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Opinião

Espiritualidade, doença e bem-estar – reflexões a partir do tratamento em oncologia

A espiritualidade segundo as Sagradas Escrituras permite a expressão sincera da dor, da revolta, da frustração, da indignação diante da injustiça e dos infortúnios da vida

Por Lin I Ter, Rebeca G. Nogueira, Andre T. C. Chen e Wu Tu Hsing em nome da Associação Médica Agape

O avanço da ciência e a descoberta contínua de novas tecnologias nas diversas áreas de conhecimento fazem parte de “toda boa dádiva e todo dom perfeito que vem do alto” (Tg 1.17, NVI), concedidos como graça comum por Deus aos homens, feitos à sua imagem e semelhança. Na oncologia, recentes avanços trouxeram terapias que possibilitam aumento de sobrevida quando comparados aos tratamentos prévios.

Mesmo com estes avanços, o processo do adoecimento desperta a consciência da nossa finitude. Questões como o sentido da vida, o porquê da existência do mal e do sofrimento, como também uma multidão de sentimentos emerge da inquietude de uma alma sedenta por respostas, a qual não é saciada pelas novas tecnologias. Uma revisão sistemática com trinta e sete artigos1 mostrou que, em pacientes oncológicos, cerca de 92% apresentaram em algum momento sofrimento espiritual que se caracterizou por algum sofrimento profundo que não físico, um sofrimento profundo em relação a si mesmo ou sofrimento em relação a pessoas próximas. A medicina não tem respostas últimas para essas questões; simultaneamente, ela reconhece a contribuição da busca espiritual para a saúde do indivíduo como um todo.

O que é espiritualidade para a ciência?
Em estudos científicos, não há uma definição clara para “espiritualidade” (seria impossível, na verdade). Um autor define que ela pode ser entendida como “busca pessoal por significado e sentido maior no existir e sua relação com o sagrado e o transcendente, podendo estar vinculada ou não a uma religião formal ou designação religiosa.2

Diversos estudos têm constatado os benefícios da espiritualidade na saúde. Um estudo taiwanês3 avaliou 85 pacientes com câncer em estágio avançado e observou que a espiritualidade atua como um agente mediador que diminui impactos negativos dos sintomas de câncer e reduz o desejo de morte acelerada. Outro estudo da Universidade de Indiana4 com 124 pacientes com diversos tipos de câncer (dentre os principais mama, cólon e pulmão) mostrou que pacientes que tinham níveis elevados de bem-estar espiritual tiveram menores índices de depressão ao longo da evolução. Uma meta-análise (síntese estatística estruturada) de 101 estudos sobre a relação entre espiritualidade e saúde física relatada por pacientes com câncer, mostrou que a espiritualidade está associada a melhor bem-estar físico (capacidade de realizar atividades de vida diária), melhor bem-estar funcional (dificuldades percebidas ao realizar tarefas em casa, no trabalho ou na comunidade) e menos sintomas autorrelatados (fadiga, distúrbios de sono, dor, entre outros).5

Esta consciência da necessidade da espiritualidade integrada aos cuidados oncológicos pode ser entendida como manifestação da revelação geral de Deus, pois Ele pôs no coração do homem o anseio pela eternidade (Ec 3.11).

Espiritualidade centrada em Cristo
Na espiritualidade cristã, a revelação especial de Deus foi manifesta na pessoa de Jesus Cristo, aquele que declarou: “Eu sou o pão da vida. Aquele que vem a mim nunca terá fome; aquele que crê em mim nunca terá sede" (Jo 6.35).

Ele disse ainda: “Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá; e quem vive e crê em mim, não morrerá eternamente” (Jo 11.25, 26).

Fortalecidos em Cristo, mesmo enfrentando grave doença, podemos experimentar o que salmista declara: “O justo jamais será abalado; para sempre se lembrarão dele. Não temerá más notícias; seu coração está firme, confiante no Senhor. O seu coração está seguro e nada temerá” (Sl 112.6-8).

Espiritualidade do lamento
Por mais que tentemos ser fortes como o salmo citado acima, há momentos na vida em que as provações parecem prevalecer contra a esperança. Diante das adversidades, o salmista ora ao Senhor: “Estou encurvado e muitíssimo abatido; o dia todo saio vagueando e pranteando. Estou ardendo em febre; todo o meu corpo está doente. Sinto-me muito fraco e totalmente esmagado; meu coração geme de angústia” (Sl 38.6-8).

A espiritualidade segundo as Sagradas Escrituras permite a expressão sincera da dor, da revolta, da frustração, da indignação diante da injustiça e dos infortúnios da vida, conforme derramamos nosso coração diante de Deus em oração.

O que realmente importa?
Uma pesquisa conduzida em parceria pelos departamentos de Geriatria e Cuidados Paliativos da Universidade de Durham, de Duke e de Chicago6, elencou os fatores considerados importantes na fase final de vida de pacientes, familiares, médicos e outros profissionais de saúde. No estudo, 340 pacientes com doenças cardíacas, pulmonares, renais e câncer terminal declararam:
1. Não sentir dor
2. Estar em paz com Deus
3. Ter a presença da família
4. Manter a lucidez
5. Seguir o tratamento conforme já escolhido
6. Deixar as finanças em ordem
7. Sentir que teve uma vida significativa
8. Resolver conflitos
9. Morrer em casa

Os aspectos mais importantes se resumem a estar em paz com Deus e com o próximo, sentir que a vida valeu a pena, ter sua vontade respeitada na fase final de vida e manter a lucidez para desfrutar os últimos momentos próximo à família e, se possível, sem dor.

Considerações finais
Quando tentado no deserto, Jesus respondeu ao acusador “nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4.1-4), ensinando-nos que, além da comida que fortalece o corpo, precisamos fortalecer o nosso ser espiritual em Deus. Sem dúvida, o alimento é essencial para a sobrevivência e uma boa comida traz alegria. Mas a cilada do Diabo está em transformar uma necessidade legítima em algo absoluto, a ser conquistado a qualquer custo. De modo análogo, no tratamento do câncer, nem só de quimioterapia vive a oncologia clínica, mas de toda a espiritualidade fortalecida em Cristo. A terapia oncológica (que deve ser de excelência) é algo legítimo, mas devemos resistir à tentação de colocar o profissional ou a medicação no lugar indevido, buscando neles o que só Deus pode oferecer.

Nesta vida não é possível obtermos todas as respostas para o porquê do sofrimento. Tentativas de uma explicação simplista correm o risco de incorrer no erro dos amigos de Jó. O próprio Jó não obteve explicações. Para ele, o vislumbre da grandeza de Deus saciou sua alma sedenta: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem” (Jó 42.5, ARA).

Citações bíblicas conforme a Nova Versão Internacional (NVI), salvo quando outra indicação.

Notas
1. Xing L, Guo X, Bai L, Qian J, Chen J. “Are spiritual interventions beneficial to patients with cancer? a meta-analysis of randomized controlled trials following prisma”. Medicine (United States). 1o de agosto de 2018;97(35).
2. Dal-Farra RA, César Geremia I. “Educação em Saúde e Espiritualidade: Proposições Metodológicas Health Education and Spirituality”: Methodological Propositions. Vol. 34. 2010.
3. Wang YC, Lin CC. “Spiritual well-being may reduce the negative impacts of cancer symptoms on the quality of life and the desire for hastened death in terminally ill cancer patients”. Cancer Nurs. 1o de julho de 2016;39(4):E43–50.
4. Kristeller JL, Sheets V, Johnson T, Frank B.” Understanding religious and spiritual influences on adjustment to cancer: Individual patterns and differences”. Journal of Behavioral Medicine. dezembro de 2011;34(6):550–61.
5. Jim HSL, Pustejovsky JE, Park CL, Danhauer SC, Sherman AC, Fitchett G, et al. “Religion, spirituality, and physical health in cancer patients: A meta-analysis”. Vol. 121, Cancer. John Wiley and Sons Inc.; 2015. p. 3760–8.
6. Steinhauser KE, Christakis NA, Clipp EC, McNeilly M, McIntyre L, Tulsky JA. “Factors considered important at the end of life by patients, family, physicians, and other care providers”. JAMA. 15 de novembro de 2000;284(19):2476–82.

  • Lin I Ter (MD, MDiv), membro da Igreja da Vila da Saúde (Metodista Livre Concilio Nikkei), médico oncologista no IBCC, doutorando pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).
  • Rebeca Gama Nogueira (MD), cristã, frequenta a Igreja Monte Sião e está terminando especialização em Oncologia Clínica no IBCC.
  • André Tsin Chih Chen (MD, MDiv, PhD), membro da Igreja Presbiteriana do Caminho; médico radio-oncologista do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, HC-FMUSP; coordenador de Pesquisa Clínica do Departamento.
  • Wu Tu Hsing (MD, PhD), pastor titular da Igreja Presbiteriana de Formosa do Brasil TAI-AN; Professor Doutor da Disciplina de Telemedicina do Departamento de Patologia da FMUSP; coordenador do Centro de Acupuntura do IOT/HC/FMUSP.

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