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Opinião

Uma trilha segura na noite

Para não depender de nossos sentimentos instáveis, de nossa espontaneidade ou talento para facilitar a presença do Espírito

Por Daniel de Lima Vieira

Tish Harrison Warren, ministra anglicana, escreveu seu novo livro, Oração da Noite: para quem trabalha, vigia e chora1, antes da pandemia da Covid-19. Como sugere a resenha do teólogo Brad East, na qual se baseia o texto a seguir2, até parece que a autora sabia o que estava por vir. É uma obra de sagrada melancolia que nasceu de sofrimento, dor e morte: a perda inesperada de seu pai, bem como de dois bebês que não chegaram a nascer. Não propõe regras para a vida. Em suma, não contém técnicas e não oferece garantias. O que ele oferece é uma oração. A oração vem do Livro de Oração Comum, o ofício das Completas. É uma oração que não apenas a autora, mas toda sua família começou a recitar em conjunto todas as noites em seus momentos de provação:

Vela, ó Senhor amado, com os que trabalham, vigiam ou choram nesta noite. Manda que teus anjos guardem os que dormem. Cuida dos enfermos, Cristo Senhor. Dá repouso aos cansados. Abençoa os que estão à beira da morte. Consola os que sofrem. Compadece-te dos aflitos. Defende os alegres. Tudo isso que suplicamos somente por teu grande amor. Amém.

Quando essas palavras, recitadas diariamente pela autora ao amanhecer, penetraram nas feridas de sua dor, eles ganharam vida própria. Elas abriram perspectivas totalmente novas na prática da fé de Warren. Em Oração da Noite, cujos capítulos são estruturados por cada frase sucessiva da oração, ela compartilha o que aprendeu.

O resultado é um exercício sábio, comovente e magistral de teologia contemplativa, escrito para crentes comuns. Nessa perspectiva da caminhada da Igreja ao longo dos séculos, a liturgia e os sacramentos funcionam como uma espécie de âncora para os fiéis, garantindo nosso relacionamento com Cristo por meio de nossa presença corporal uns com os outros e a presença real de seu próprio corpo para e entre nós. Pela repetição dos rituais de adoração, o Espírito nos liga uns aos outros e à nossa cabeça, o Senhor Jesus. E é precisamente a repetição que representa nossa comunhão. Pois não precisamos depender de nossos sentimentos instáveis, muito menos de nossa espontaneidade ou talento, para facilitar a presença do Espírito. A comunhão dos santos forneceu o roteiro, por mais gasto que ele seja. Este script é um registro da vida de Deus com seu povo. Mais do que um registro, é um mapa: como ir daqui para lá. Confiando em Deus e no povo de Deus, portanto, nos mantemos no roteiro litúrgico, no tempo certo e fora dele. Ao fazer isso, encontramo-nos seguindo a trilha dos santos, assim como eles seguiram a Cristo. Nós até fazemos suas orações depois deles. Afinal, o Espírito prometeu fornecer-nos palavras quando as nossas falharem. Uma maneira de ele fazer isso é nos dando as palavras dos fiéis que partiram.



Faz sentido, então, que quando Warren se viu em uma sala de emergência, coberta de sangue e sem saber o que estava acontecendo, ela gritou para o marido, em meio à confusão de enfermeiras e máquinas: “As Completas! Eu quero orar as Completas!”.

Como as dores e perdas de nossas vidas comuns, a escuridão coletiva do último ano foi imprevista e não escolhida. Muitos de nós tivemos melhor sorte, considerando todas as coisas, mas o fardo é amplamente compartilhado. Esse fardo pode ser uma ocasião para espiar a presença de Deus entre nós? Essas trevas podem ser um meio de contemplar a luz de Cristo? Nós pensamos, escreve Warren,

nas práticas espirituais como coisas que assumimos, como ler as Escrituras, orar ou frequentar a igreja. Essas são as partes puramente espirituais de nossos dias. O resto da vida é apenas o que passamos, a matéria inerte do tempo, do acaso e da biografia. Mas muitas vezes as práticas espirituais mais fundamentais e modeladoras de nossas vidas são coisas que nunca teríamos escolhido. As maneiras mais profundas pelas quais encontramos Deus são, frequentemente, em aflição.

As sete festas principais do ano da igreja são, na ordem do calendário, Natal, Epifania, Páscoa, Ascensão, Dia de Pentecostes, Domingo da Trindade e Dia de Todos os Santos. As seis primeiras já passaram. O início de setembro, quando começa o ano da Igreja Ortodoxa Oriental, inaugura a Estação da Criação. O Dia de Todos os Santos é uma celebração da vida e testemunho dos fiéis que modelam para nós um relacionamento com Deus. O Dia de Ação de Graças também pode ser transformado em uma celebração especial no domingo. Tem uma semelhança com a Festa da Colheita no Antigo Testamento e pode ser conectada àquela ocasião festiva quando Deus é agradecido. No último domingo antes do Advento, a igreja celebra a Festa de Cristo Rei ou Festa do Reino de Cristo, uma sequência apropriada para o Advento, que começa com o anseio escatológico pelos novos céus e pela nova terra.

Por ora, já estamos fartos do pão da aflição. Lamentamos por uma pandemia que perdura. Nos alegramos com o avanço da vacinação e com a queda nas taxas de contaminação e morte. Nesse último fascículo trimestral, afirmamos que nossa esperança é que Jesus já está aqui conosco no vale das sombras. Ele sempre esteve. E ele sempre estará, aconteça o que acontecer.

Em Fé, Esperança e Amor,


Notas
1. WARREN, Tish. Oração da noite: para quem trabalha, vigia ou chora; tradução de Guilherme Cordeiro Pires. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil; São Paulo: Pilgrim, 2021.
2. EAST, Brad. To See God in the Darkness: On Tish Harrison Warren’s “Prayer in the Night”. Mere Orthodoxy. Disponível em <https://mereorthodoxy.com/prayer-in-the-night-book-review/>. Acesso em 01 ago. 2021



Daniel de Lima Vieira
• Equipe lecionario.com


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