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Opinião

A parábola do porco-espinho

Por Rubem Amorese
 
Por razões que somente os sábios e antigos conhecem, a floresta desenvolveu um tipo peculiar de animal: o porco-espinho. Conta-se que originalmente ele não era assim, mas seus ancestrais haviam sido amaldiçoados com uma sina terrível, como punição por um gravíssimo erro cometido; e todos os seus descendentes passaram a ter esse problema: a presença de espinhos, no corpo todo. O pior é que esse problema contaminou todos os animais, de modo que, mesmo tendo sua individualidade, cada animal passou a ter um coração de porco-espinho. 
 
Passados muitos anos, encontramos o porco-espinho José vivendo na floresta. José sentia-se solitário e triste. Sua solidão advinha do fato de que não lhe eram possíveis os abraços, porque produziam dor; a dor das espetadas. Ao abraçar alguém, ele não somente feria, como também era ferido. Então, ele evitava e era evitado pelos outros. Os abraços não eram muito populares na floresta.
 
Mas é preciso admitir que essa condição também tinha sua utilidade; servia para afastar presenças indesejáveis. Sim, José espetava (nem sempre com gentileza) quem se aproximasse demais. Havia até aqueles abnegados que se dispunham ao sacrifício de abraçá-lo. Mas José nem sempre estava disposto ao sacrifício. Nesse caso, espetava mais que o necessário, de modo a desincentivar as tentativas de invasão do seu espaço.

Quando você está espetando alguém para afastá-lo, nem sempre está pensando na sua própria solidão. Normalmente, está evitando um desconforto imediato; está pensando apenas no seu bem-estar momentâneo. Mas, com o tempo, começa a anelar pela proximidade, ou reclamar da solidão, sem saber o que fazer. Em muitos casos, a situação se transforma num paradoxo, porque, ao tempo em que sonha com o abraço, você espeta quem se aproxima. 

Que terrível condição! Ser porco-espinho e viver no meio de tantos bichos espinhosos. Quem poderia nos livrar dessa praga? Haveria alguém que pudesse desfazer esse feitiço que se espalhou por toda a floresta?

Certo dia, José ouviu falar de um animal diferente, na floresta. Ele não era um predador como o tigre-espinho, nem um paquiderme-espinho, que fala outra língua e vive distante, cuidando de suas coisas. Era um animal pequeno dócil e gente-boa. Diziam que ele tinha uma lã em volta do corpo que amenizava um pouco as espetadas dos espinhos, no caso de um abraço. E mais: mesmo que fosse ferido, ele não feria de volta; porque ele não havia sido contaminado. Era da paz e do abraço. Gostava de estar junto. 

Animado, nosso José procurou por ele, esperançoso de tê-lo como amigo; e assim, não sofreria mais de tristeza e solidão. Logo descobriu que se tratava de uma família inteira de ovelhas-espinho. Esse, em especial, se chamava Cordeiro. 

Não sabendo onde ele morava, saiu pela floresta gritando: “Cordeirô! Seu Cordeiro!”. 

Você não vai acreditar: o Cordeiro ouviu! Melhor, saiu ao encontro de José. Foi um encontro emocionante. Um dia eu conto essa parte. Mas dali surgiu uma linda amizade. Um relacionamento tão profundo e prazeroso que a solidão do José quase desapareceu. Sim, quase, porque ele ainda não tinha aprendido tudo o que o Cordeiro poderia lhe ensinar sobre como lidar com sua sina. 

Com o desenvolvimento da intimidade, nosso amiguinho foi aprendendo sobre como evitar espetar os outros. Foi aprendendo sobre como sofrer de bom grado as espetadas provenientes dos afetos, das amizades, das proximidades. Foi aprendendo a conviver com seus semelhantes, do modo como convivia com o Cordeiro. Embora as coisas não tivessem mudado substancialmente (refiro-me aos espinhos), já era menos doloroso aquele abraço recebido (ou dado). De fato, ele havia aprendido a suportar com resignação sua condição; e também que os abraços se tornavam menos dolorosos quando eram buscados e aceitos com um coração disposto. Doía menos. 

Mas foi a essa altura que a notícia mais importante lhe foi dada pelo amigo Cordeiro. É que este tinha poderes. Sim, poderes insuspeitos, até então, de transformar um porco-espinho em... adivinha! Em porco-espinho-cordeiro! Que coisa! Como assim?

Verdade! Aprendeu sobre um longo processo de transformação. À medida em que sua amizade com o Cordeiro se fortalecesse e aprofundasse, sua natureza iria sendo impregnada pela do Cordeiro, e os espinhos iriam, pouco a pouco, se transformando em espinhos-sem-ponta. José já havia notado que algo estava acontecendo com ele. Que as espetadas sofridas já não doíam tanto; e que seus irmãos já não reclamavam tanto das suas. 

A notícia mais incrível, entretanto, não era essa. Era que o Cordeiro podia transformar qualquer porco-espinho em seu irmão! Mesmo que ainda não tivesse perdido todas as pontas. E que, no final do processo, ele seria transformado, de uma vez por todas, num belo porco-espinho-cordeiro. Tão parecido com o Cordeiro que seria visto como seu irmão mais novo. E cada animal da floresta poderia, também, ter seus espinhos transformados, de modo a não mais espetar nem ser espetado.

Já pensou? Nunca mais espetar nem ser espetado? Já pensou quantos encontros e abraços? Nossa, isso ia ser o céu! 

Nesse momento, o nosso amigo se deu conta de que isso seria o fim da maldição. Só permaneceria espinhoso quem não quisesse amizade com o Cordeiro.

Então, José correu para os seus parentes e lhes contou tudo o que lhe tinha acontecido. E muitos pediram para ser apresentados ao Cordeiro. E creram nele. 


 

SAUDADES DA IGREJA – COMO É BOM E AGRADÁVEL QUANDO O POVO DE DEUS SE JUNTA | REVISTA ULTIMATO
 
Está claro para todos que a pandemia alterou muitos aspectos da sociedade. O impacto dessas mudanças chega às igrejas, denominações e organizações paraeclesiásticas de diferentes maneiras. Retornar às reuniões presenciais será um desafio! Exigirá esforço e ânimo para vencer as dificuldades internas (dentro de nós) e as externas. Para muitas lideranças pastorais o contexto é desanimador. Há pastores emocionalmente esgotados. Liderar neste contexto complexo de mudança é uma prova cheia de obstáculos.

É disso que trata a matéria de capa da edição de 394 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
 

Saiba mais:
Rubem Amorese é presbítero emérito na Igreja Presbiteriana do Planalto, em Brasília. Foi professor na Faculdade Teológica Batista por vinte anos e consultor legislativo no Senado Federal. É autor de, entre outros, Fábrica de Missionários e Ponto Final. Acompanhe seu blog pessoal: ultimato.com.br/sites/amorese.

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