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Opinião

X-Men: Apocalypse

Tenho tido o privilégio de escrever sobre cinema e teologia para o portal Ultimato desde 2014. Sempre tenho comentado sobre filmes (e até o momento, uma vez sobre uma série televisiva) dos quais gostei (e gosto). Porém pela primeira vez vou comentar sobre um filme do qual não gostei. No caso, “X-Men: Apocalypse” (Bryan Singer, 2016). Adiante vou esclarecer esta afirmação inicial.

Os X-Men constituem um dos mais queridos grupos de super-heróis do universo Marvel. Foram criados em 1963 por Stan Lee, o mago dos quadrinhos da Marvel, e Jack Kirby, seu parceiro na criação da arte de muitos dos personagens do universo Marvel. O título original deles é “The Uncanny X Men”. A palavra “uncanny” tem o sentido de “estranho”, “esquisito”, “incomum”.

Realmente os X-Men são esquisitos: um deles (Hank Mackoy, o Fera) virou uma espécie de lobisomem de pelo azul, com habilidade e força muito além de qualquer ser humano normal. Outra (Ororo Munroe, a Tempestade) controla os fenômenos climáticos. O mais conhecido de todos é Logan (não se sabe seu sobrenome), que tem uma capacidade que eu gostaria de ter: um fator cura superacelerado, que faz com que, entre outras coisas, seu envelhecimento seja extremamente lento. Ele foi submetido a uma experiência secreta do exército americano, e teve seu esqueleto recoberto de adamantium, que no universo Marvel é um metal indestrutível. Some-se isto ao seu fator cura, e o resultado é um homem virtualmente invulnerável. Mas eu não queria ter as garras retráteis do Wolverine, não! O líder dos X-Men é o Professor Charles Xavier, um telepata superpoderoso. Eles enfrentam tanto a incompreensão do resto da humanidade, que os teme, e de outros mutantes que, ao invés de buscarem convivência pacífica com quem não tem habilidades mutantes, preferem o caminho da guerra. O líder dos mutantes do mal é Max Eisenhardt, que mais tarde, para fugir de perseguições assumirá uma identidade falsa, com o nome de Erick Lensher, e depois, assumirá o nome “artístico” de Magneto, devido ao seu poder de controlar qualquer tipo de metal.

Eis aí elementos para histórias interessantes. Os X-Men, conforme há pouco afirmado, foram criados há pouco mais de 50 anos, no início da década de 1960. Naquele período conturbado, auge da Guerra Fria, tensões raciais explodindo nos Estados Unidos, medo de ataques nucleares da parte da União Soviética, surge um grupo de super seres, com poderes por conta de mutações genéticas. Estes super seres são metáforas daquele tempo tenso: o Professor Xavier é uma figura do Rev. Martin Luther King Junior, com sua proposta de convivência pacífica entre diferentes (negros e brancos), enquanto Magneto é uma figura de Malcon X, com sua proposta de luta armada contra os opressores brancos. Os X-Men são “esquisitos” porque são minoria, são diferentes. Por isso são perseguidos, tais como os cristãos no Império Romano ou atualmente em um país de maioria muçulmana. Sua luta é para serem aceitos, e não serem vistos como aberrações ou monstros. O que cada integrante do grupo quer é conviver pacificamente com os demais. Neste sentido, X-Men é uma grande parábola sobre a importância da alteridade, um apelo à convivência pacífica e respeitosa com o diferente, e um libelo contra uma atitude beligerante diante do “outro”.

Todos estes elementos fornecem material para histórias muito boas. A fama dos X-Men é merecida. As adaptações para o cinema de estórias da equipe existem já há alguns anos. E dois dos melhores, talvez os melhores, filmes de super-heróis dos últimos anos, são exatamente os dois últimos da franquia. No caso, o ótimo “X-Men: First Class” (no Brasil, traduzido erradamente para “Primeira Classe”, quando deveria ser “Primeira Turma”, uma referência à escola do Professor Xavier para alunos mutantes), de 2011, e o mais que ótimo “X-Men: Dias de um futuro esquecido”, de 2014, do mesmo Bryan Singer.

Estranho como o mesmo diretor de um filme maravilhoso em todos os aspectos como “Dias de um futuro esquecido” tenha errado tanto a mão em seu trabalho seguinte. Acho que o principal problema de “X-Men: Apocalypse” está no enredo, cheio de furos, como um queijo suíço. A estória não é boa. No filme, En Sabah Nur, que mais tarde será chamado de Apocalypse (com “y” mesmo), que viveu no Egito há cinco mil anos, era adorado como uma divindade na terra. Alguns egípcios desgostosos com o que chamam de “falso deus”, conseguem prendê-lo dentro de uma pirâmide. Cinco mil anos depois, por um acidente, a tumba em que se encontrava foi aberta, e ele acorda. O filme não explica a origem nem os poderes de En Sabah Nur. Quem conhece os quadrinhos sabe que ele é um mutante que adquiriu poderes extraordinários quando teve contato com tecnologia alienígena, de uma nave que caiu em nosso planeta. Mas nada disso é mostrado no filme.

O Apocalypse do filme é um vilão sem graça. Não tenho paciência com vilões megalomaníacos que querem dominar o mundo. Apocalypse, vivido pelo ator guatemalteco Oscar Isaac (irreconhecível debaixo de uma maquiagem pesadíssima), repete frases como “Everything they built will fall, and from the ashes of their world, we’ll build a better one” (“Tudo que eles construíram cairá, e das cinzas do mundo deles nós faremos um melhor”). Mais clichê, impossível.

A Dra. Moira MacTaggert (a grande paixão do Prof. Xavier) explica aos X-Men que En Sabah Nur foi conhecido como por muitos nomes, em muitas culturas, e que sempre era precedido por quatro servos poderosos (não tanto quanto o mestre). Conforme a Dra. MacTaggert, o Apocalipse bíblico extraiu a figura dos quatro cavaleiros dos relatos das aparições de En Sabah Nur. Mas ela não dá nenhum detalhe de nenhuma cultura onde isto teria acontecido.

Mas o Apocalypse desperta de seu sono milenar, e, sem motivo, sem razão, sem causa, resolve destruir o planeta. Este é outro grande “furo” do enredo. Não há nada que explique porque o Apocalypse quer destruir o mundo. Aí, claro, os X-Men lutarão contra ele. O final é previsível. Ainda bem! Ele é derrotado, e assim poupa o planeta de sua arrogância sem fim.

Pois bem, se o filme não é bom, por que gastar tempo comentando a respeito? Por uma única razão: na luta do Apocalypse contra o Professor Xavier, o vilão diz que a terra será dos que têm mais poder. Xavier retruca, dizendo que os que têm mais poder precisam proteger os que não têm. Eis aí duas visões da vida: os que têm poder, e os que não têm. Apocalypse defende uma visão extremada, distorcida e deturpada da teoria da evolução (nos quadrinhos, os mutantes não são conhecidos como “homo sapiens”, mas como “homo superior”). A teoria da evolução parte do pressuposto que os mais aptos sobreviverão. Na visão do Apocalypse, os mais fortes precisam destruir os mais fracos. Por quê? Para quê? Por nada e para nada. Apenas para mostrar que são mais fortes. O Apocalypse e seus lacaios não ganharão absolutamente nada destruindo o mundo. Mas querem fazê-lo assim mesmo. Em forte contraste, a fala de Xavier aponta para uma visão de solidariedade: quem tem é responsável por quem não tem. Quem pode mais, é responsável por quem pode menos. Xavier responderia com um “sim” à pergunta que Caim fez ao Criador: “eu sou sim guardador do meu irmão”.

Contra esta perspectiva de demonstração arrogante de poder, vem à mente a lembrança de uma palavra que um dia foi dita para uma multidão formada por pessoas simples e pobres: “os mansos herdarão a terra”. Não os poderosos, não os sanguinários, não os violentos, não os grandes. Mas os pequenos e fracos. Afinal, conforme disse aquele que talvez tenha sido o principal intérprete dos ensinos daquele que disse que os mansos herdarão a terra, “o poder se aperfeiçoa na fraqueza”.

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Nem Monge, Nem Executivo
É professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da PUC Minas, onde coordena o GPRA – Grupo de Pesquisa Religião e Arte.
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