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Opinião

Quando nenhum outro milagre é necessário

É preciso reconhecer quando um ateu tem a razão (só não vale que ele diga “e quando é que não a tenho?”). Sam Harris, no interessante livro “Despertar – um guia para a espiritualidade sem religião”, dedica um bom espaço a criticar o uso das “experiências de quase morte” por cristãos como uma suposta “confirmação” de sua fé. Um desses livros, escrito por um neurocirurgião (a ironia é que ainda indicamos querer depender da comprovação “científica”), ficou muito tempo na lista dos mais vendidos. Infelizmente Sam tem razão em crer que essas “razões para a fé” são muito populares.

Para mim o problema principal não está na crítica que ateus fazem a essa postura. O maior equívoco é a própria atitude daqueles que “necessitam” de uma evidência externa, que dependem de uma experiência de ir até o céu, ou dos relatos dos que afirmam ter ido, consolados assim pelo maravilhoso conforto de agora poder acreditar, enfim, que Deus ou a vida após a morte são de alguma maneira mais concretos e tangíveis por conta de um milagre de que algo extraordinário tenha sucedido diante de seus olhos ou através da paz que encontram ao ouvir esses relatos.

O elemento comum dessas experiências: querer ir até o céu, como que sentir ou poder apalpar, cheirar, experimentar o divino, êxtases com potencial para alimentar uma malnutrida fé. Ela revela uma dificuldade. Além do fato que esses tipos de “experiências de quase morte” ou vários outros supostos “milagres” (sem querer entrar mais a fundo aqui no prolífico debate sobre o que seria ‘natural’ ou ‘sobrenatural’) poderiam ser explicados de muitas maneiras, o principal problema é querer encontrar uma âncora para a nossa fé em algum outro elemento que não seja o fato da encarnação de Jesus. Seu nascimento, sua vida entre nós, seus ensinamentos, sua vida e sua entrega como a maior mensagem, culminando com sua morte e ressurreição.

Nessa época do ano é costume pensar em algo que, na verdade, teria que ser parte de nossa reflexão diária, como uma lição espiritual importante, todos os dias de cada ano de nossas vidas: o milagre da encarnação, o de que Deus, o Todo-poderoso criador de todo o universo, o Todo Outro, o Todo Diferente, aquele que muitas vezes é incompreensível para as nossas mentes humanas limitadas, decidiu ser o Todo Igual, resolveu vir até nós, como um de nós, para comunicar e ser ele mesmo a mensagem de reconciliação de todas as coisas com o Criador e com os seus propósitos para a criação. Esse é sempre o maior milagre, que Ele veio até nós, a encarnação.

Lembram-se quando a Jesus lhe foi pedido um sinal?

“Então alguns dos fariseus e mestres da lei lhe disseram: ‘Mestre, queremos ver um sinal miraculoso feito por ti’. Ele respondeu: “Uma geração perversa e adúltera pede um sinal miraculoso! Mas nenhum sinal lhe será dado, exceto o sinal do profeta Jonas.” (Mateus 12.38-39).

Ou seja, nenhum outro sinal será dado além desse de que Jesus esteve no nosso meio, viveu, morreu, ressuscitou no terceiro dia. Sua vida, morte e ressurreição, e a pregação (como Jonas o fez em Nínive, ainda que sem vontade) a respeito dessa boa notícia, isso é tudo, todo o sinal que receberão. Jesus veio até nós. Se não crerem nisso, de nada adiantarão as outras muletas que busquem colecionar.

Nessa verdade - a que Deus decidiu vir até nós através de Jesus - toda a missão da igreja precisa se fundamentar. O modelo encarnacional de Cristo é o maior paradigma missiológico que existe. Foi ele mesmo quem o disse, duas vezes. Primeiro, em sua oração ao Pai (“Assim como me enviaste ao mundo, eu os enviei ao mundo”, João 17.18) e depois falando diretamente aos seus discípulos (“Assim como o Pai me enviou, eu os envio”, João 20.21b).

A missão pertence à essência da igreja. A proclamação da Palavra de Deus e o testemunho de sua Palavra são essenciais para todo cristão. Ao mesmo tempo, é necessário fazê-lo a partir dos princípios do evangelho, com respeito e amor pleno para com todos os seres humanos. E não há princípio maior do que a maneira como Jesus decidiu compartilhar essa mensagem de salvação, vindo até nós.

Com respeito e integridade, sempre é melhor viver e comunicar o evangelho de Cristo entre aqueles que professam outras crenças ou o ateísmo. Se o testemunho cristão e a proclamação do reino que chegou em Jesus não se derem através de serviço e da doação (mesmo uma entrega absoluta que chegue até a cruz) temo que nunca tenhamos entendido a encarnação de Cristo. Nunca deveríamos aceitar na missão cristã quaisquer “métodos” enganosos, coercivos ou mesmo violentos. Somente através de palavras e ações que demonstrem um amor de Deus por todos, e na imitação de Jesus Cristo em sua vida entre nós, é que podemos evitar as armadilhas da arrogância, da condescendência e do desprezo pelo diferente.

De uma maneira importante, a encarnação de Jesus nos ensina que é preciso estudar e ler mais, que é necessário compreender melhor cada pessoa, sua perspectiva expressa por ela mesma, assim como cada realidade e contexto. Só assim podemos aspirar ser instrumentos de justiça, reconciliação e paz. O interessante é que quando aprofundo meu conhecimento e compreensão do outro, minha própria fé e identidade são aprofundadas, e não o contrário. Jesus encarnado nos ensina mais do coração de Deus. Jesus no nosso meio também nos ensina mais sobre quem, ao final, deveríamos ser.

Leia também
A encarnação de Cristo, segundo C. S. Lewis (Gabriele Greggersen)  
Evangelização por proximidade  
O processo do milagre (Rubem Amorese) 

Foto: Ashleigh Berger/ Freeiamages.com
É casado com Ruth e pai de Ana Júlia e Carolina. Integra o corpo pastoral da Igreja Metodista Livre da Saúde, em São Paulo (SP), serve globalmente como secretário adjunto para o engajamento com as Escrituras na IFES (International Fellowship of Evangelical Students) e também apoia a equipe da IFES América Latina.
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