Prateleira
28 de março de 2016- Visualizações: 3324
comente!- +A
- -A
-
compartilhar
A literatura e a maré da contracultura
Era 1980. Um ano depois da reprovação no vestibular para medicina na UFMG, em Belo Horizonte (era grande a vontade de sair da casa dos pais), e de um semestre fazendo curso de datilografia obrigada por minha mãe, ingressei na UFV (Universidade Federal de Viçosa) no curso de Nutrição.Imediatamente me juntei à turma da ABU (Aliança Bíblica Universitária). Viçosa sempre teve um grupo de ABU relativamente ativo. Um professor, amigo da família, a quem eu chamava de tio, recebeu na década de 60, quando ele ainda era estudante, a assessora pioneira do ministério estudantil brasileiro, Ruth Siemens.
O grupo era um espaço de refúgio, de desafios e de missão. Amigos chegados, estudávamos a Bíblia, orávamos, compartilhávamos dificuldades e falávamos (muito mais do que praticávamos) sobre evangelização. Lembro-me de que, três anos depois, numa decisão precipitada e que acabou não vingando (graças a Deus) resolvemos acabar com o grupo, já que na prática não comunicávamos claramente com os amigos a respeito de Cristo.
Eram outros tempos... Na nossa Universidade em 1980 aconteceu a primeira greve estudantil após a revolução de 64. Muitos de nós perdermos o semestre letivo, um amigo que se envolveu intensamente no movimento grevista adoeceu emocionalmente, a tensão entre os estudantes e os adultos das igrejas que frequentávamos provocou alguma dissensão e quebra de comunhão.
Vários de nós desejávamos mudanças na sociedade e compartilhávamos dos sonhos de alguns movimentos. Não só na área político-social, mas também das formas de convivência, de novas alternativas de consumo (dois amigos do grupo se filiaram também a grupos dos “pode crer”), de quebra de padrões tidos como os modelos “corretos”. O grupo era bem diverso, mas havia em comum um desejo muito forte de buscar coerência e radicalidade na relação da nossa fé com o modo como vivíamos.
A secretaria de literatura de nosso grupo era muito ativa. Recebíamos com alegria todos os livros publicados pela ABU Editora. Li muitos deles, inclusive os de C.S. Lewis, que – a esta época – integravam o catálogo da ABU. Cristo é o Senhor, de Dionísio Pape, foi estudado e assimilado pelo grupo.
O livro que mais me influenciou foi “Contracultura Cristã” (seu título atual é A Mensagem do Sermão do Monte), de John Stott. Ainda tenho meu exemplar, com as páginas amareladas e todo marcado. O desenvolvimento radical que o autor fez das "Bem Aventuranças" e do seguimento a Jesus mostrou que a vivência do Evangelho poderia ser muito mais do que aquilo que eu vivia. Seu chamado à simplicidade, à autenticidade e à partilha me influencia ainda hoje.
Tenho consciência de como fui impactada pela leitura dos livros da ABU – no meu tempo de universidade e posteriormente. Sou grata por que eles ajudaram a formar meu caráter, a vencer crises de incredulidade e a reforçar e ampliar minha esperança. Relembrar disto, por ocasião dos 40* anos da ABU Editora, me faz retornar àquela época de juventude e mais uma vez renovar os compromissos assumidos. E desejar que a ABU continue influenciando jovens por meio da literatura.Nota:
* Texto escrito em 2015 por ocasião dos 40 anos da ABU Editora, com o título “A literatura e a contracultura ontem e hoje”.
Leia também
Em 1975 nascia uma editora. E daí?
Cultura, contracultura e livros
Quarentonas, juntas
Imagem: Toni Stennie/Freeimages.com
28 de março de 2016- Visualizações: 3324
comente!- +A
- -A
-
compartilhar

Leia mais em Prateleira
Opinião do leitor
Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Ainda não há comentários sobre este texto. Seja o primeiro a comentar!
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta é necessário estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o login ou seu cadastro.
Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
Assuntos em Últimas
- 500AnosReforma
- Aconteceu Comigo
- Aconteceu há...
- Agenda50anos
- Arte e Cultura
- Biografia e História
- Casamento e Família
- Ciência
- Devocionário
- Espiritualidade
- Estudo Bíblico
- Evangelização e Missões
- Ética e Comportamento
- Igreja e Liderança
- Igreja em ação
- Institucional
- Juventude
- Legado e Louvor
- Meio Ambiente
- Política e Sociedade
- Reportagem
- Resenha
- Sessenta +
- Série Ciência e Fé Cristã
- Teologia e Doutrina
- Testemunho
- Vida Cristã
Revista Ultimato
+ lidos
- Quem são e o que querem os evangélicos na COP30
- Dicas para uma aula de EBD (parte 1): Planeje a aula e o seu preparo pessoal
- Homenagem – Márcio Schmidel (1968–2025)
- Ultimato na COP30
- Vaticano limita a devoção a Maria na Igreja Católica
- Com Jesus à mesa: partilha que gera o milagre
- Acessibilidade no Congresso Brasileiro de Missões (CBM) 2025
- Sociedade Bíblica do Brasil dá início ao Mês da Bíblia 2025
- Geração Z – o retorno da fé?
- Dicas para uma aula de EBD (parte 2): Mostre o que há de melhor no conteúdo
(31)3611 8500
(31)99437 0043
Deus existe e a porta não está fechada
Memorial John Stott
O prejuízo do não-sofrimento
Que direito tem o preso de ouvir o evangelho?





 copiar.jpg&largura=49&altura=65&opt=adaptativa)


