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Opinião

Movimento missionário brasileiro – desafios globais e internos para os próximos 25 anos

O avanço alcançado até aqui não pode nos estagnar. Precisamos sempre de renovações em todos os sentidos

Com a colaboração de Analzira Nascimento, Bertil Ekstrom, Cassiano Luz, Délnia Bastos, Durvalina Bezerra, Elizete Lima (Zazá), Lissânder Dias, Mila Kobi, Timóteo Carriker, Valdir Steuernagel

Este artigo faz parte do Especial publicado na edição 416 de Ultimato.

Encorajada pela matéria de capa e pelo 10º Congresso Brasileiro de Missões, Ultimato convidou pessoas envolvidas em diferentes frentes da missão para responderem quatro perguntas sobre o movimento missionário brasileiro. Elas diferem na idade, na experiência e na abrangência de ministérios que realizam.

O resultado é um material muito rico!

Por causa do espaço, o texto da revista é uma versão reduzida do que você encontra neste e em três outros artigos:

Movimento missionário brasileiro – ao longo de tantas décadas há motivos para celebrar? (parte 1)
Movimento missionário brasileiro – a direção e o poder do Espírito Santo (parte 2)
Movimento missionário brasileiro – nem tudo merece ser celebrado (parte 3)

Boa leitura!

Painel – parte 4

Quais são os principais desafios globais e internos que o movimento missionário brasileiro terá nos próximos 25 anos?

Délnia Bastos – A inteligência artificial (IA). Penso na questão ética, na questão pragmática e nos riscos da IA. É coisa muita séria e que já está entre nós com grande intensidade. Exige que nossos especialistas no assunto se debrucem com reflexão de qualidade.

Mas há tantos outros desafios! O aumento da população idosa (ou 60+), o modo de pensar e de trabalhar das novas gerações, a questão migratória, os conflitos armados, o divisionismo (incluindo fake news), o fundamentalismo religioso (daqui e de lá)...

Como desafio interno, sempre teremos a questão da continuidade: o avanço alcançado até aqui não pode nos estagnar. Precisamos sempre de renovações em todos os sentidos.

Timóteo Carriker – Reconhecer a crucial importância – inclusive diante da crise planetária – do cuidado da criação como parte fundamental e essencial da missão de Deus (Ap 21.1) e consequentemente da missão da Igreja (Ef 2.22-23; Cl 1.20-23).

Analzira Nascimento – Durante alguns anos, falamos de povos não alcançados e creio que essa estratégia deve continuar sendo uma meta, mas precisamos também estar sensíveis ao movimento global do Espírito Santo, agindo intencionalmente e soberanamente nesses deslocamentos populacionais ao redor do mundo. As diásporas também estão alterando algumas fronteiras de prioridades. Para os desafios internos, penso que as organizações missionárias deveriam estar mais dispostas a refletir em seus modelos de envio, que geralmente são respostas para realidades vividas em outro século. Missionários deveriam ser mais estadistas e capacitados para exercer uma prática missional dialógica.

Durvalina Bezerra – Desafios globais são muitos, mas quero apontar as mudanças políticas, ideológicas, ambientais e tecnológicas. Os desafios internos são uma volta ao denominacionalismo e sectarismo, uma ênfase em uma teologia mais dogmatizada do que bíblica. Algumas tendências para o liberalismo ou para o fundamentalismo. Uma teologia mais secularizada do que espiritual, um evangelho mercantilista que anula a cruz de Cristo, a pregação de uma graça barata que desconhece o preço do discipulado. Sem buscar o equilíbrio, sinal da sabedoria divina, a Igreja não cumpre sua missão, na perspectiva de Lausanne: “O evangelho todo, para o homem todo e para todos os homens”.

Outro desafio é a unidade da Igreja. Desejamos ver a igreja brasileira confessando a frase atribuída a Rupertus Meldenius e popularizada por Agostinho de Hipona: “No essencial, a unidade; no não essencial, liberdade; e em tudo, o amor”. Assim, afirmaremos a oração de Jesus: “Para que todos sejam um, Pai, como tu, és em mim e eu, em ti; sejam eles em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo.17.21).

Bertil Ekstrom
– Creio que o maior desafio é o da cooperação entre denominações e agências missionárias, tanto nacionais como estrangeiras. A visão holística da missão, numa definição correta e bíblica da missão integral, ao exemplo do Mestre Jesus Cristo, continua sendo outro desafio para a igreja brasileira. A igreja, que é enviada para dentro da sociedade e para fora ao mundo todo, precisa rever constantemente sua atuação tanto local como global. Continua sendo insatisfatória a influência evangélica na sociedade brasileira. A esperança está numa nova geração de pastores e líderes que priorizam o reino de Deus e não suas “logomarcas”.

Elizete Lima (Zazá) – As crises humanitárias e climáticas criam dores e feridas enormes e não podemos ignorá-las.

As teologias bélicas e armamentistas que fragmentam, magoam e não se identificam com Cristo.

O evento ético da inteligência artificial e das fake news precisam ser considerados seriamente. Mentira continua sendo mentira, engano continua sendo engano, e é preciso buscar discernimento, sabedoria e graça de Deus para discernirmos os sinais do tempo.

Unidade na diversidade, seremos conhecidos pelo amor, justiça e integridade.

Questões sérias da saúde mental. Como acolher, ser comunidades terapêuticas, transformadoras e reconciliadoras no meio da dor e do sofrimento.

O valor e reconhecimento das diferentes vozes na missão de Deus e da nossa identidade missionária identificada com Cristo.

Lissânder Dias
– Eu acho que o movimento missionário brasileiro ainda precisa amadurecer em muitos aspectos relacionados a como o mundo é. Sinto que ainda temos uma dose de ingenuidade ou falta de conhecimento. A formação missionária precisa ser mais realista, não banalizando a complexidade das sociedades. Quero citar uma frase de Matthew Niermann, diretor de pesquisa global do Movimento Lausanne: “Em tempos como este, a tarefa diante de nós não é apenas proclamar Cristo, mas conhecer o mundo em que o proclamamos. Precisamos conhecer o mundo para que Cristo possa ser conhecido pelo mundo”.

Mila Kobi – Internos: “missões” precisa sair de um departamento e de um grupo de oração e se tornar a vida da igreja. Deus não tem uma missão para a sua Igreja, mas uma Igreja para a sua missão” (Christopher Wright). Por exemplo, os missionários lidam com desafios de uma pluralidade religiosa, filosófica, eclesiástica e cultural que, nos dias atuais, estão cada vez mais próximos da igreja brasileira. O que Deus tem ensinado aos missionários pode e deve ser compartilhado com toda a igreja para a sua edificação. A igreja brasileira perde muito em recursos para discipular e amadurecer na fé em não dialogar mais com missões e seus missionários.

Precisamos escutar as vozes da igreja brasileira e do movimento missionário brasileiro, e não somente uma pequena amostra dela. Quando vemos o Censo, percebemos que 30% dos indígenas se declaram cristãos, 30% dos negros se declaram cristãos, onde eles estão na formação missionaria para toda a igreja? E na mesa de decisões?

Globais: Atualmente, 70% da presença da igreja de Cristo está no mundo majoritário (África, Ásia, América Latina). Eu participo muito de grupos de trabalho nesses círculos, e um consenso é que o modelo teológico e missiológico ocidental não responde às necessidades de nossa região. Temos desafios em comum: um discipulado que responda às dores culturais do nosso contexto, diferente das do norte, um modelo de levantamento de recursos mais fortalecido e menos dependente do Norte, e tantos outros. A igreja global tem conversado, vemos que a voz brasileira é bem-vinda, mas muito pouco conhecida por ela. Esse distanciamento do diálogo com a igreja global nos deixa para trás em muitas coisas: uma formação missiológica e teológica desatualizada, parcerias missionárias que poderiam já estar acontecendo e ainda nem existem. Temos poucos líderes brasileiros que dialogam, de fato, com a liderança da igreja global. São vários os desafios, como somente 5% dos brasileiros falarem inglês. Isso também é um desafio para os sul-coreanos, contudo, eles são mais presentes em diálogos globais. A igreja de Cristo nunca foi tão policêntrica, enviando de todos os lugares para todos os lugares, e temos falando sobre a necessidade de ela ser também polifônica. Com base em Atos 2, vemos um Deus polifônico, que poderia ter se revelado somente falando hebraico, mas se revela em múltiplas línguas. Um espelho disso seria uma igreja e agência missionária que intencionalmente crie um espaço e uma atmosfera em que vozes de diferntes perspectivas possam ser ouvidas.

Cassiano Luz
– Creio que nosso principal desafio é estratégico. Nosso grande desafio ainda são os cerca de 7 mil povos não alcançados, metade deles não engajados. Há anos temos enfatizado a discrepância estratégica na distribuição da força missionária e no investimento, porém, na prática, não têm havido despertamento significativo nesse sentido. Ao mesmo tempo, ainda existe alguma resistência da força missionária tradicional em relação à adoção de algumas estratégias disruptivas, como, por exemplo, um investimento necessário na potencial força missionária da chamada “diáspora brasileira” (5 milhões de brasileiros espalhados pelo mundo, dos quais 35% se declaram evangélicos).

Valdir Steuernagel
– Em tempos recentes, estive por duas vezes na Iglesia Vida y Acción, em Bogotá, na Colômbia. E, nessas duas vezes, tive o privilégio de ministrar num evento que se intitulava “glocal”. Isso quer dizer que ele era um evento que abraçava os ministérios de perto e de longe. O “glocal” trazia para comunidade de fé o testemunho das áreas de envolvimento da igreja em diferentes lugares do mundo. Esse testemunho era de natureza transcultural. Trazia para a igreja o testemunho quanto ao envolvimento global. Mas trazia também o que era local, ou seja, o testemunho do envolvimento da igreja em vários ministérios na própria Bogotá, seja, por exemplo, no acolhimento a crianças mais vulneráveis, ou no cuidado de refugiados, particularmente venezuelanos.


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Analzira Nascimento
é missionária da Junta de Missões Mundiais. Doutora em ciências da religião e palestrante nas áreas de missão e alteridade, interculturalidade, formação e capacitação missionária, juventude com propósito e vocação.

Bertil Ekström é pastor batista, professor de teologia e de missiologia, autor de Missões em Toda a Bíblia: Teologia, reflexão e prática.

Cassiano Luz é diretor executivo na Aliança Evangélica Brasileira e na SEPAL

Délnia Bastos é casada, mãe de três filhos e avó de seis netos, e é membro do Conselho Missionário da Igreja Presbiteriana de Viçosa.

Durvalina Barreto Bezerra é diretora do Centro de Educação Teológica e Missiológica Betel Brasileiro.

Elizete Lima (Zazá) é uma discípula peregrina de Cristo, servindo em contextos de difícil acesso.

Lissânder Dias é jornalista, cronista, poeta e editor de livros. Integra o Conselho Nacional da Interserve Brasil e do Movimento Vocare.

Mila Kobi é missionária transcultural, comunicadora intercultural e consultora em inteligência cultural. Viveu e serviu em seis países, incluindo Inglaterra, Austrália, Tailândia, Taiwan e Índia.

Timóteo Carriker
, estadunidense naturalizado brasileiro, é teólogo, escritor, professor em diversas escolas de teologia e missões e editor geral da Bíblia Missionária de Estudo, da Sociedade Bíblica do Brasil.

Valdir Steuernagel é pastor luterano, membro da Comunidade do Redentor, em Curitiba, PR, e embaixador da Aliança Cristã Evangélica Brasileira e da Visão Mundial.

Imagem: Unsplash.


REVISTA ULTIMATO - A IGREJA EM MISSÃO
Ultimato celebra a igreja em missão, a missão da igreja e o movimento missionário brasileiro, cuja história é quase tão longeva quanto a do Brasil.

Ao longo de mais de 10 páginas, o leitor vai encontrar parte das palestras do 10ª edição do Congresso Brasileiro de Missões (CBM 2025), que aconteceu em outubro, em Águas de Lindóia, SP, e lerá,
no "Especial", um painel com uma avaliação ampla e crítica do movimento missionário brasileiro.

É disso que trata a
edição 416 de Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» Série “O Cristão Contemporâneo”, John Stott e Tim Chester
» Discordâncias Religiosas, Como lidar com a pluralidade de crenças, Helen De Cruz
» Desafios atuais da missão entre povos nativos do Brasil, por Edward Luz
» Acessibilidade no Congresso Brasileiro de Missões (CBM) 2025, por Mônica Freitas

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