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Opinião

Humano.2. Uma transição evolucionária?

Por Ageu Heringer Lisboa
 
O tempo da presença humana na terra é muitíssimo recente comparado ao de outros animais. Desde o idílico Éden, nós, humanos, admiramos o entorno e olhamos para o céu e fazemos perguntas. Belezas atraentes, a exuberância de vidas, imensas forças dos raios, a profundidade dos mares, a poesia e espiritualidade do céu marcam nosso psiquismo instintivo e programado para aprendizagem.
 
Mesmo sendo um dos mais frágeis dos seres vivos, descobrimo-nos com poderes especiais de interferir no ambiente. A potência intelectiva, cognitiva e criativa de nosso cérebro reflete o que a narrativa de Gênesis diz sobre nossa imagem e semelhança do Criador. Dá para imaginar quantas possibilidades se abririam para nossa espécie com tal potência de vida da qual fomos dotados?
 
Infelizmente, no Éden mesmo, sem nenhuma variável externa nem condicionamento prévio a interferir na subjetividade do casal primordial, ocorreu algo que continua acontecendo: a tentação do conhecimento e poder ilimitados, sem restrição a nenhuma autoridade. O delírio da autonomia radical frente ao Real resultou na Queda.  A ferida narcísica marcou para sempre a humanidade. Um mal-estar permanente nos acompanha desde então.
 
Expulsos do útero Éden, nascemos para a História com a tarefa de sermos cuidadores responsáveis do ambiente, o que incluía a nomeação das coisas. Assim surgiu o trabalho de observar, examinar, diferenciar, classificar, ordenar e nomear, próprio do espírito científico.  Animais, plantas, rios, fenômenos naturais e tudo o mais passou a ser objeto de investigação e conhecimento sobre o que há na terra, nos mares e no espaço além.
 
Saindo da pré-história, caminhando com os coletadores e nos fixando em vilas com os agricultores, registramos em pedras e grutas costumes, ritos, símbolos.  Com o advento da escrita deu-se um salto na forma e qualidade dos registros do vivido. Os humanos são naturalmente seres de cultura.
 
Chegando aos laboratórios de nosso tempo, temos incalculável soma de conhecimentos que se materializam em inventos e no modo como construímos cidades, nos alimentamos, nos comunicamos. A cultura interfere no biológico. O modo de concepção da vida conheceu inovações. Hoje, milhares de pessoas nascem de concepção não tradicional, sem o intercurso sexual de homem e mulher, mas por meio de inseminação artificial, útero e sêmen de terceiros. E já se tem projeto de incubadeira humana1
 
Descoberto o código da vida com a decifração do genoma humano, tem-se os avanços das neurociências, a criação de órgãos humanos em impressores 3D. Quantos de nós já usamos próteses e órgãos artificiais, coração, fígado, rins e outros órgãos? Com os desenvolvimentos da Inteligência artificial (I.A.), alguns cientistas e inventores afirmam ser possível desejar o que é tido como o último limite, o domínio sobre a morte, com a eternização técnica do humano. Um expoente deste sonho (ou delírio?) é o engenheiro e inventor Ray Kursweill e sua máquina espiritual2.
 
Novas técnicas médicas combinadas com fármacos possibilitam a redesignação cirúrgica do sexo. Milhares de homens e mulheres transsexualizam-se no ocidente a cada ano. Explodem os debates sobre bioeticidade e direitos humanos. Novos sujeitos sociais afirmando novas subjetividades. Inquietação nas academias, famílias, igrejas e parlamentos. Acirram-se os debates sobre o estatuto do humano desde o ser embrionário até seu fim natural. Ou com eutanásia consentida?
 
 
Nossas questões triviais encontram-se nas nuvens, “no ar”, em códigos informacionais. Tudo na natureza fala, como sabemos através de Jó, Salmos, Rm 8. Somos constituídos de informações genéticas e simbólicas. Agora, disponíveis no Google. Questões inéditas emergiram devido ao “sucesso” humano em manipular a natureza a ponto de termos condições materiais objetivas de explodir o planeta e dar fim a tudo. O estoque de bombas nucleares não para de crescer.
 
No âmbito das comunicações, o desenvolvimento tecnoeletrônico e acesso massivo a dispositivos trouxe congestionamentos virais, excessos de lixo e bobagens, espaços para criminosos, ameaças à democracia.
 
Jacques Ellul (1912-1994), filósofo, jurista teólogo francês, autor pioneiro no trato de questões da relação da tecnologia e os humanos, esclarece que a técnica é fruto do processo civilizatório e que aporta importantes utilidades aos humanos. Não se trata de sermos contra seu desenvolvimento, nutrindo uma tecnofobia, nem deter seu contínuo desenvolvimento, mas saber que este alcançou um estágio em que o faz independentemente do controle humano. Ellul deixa uma pergunta: O homem fica mais humano graças às técnicas? (Barrientos, 2009, p.21,223).
 
Temos a tentação totalitária de governos e tendência à impessoalidade desde a Torre de Babel. E podemos correlacionar a massiva e onipresente utilização de dispositivos eletrônicos com aumento de transtornos afetivos, emocionais e violências? Está ocorrendo a morte dos afetos? Maquinização dos relacionamentos? Creio que, em parte, sim! Já temos robôs terapeutas e pastores. Teremos igreja com avatares num mundo paralelo? Infelizmente, parece que a Besta tem muitos seguidores.
 
Ellul valoriza a palavra em oposição ao culto da imagem e da emoção que ocupou o lugar da ideia, do rigor do pensamento lógico. Da exegese bíblica. Do recolhimento meditativo.
 
 
Noticiários têm revelado dados de centros de pesquisa em saúde mental analisando impactos dos dispositivos midiáticos na saúde mental da população. O quadro é muito preocupante correlacionando altos índices de transtornos emocionais e cognitivos na população infantil e juvenil e conectividade em redes sociais. Percebe-se o poder de sedução que exercem, atraindo e fixando pessoas num mundo paralelo. Neste universo social fake, sem regras, pedófilos, ativistas de seitas religiosas e ideológicas perversas capturam mentes incautas e incultas. Destilam venenos, ódios, desinformação, falsa ciência, ideologias opressivas e nihilismo ao mesmo tempo que promovem o consumismo e antivalores.
 
Mães e pais estão perdendo o poder de influenciar seus filhos numa direção saudável, esperançosa e construtiva. Muitos destes pais e avós estão eles mesmos como que hipnotizados diante das mídias digitais, de jogos, de twitadas e instagramas bem embalados que promovem uma cultura do narcisismo, o culto de celebridades ocas, sorriso montado e imagem maquiada. Uma massa de cidadãos sem cultura histórica e filosófica mínima, analfabeta teologicamente, não tem os necessários filtros cognitivos e aparato crítico de leitura da realidade. Em cima disto o poder das máquinas digitais dirigidas pela mão invisível do mercado fatura alto.
 
As Big Techs manipulam a realidade política, as bolsas de valores e nossos desejos. Yuval Harari autor de Homo Deus, entre outros analistas da cultura discute a perda do nosso pressuposto livre arbítrio diante do poder dos algoritmos que decifram nossos interesses e hábitos, histórico de saúde e de consumo, acompanham nossos relacionamentos e deslocamentos. E sem que peçamos nos sugerem isto e aquilo enquanto navegamos na internet. Bonzinhos? Vítimas de sites de relacionamentos sabem como é a coisa. Daí a importância de legislação que enquadre e discipline este campo anômico minado. Um poder que afeta diretamente o campo simbólico, que interfere na subjetividade humana, que impulsiona jogos perversos, que desperta paixões e ações de massa contra a democracia não pode ficar livre de controle. A sociedade tem direitos acima do interesse de qualquer outra entidade. Recentes violências mortíferas perpetradas por adolescentes revelam um mal difuso regado pelas redes.
 
Na época de tantos meios de comunicação a incomunicação só aumentou. Tempo da pós-verdade. Milhares de canais, filmes, vídeos, sites, tráfego congestionado com imagens, informações, receitas, cultos, sexo, terrorismo, arte, entretenimentos. Uma confusão das línguas e sinais que requerem a devida tradução. Tema de que se ocupou o filósofo cristão Jean Baudrillard4.
 
Diante de forças anômicas, disruptivas e impessoais é necessário e possível um contraponto saudável e esperançoso, ensina o Dr. Carlos J Hernandez5. Ele insiste no poder transformador e integrativo das práticas devocionais, como condição para a saúde psíquica.
 
Concluindo, lembro do signo da Besta, o numeral 666, no Apocalipse, que remete ao diabolein, ao destrutivo impessoal, ao fracasso do eu autônomo. A artificialidade da prótese e artifícios de querer enxertar-se na vida (Bíblia Estudos Conselheira, p.2029). O que vence a besta se relaciona de modo íntimo com cada um dos seus a quem nomeia e concede uma chave de acesso particular, uma pedrinha branca sobre a qual está escrito um novo nome, símbolo da verdadeira intimidade e comunhão (Ap. 2.17).

Notas
1. O cientista e pensador britânico J.B.S. Haldane cunha o termo “ectogênese” e prevê que em 2074 somente 30% dos nascimentos se dariam da maneira convencional. É possível bebês nascerem através de úteros artificiais? | Super (abril.com.br)
2. A era das máquinas espirituais Ray Kurzweil Aleph, 2007 - 509 páginas.
3. Seminário Brasileiro sobre o pensamento de Jacques Ellul / Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras. -  Araraquara : 2009. Jorge Barrientos Parra.
4. A transparência do mal: ensaio sobre os fenômenos extremos | Campinas; Papirus; 1990. 185 p. | LILACS | EMS-Acervo (bvsalud.org)
5. Carlos José Hernandez, proponente de prática de vida estruturada numa lógica contemplativa. Autor do Leiamos a Bíblia, guia de leitura meditativa das Escrituras (Ed. Grafar) e do O lugar do Sagrado na Terapia (Nascente – CPPC).

  • Ageu Heringer Lisboa, psicólogo, 73 anos, Campinas.

REVISTA ULTIMATO | MAMOM VERSUS DEUS
 
Ao todo, Jesus contou 38 parábolas. Mais de um terço delas trata de assuntos ligados a posses e riquezas. Há cerca de quinhentos versículos sobre oração na Bíblia. Sobre dinheiro e posses são mais de 2.300.

As Escrituras se ocupam desse assunto porque ele é crucial para a fé. Trata-se de onde colocamos nossos afetos e a quem seguimos. Jesus adverte: “Onde estiver o seu tesouro, aí estará também o seu coração” (Mt 6.21).

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