospitalar
Em Linha de Frente, procuro dar ouvidos às dores da alma destes profissionais (“utilizando o estetoscópio”), conversando com eles (“anamnese espiritual”) e apresentando-lhes a medicação prescrita por Jesus, o Médico dos médicos (“o tratamento do Médico”), Deus Encarnado, o Autor da Vida, o Soberano Deus que, ao nos ver sozinhos, perdidos, exaustos e separados dele, “vestiu o nosso jaleco”, fazendo-se gente, sentindo na pele a nossa dor e dando a sua vida para que pudéssemos ter uma nova oportunidade, perdão, força, paz, propósito, esperança e vida eterna.
Somente nele podemos ter as nossas forças recarregadas, os olhos abertos para enxergarmos a beleza em meio à sombra da morte e, mesmo que nem sempre possamos “salvar a vida” daquele no qual investimos nossos esforços, podemos oferecer-lhe paz e esperança em meio e além de seu sofrimento, ao viver Cristo diante dele.
Deus usa até mesmo as nossas frustrações para nos desafiar, para nos fazer olhar para o alto e depender mais do relacionamento com o Pai, que nos traz sentido e esperança para uma vida que vale a pena ser vivida, servindo de grande bênção para muitas vidas fragilizadas pelo sofrimento.
É Ele quem nos acolhe em seu colo e nos reanima, para continuar a servi-lo e às pessoas a cada novo dia: “Não fiquem com medo, pois estou com vocês; não se apavorem, pois eu sou o seu Deus. Eu lhes dou forças e os ajudo; eu os protejo com a minha forte mão” (Isaías 41.10).
Na apresentação do Linha de Frente, Rosana Chami Gentil, doutora em enfermagem, capelã hospitalar e conselheira bíblica, diz:
“Você tem em mãos um livro precioso, onde a autora consegue capturar a dor da alma dos profissionais de saúde nesta pandemia avassaladora, ao se depararem com sua fragilidade, impotência e vulnerabilidade, diante de um inimigo invisível a olho nu, desconhecido e potencialmente letal – a Covid-19 (SARS-CoV-2).
Nele, também, Eleny ensina pela Palavra de Deus como caminhar com Ele em meio à dor e ao sofrimento, lembrando-nos do Seu poder, misericórdia e amor por nós!
Meu desejo é que você, como eu, profissional da saúde, encontre ESPERANÇA lendo este livro e meditando nele, em meio às trevas e dias maus em que vivemos hoje, tirando os olhos de si mesmo e desta vida e colocando-os naquele que tem o controle de todas as situações e poder sobre a vida e a morte nas suas mãos, ‘...olhando para Jesus, autor e consumador da nossa fé’ (Hebreus 12.2)”.
O livro Linha de Frente está sendo oferecido em formato de e-book, de maneira gratuita, temporariamente. Estão sendo levantados recursos financeiros para imprimi-lo para distribuição aos profissionais da saúde. Você pode entrar em nosso site e fazer sua doação e também a encomenda para a distribuição em hospitais de todo o país, levando o conforto e a esperança aos que estão lutando na linha de frente.
• Eleny Vassão de Paula Aitken, capelã hospitalar há 38 anos, diretora geral da Associação de Capelania na Saúde (ACS), capelã-missionária pelo Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil; especializada em Cuidados Paliativos, mestre em Aconselhamento Bíblico e autora de 33 livros.
>> Conheça também o livro Capelania Hospitalar e Ética do Cuidado, de Maria Luiza Rückert
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