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Opinião

Uma valsa da vida em três tempos

É quase uma valsa. Trata-se de uma só música, de compasso ternário. Pode-se simplesmente ouvi-la. Mas, envolvidos por ela, podemos também dançá-la, como expressão de gratidão. Nela somos apenas conduzidos, pelo par mais ideal e desejável do salão. Porém, ainda que envoltos, podemos ouvir os pratos que a intensificam e as cordas que a abrandam, e fazem-na a um só tempo vibrante e tão suave.

É bom explicarmos aos menos inspirados porque resolvemos contar esta nossa história. Neste curto espaço de tempo em que valsamos, temos a impressão de que o impecável par que nos conduz zela a um só tempo pela pessoalidade e pela comunidade, pelo confronto e pelo depor das armas, pela permanência da graça e pelo redirecionamento para o serviço e o amor, que é movimento em direção ao outro. Assim sendo, queríamos deixar tocar o que ele para nós tocou e dançou.

Lembremo-nos do encontro do valsante com a samaritana. Ele conhecia a sua dor, foi no ponto em que ela doía, revelou-se à mulher como o par perfeito para tomá-la em seus braços. E ela, depois desta dança e explodindo de alegria, foi correndo aos samaritanos para que também eles escutassem a sua música. Estes o encontraram e, pela narrativa, não temos tantos detalhes do encontro. Mas, com eles, dançamos ao escutar: “Já não é pelo teu dito que nós cremos; porque nós mesmos o temos ouvido, e sabemos que este é verdadeiramente o Cristo, o Salvador do mundo” (Jo 4.42).

A fila dos que com ele bailaram parece seguir compasso semelhante. Ouçamos o que diz a Paulo: “Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões” (At 9.5). O duro confronto revela a dureza do confrontado, em seguida coberto pela maravilhosa graça. A pessoalidade do encontro torna-se desejo de que outros o encontrem: “Eu de muito boa vontade gastarei, e me deixarei gastar pelas vossas almas (2 Co 12.15)” – diz o apóstolo aos irmãos de Coríntios.

E tantos outros podemos enumerar. À pergunta de Natanael: “Pode vir alguma coisa boa de Nazaré?” – Felipe responde como quem já passou pelo processo regenerador: “Vem, e vê” (Jo 1.46). Pedro, o tão valente dos discípulos, o exímio pescador, o que jamais abandonaria o mestre, vê-se confrontado frente ao seu pequeno amor: “Disse-lhe terceira vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Simão entristeceu-se por lhe ter dito terceira vez: Amas-me? E disse-lhe: Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo. Jesus disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21.17). E a dança parece ser sempre a mesma, a música não para de tocar, graças ao bom Deus. Não poderia ser diferente esta minha história.

Chego ao CEM em fevereiro de 2011. As voltas e reviravoltas para chegar a um seminário missiológico já dariam um bom concerto. Fiquemos com o início da vida ali. Moça da capital chegando ao interior, recém mestra em estudos literários, vinda de uma igreja de estudo bíblico sério e sólido, com uma bagagem de referências acadêmicas e teológicas que ela imaginava pesada, mas só ele sabia o quão leve era – quase como a corrida atrás do vento descrita em Eclesiastes. Sem a mala nas mãos, a moça era tão humana quanto todos os que deixaram suas histórias para que ela com eles aprendesse: era frágil, buscava o belo par, tentava aprender a sua dança, acompanhava os passos que ele fazia, ouvia a música com atenção, esforçava-se.

Achou um absurdo ter aulas em um seminário de preparação para missionários onde os professores não se importavam com pé de página e bibliografia explícita! Estranhou, na editora, como aquele senhor – grande referência para muitos e escritor de inúmeros e eruditos textos – trocava o “l” pelo “r” e errava até mesmo a pronúncia do nome da própria filha! Chocou-se com o fato de o seminário ter uma agência de envio de cristãos para ambientes de perseguição, e cristãos muito jovens ainda! Até que ele lhe deu um espelho e ela se viu. Vestido impróprio para aquela dança. Justo ela, que se achava tão bem vestida! Escuta errada para aquela dança. Justo ela, que tinha ouvidos tão apurados! Pouco impacto na plateia. Justo ela, que se achava um grande exemplo...

CEM, Ultimato e Interserve ajudaram o grande orquestrador a colocar a jovem no ritmo certo para aquela dança. Foram instrumentos para que a bagagem fosse colocada ao lado, e não abandonada. Ele abriu a mala que ela carregava. Separou os melhores vestidos. Não a fez vesti-los, mas sugeriu que ela os emprestasse a outros e até mesmo doasse muitos deles. Ela hesitava, balançava a cabeça, mas percebia que a mala ficava cada vez mais fácil de carregar. Abandonar, portanto, lhe aliviava o peso. Sugeriu, o seu par, que ela jogasse fora também o que não prestava para ela nem para ninguém. Ela não podia entender! Mas, ao abrir sua bagagem refeita, reparou que tudo ficara tão mais organizado e simples de ser manuseado, que era assustadoramente ridículo ela não ter observado até ali como tantas roupas estavam emboladas num só lugar.

A jovem prepara-se agora para deixar a viçosa Viçosa, com alguma bagagem. Ela tem se deixado conduzir pelo seu par. Sabe que ainda outras valsas terá de dançar, tão desafiadoras e belas quanto esta, para a qual ele a convidou nestes últimos três anos. Ou, quem sabe, mais sábio seria dizer que ela nada sabe. Pois, como um dos dançantes já nos disse, “se alguém cuida saber alguma coisa, ainda não sabe como convém saber (1 Co 8.2).” Sendo assim, valsemos juntos! A Deus toda a glória, sempre.

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Mariana Furst é mestre em teoria literária e professora de francês.


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