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Opinião

Walter Brueggemann (1933-2025) – Uma vida dedicada aos estudos bíblicos

Autor prolífico, produziu mais de uma centena de títulos, dentre os quais A imaginação profética e Teologia do Antigo Testamento

Por Carlos Caldas

Obituário


Na primeira semana de junho do ano da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo de 2025 recebemos a notícia do falecimento de Walter Brueggemann. Graças a Deus, teve vida longa – 92 anos, a maior parte dos quais dedicados à pesquisa e ao ensino do Antigo Testamento. O biblista estadunidense de origem alemã (seu pai, um pastor evangélico, era alemão) foi um dos principais eruditos em Antigo Testamento das últimas décadas. Sua influência ultrapassou em muito os limites de seu país natal e de seu idioma materno, pois várias de suas obras foram traduzidas para muitas línguas. Brueggemann tinha dois doutorados: um em Teologia, obtido no prestigioso Union Theological Seminary de Nova York, tendo sido orientado na ocasião por James Muilenberg, que também foi um grande biblista especialista em Antigo Testamento, e outro em Educação, pela St. Louis University. Em 1990 foi eleito presidente da Society of Biblical Literature (“Sociedade de Literatura Bíblica”). Além disso, por oito vezes foi contemplado com o título de Doutor Honoris Causa, o que definitivamente não é pouca coisa. Homenagens mais que justas. Além de professor, era também pastor ordenado da Igreja Unida de Cristo, denominação protestante de matriz teológica reformada e de origem alemã que, salvo melhor juízo, não se faz presente no Brasil.

A carreira docente de Brueggemann se deu em duas instituições de ensino teológico: o Eden Theological Seminary, na cidade de St. Louis, afiliado à mencionada Igreja Unida de Cristo, e no Columbia Theological Seminary, no estado sulista da Georgia, afiliado à Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos – PC (USA). Autor prolífico, produziu mais de uma centena de títulos, dentre os quais destacam-se A imaginação profética1 e sua monumental (quase mil páginas) Teologia do Antigo Testamento2. Sua aproximação das Escrituras se deu pela abordagem conhecida como socio-retórica, que leva em conta uma análise retórica dos textos bíblicos, o que inclui as técnicas de persuasão que o texto traz (através de metáforas, imagens, argumentos etc), mas considerando ao mesmo tempo o contexto no qual os textos foram produzidos, com atenção especial para as tensões sociais e disputas de poder por detrás dos textos e a função destes – em outras palavras, como os textos moldaram a formação da identidade do antigo povo de Israel. Conscientemente correndo o risco de uma super simplificação, pode-se dizer que uma das grandes contribuições de Brueggemann está em apresentar a “imaginação profética” como um desafio para que as comunidades de fé sejam alternativas ao status quo dominante, sejam contraculturais, no sentido de rejeitar estruturas que apoiam qualquer ordem social que seja opressiva e opressora. Neste sentido, Brueggemann foi um crítico contundente da mentalidade que reina na maior parte do evangelicalismo branco dos Estados Unidos, que confunde ser cristão com ser nacionalista, “patriota”, mentalidade que leva a pensar que ser cristão é defender valores de uma ideologia política que é contrária aos princípios do evangelho de Jesus Cristo. Conforme esta mentalidade que Brueggemann criticou, ser cristão é ser xenofóbico, racista, misógino, violento e ignorante. O ensino bíblico aponta para uma direção totalmente diferente.



Outra grande contribuição de Brueggemann está em seu estudo dos Salmos. Todos concordam que os Salmos sempre foram, continuam sendo e sempre serão importantes para a vida litúrgica congregacional e para a piedade pessoal do povo de Deus. Mas nem todos concordam quanto a como interpretá-los. Antes de Brueggemann, a última grande contribuição para o estudo acadêmico dos Salmos foi dada pelo biblista luterano alemão Hermann Gunkel (1862-1932), que trabalhou com a chamada Formgeschichte, “crítica das formas” (ou “crítica da forma”). Gunkel “descobriu”, por assim dizer, as formas literárias dos Salmos, classificando-os conforme seus gêneros, como lamento, louvor, ação de graças, etc. Décadas se passaram até que houvesse outra sugestão à pesquisa sobre os salmos daquelas que nenhum estudo sério pode ignorar, tal como fora a de Gunkel: a classificação feita por Brueggemann dos salmos em três tipos:
• Salmos de orientação
• Salmos de desorientação
• Salmos de reorientação

De maneira criativa e atenta, Brueggemann observou como estes três modelos cobrem momentos diferentes da vida de cada um de nós. Os salmos de orientação são aqueles que apresentam a vida faz sentido, está bem e em ordem e sem crise. Exemplos de salmos de orientação são os que falam da criação, os que exaltam a Torá, que é a orientação de Deus para nossas vidas, os salmos que apresentam reflexões de sabedoria, os que narram a história do povo de Israel e os que expressam confiança em Deus. Já os salmos de desorientação são aqueles que apresentam momentos da vida em que nada faz sentido, como se tivéssemos caído em um poço e parece que não há saída. Nestes salmos, que, infelizmente não têm lugar em nossas liturgias, encontramos expressões de raiva, frustração e desapontamento. São os salmos de lamento (individual ou coletivo) e os salmos penitenciais. Por fim, os salmos de reorientação são aqueles que expressam a experiência de termos sido retirados por Deus do poço no qual caímos. A nota dominante destes salmos é a gratidão pela libertação recebida. Logo, todos os salmos gratulatórios e hinos de louvor enquadram-se nesta categoria.

Estas breves linhas expressam um pouco do muito da contribuição dada por Walter Brueggemann aos estudos bíblicos. Evidentemente muito mais poderia ser dito. Graças a Deus pela vida do Prof. Brueggemann. Que o Espírito do Senhor desperte e intensifique em nós o amor pelas Escrituras e a sabedoria para interpretá-las, tal como foi com Walter Brueggemann.

Notas
1. Há duas edições de A imaginação profética no Brasil: a primeira, de 1983, pelas Edições Paulinas, e a mais recente, de 2025, pela Thomas Nelson.
2. A Teologia do Antigo Testamento de Brueggemann foi publicada no Brasil em 2014, coedição da editora católica Paulus com a evangélica Academia Cristã.


Imagem: Church Anew.
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