Opinião
- 13 de fevereiro de 2012
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O que fazer com o carnaval?
Escrevo do Uruguai, a terra do “carnaval mais longo do mundo”, com 40 dias de duração. Sim, desculpem-me Pernambuco, Bahia ou Rio, mas o carnaval também é uruguaio.
Aqui, como em outras partes do mundo, boa parte da igreja evangélica olha com reprovação as festividades em torno do carnaval, em crítica, negação ou simplesmente escape em direção aos seguros retiros espirituais.
É fácil perceber a tensão que existe no olhar da igreja evangélica a certas manifestações e celebrações culturais, como o carnaval e o Halloween, por exemplo, onde é possível encontrar referências cristãs (alguns diriam que diluídas ou distorcidas) em suas origens ou na evolução de sua história.
Também, de modo até surpreendente, há outras festas que geram uma rejeição por parte de certos grupos cristãos, seja ao Natal ou a versões da Páscoa. Argumenta-se sobre suas origens pagãs em um caso, ou a sobre a contaminação com elementos estranhos a fé no outro.
Possivelmente haja riscos ao levantar em tão pouco espaço perguntas sobre essas abordagens. Mas os questionamentos, ainda que sem as respostas, poderiam nos ajudar a pensar um pouco mais sobre o tema.
Apresento aqui três possíveis aproximações de cristãos evangélicos a certas manifestações culturais, seguidas de algumas questões para provocar a reflexão.
- A negação. Seria a atitude de ver em certa expressão cultural somente seus aspectos negativos. Para muitos cristãos, no caso do carnaval esses estariam relacionados com a libertinagem da carne (numa condenação de todos os excessos que ocorrem nesses dias), para outros com as associações com poderes malignos invisíveis, ou ainda com essa autonomia humana rebelde, alegre e independente, que busca desprender-se de qualquer prestação de contas a um Deus criador.
Perguntas: Por que somos rápidos em condenar algumas expressões do pecado e somos omissos em outras? Por outro lado, não seria correto condenar o intento humano de querer ser “livre” buscando a liberdade onde não a encontrará? Seria possível, como em muitos dilemas da vida, condenar o que está mal e afirmar o que está bem? Como escolhemos o que condenamos e o que não? Como faço para discernir o mal do bem em tantas manifestações culturais?
- A visão utilitarista. Seria a aproximação de alguns grupos que veem em certas festas uma oportunidade para se envolver em missão, talvez inspirados em Paulo, fazendo-se de tudo para ganhar a todos, entrando de maneira organizada nos blocos de rua, nas celebrações, mas buscando fazê-lo com uma “linguagem cristã”, com a intenção de alcançar e converter os foliões perdidos.
Perguntas: Obviamente não é ruim querer cumprir o mandato missionário em todas as oportunidades que encontramos, mas não seria ingênuo achar que somente a mudança da linguagem já seria suficiente? Como nos conectamos com os demais? Somos somente aqueles outros que querem “ser diferentes” sem entender bem o porquê de ser diferentes? Qual a verdadeira “eficácia” de anunciar sem ouvir ao outro, sem servi-lo, sem compreendê-lo? Em que medida uma motivação proselitista utilitária mais atrapalha do que ajuda em meu testemunho?
- A ressignificação. Considerando que certas festas possuem uma ligação direta ou indireta com o calendário cristão, ou que se acercam de alguma maneira a valores que, vistos à parte, são identificados ou possuem pontes de contato com as crenças cristãs, como:
a. A alegria e a celebração da arte, da vida e do corpo que Deus nos deu
b. A clara vitória da vida sobre a morte (nos casos óbvios da Páscoa, mas também na origem da festa do Halloween, ou “All Hallow’s Eve”, a véspera do dia de todos os santos, em que os cristãos recordariam os seus “santos”, ou seja, todas as pessoas queridas crentes que já se foram, a sua fé, o legado que nos deixaram, zombando então do pífio poder da morte e celebrando a vitória da vida)
c. O maior milagre de todos, pelo menos para os cristãos, que é a encarnação do Deus Criador em um frágil ser humano. Não há pinheirinho ou Papai Noel que ofusquem a força dessa mensagem encarnacional de esperança e de vida.
Perguntas: Quais são possíveis caminhos para ressignificação de certas festividades populares, para compreendê-las e celebrá-las de uma nova maneira? Como ensinamos aos nossos filhos a prudência, a sensibilidade e a vivência saudável de certas manifestações de nossas culturas? Como evito o sincretismo e a ingenuidade, ao mesmo tempo em que estimulo artistas, cantores, produtores culturais, cidadãos cristãos metidos no mundo, nas diversas esferas e grupos da nossa sociedade, a cumprir seu mandato cultural e missionário?
Aqui não tenho as respostas. Mas sou agradecido por fazer parte de uma comunidade de discípulos que humildemente segue buscando caminhos e respostas para a vida e missão, na cultura e no mundo onde o Senhor nos enviou.
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É casado com Ruth e pai de Ana Júlia e Carolina. Integra o corpo pastoral da Igreja Metodista Livre da Saúde, em São Paulo (SP), serve globalmente como secretário adjunto para o engajamento com as Escrituras na IFES (International Fellowship of Evangelical Students) e também apoia a equipe da IFES América Latina.
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