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Opinião

Movimento missionário brasileiro – nem tudo merece ser celebrado

É preciso enxergar nossas deficiências e encontrar caminhos de mudança

Com a colaboração de Analzira Nascimento, Bertil Ekstrom, Cassiano Luz, Délnia Bastos, Durvalina Bezerra, Elizete Lima (Zazá), Lissânder Dias, Mila Kobi, Timóteo Carriker, Valdir Steuernagel

Este artigo faz parte do Especial publicado na edição 416 de Ultimato.

Encorajada pela matéria de capa e pelo 10º Congresso Brasileiro de Missões, Ultimato convidou pessoas envolvidas em diferentes frentes da missão para responderem quatro perguntas sobre o movimento missionário brasileiro. Elas diferem na idade, na experiência e na abrangência de ministérios que realizam.

O resultado é um material muito rico!

Por causa do espaço, o texto da revista é uma versão reduzida do que você encontra neste e em três outros artigos:

Movimento missionário brasileiro – ao longo de tantas décadas há motivos para celebrar?(parte 1)
Movimento missionário brasileiro – a direção e o poder do Espírito Santo (parte 2)
Movimento missionário brasileiro – desafios globais e internos para os próximos 25 anos (parte 4)

Boa leitura!

Painel – parte 3

Que evento ou fato você citaria que não deve ser celebrado na trajetória do movimento missionário brasileiro?

Mila Kobi – Deus nos fez brasileiros e nos enviou, não somente com o passaporte e a Bíblia, mas também com toda a nossa bagagem cultural. Deus quer redimir a nossa identidade cultural ao servirmos em outros campos. Muitas vezes, falamos que somos bem aceitos em todos os lugares, que somos uma ponte cultural porque viemos de um país miscigenado. Mas os dados mostram que não é bem assim: 60% dos brasileiros vivem conflitos culturais no campo; mais de 50% dos brasileiros não falam a língua local em seus contextos. Desafios culturais são esperados, mas os dados mostram um número muito alto de ajustes e de maturidade que precisamos alcançar. Nossa mistura cultural, que é dor, beleza e bênção, precisa ser reconhecida, discipulada, reconciliada e redimida. Porque se não, seremos ponte que desaba, e não que sustenta.

Precisamos melhorar nossa formação missiológica e intercultural para um amadurecimento da nossa força missionária e melhor integração familiar e individual e de serviço no campo

Cassiano Luz
– Em 2024, participamos do Encontro de Lausanne, na Coreia, onde fiquei entristecido com uma cena envolvendo a delegação brasileira, revelando traços da nossa cultura que representam mau testemunho e têm causado problemas na nossa participação no movimento missionário mundial. Infelizmente, como força missionária brasileira, ainda temos manifestado tendências ao orgulho, à vaidade e à falta de empatia com equipes multiculturais e na relação com os próprios povos que queremos alcançar. Precisamos pedir ao Senhor que nos faça enxergar nossas deficiências e encontrar caminhos de mudança.

Analzira Nascimento
– Estudando a história dos movimentos missionários, constatamos que a igreja, em alguns períodos, foi parceira de movimentos político-culturais, contaminando-se e comprometendo-se com tendências de épocas. Os impérios viram pó, relações de poder mudam e os governos passam, mas a Palavra do nosso Deus permanece eternamente. Nossa missão é ser embaixadores do reino de Deus, luz do mundo e estar atentos para onde o vento está soprando, ser sensíveis ao que Deus quer fazer no mundo e permitirmos que o Espírito Santos nos use para tornar conhecido o evangelho de Jesus Cristo.

Zazá Lima – O movimento missionário tenta driblar as polarizações que tem ferido e fragmentado a igreja brasileira, e, graças a Deus, tem conseguido. Mas essas questões continuam sendo um grande desafio que não pode ser ignorado. Precisamos ser agentes de paz e reconciliação dentro dos valores mais profundos da ética do nosso Senhor Jesus. Lamento essas feridas abertas e ideologias que enfraquecem e fragilizam os nossos esforços.

Bertil Ekstrom
– Tivemos grandes perdas de missionários que voltaram do campo prematuramente por falta de preparo e treinamento adequado e sério. Importantes mudanças ocorreram a partir de 1994, quando essa situação foi analisada e novas recomendações foram dadas pela AMTB. Aspectos como denominacionalismo e competição desleal entre agências missionárias, que ocasionalmente ocorre, têm impedido um desenvolvimento maior do movimento missionário. Atualmente, a polarização política e tendências dogmáticas enfraquecem a comunhão e a colaboração entre igrejas, líderes e empreendimentos missionários.



Délnia Bastos – Temos unidade, pela graça de Deus. Mas ainda temos muito amor pelas nossas próprias bandeiras, quero dizer, nossas denominações, igrejas e nossos ministérios. Temos dificuldade de valorizar o ministério do outro.

Temos pouca presença de igrejas e pessoas pentecostais – e precisamos delas! Ana Beatriz Simião Ivo de Jesus, uma jovem do Vocare, bem se expressou: “Meu desejo, de coração, é que mais assembleianos e/ou pentecostais tenham mais espaço no CBM. […] Pra vivermos o que foi dito no Lausanne sobre a unidade da igreja de Cristo!”.

Ainda falamos pouco e de forma tímida sobre a totalidade da missão, que inclui também a mordomia da criação.

Durvalina Bezerra – O envio de missionários transculturais por agências que não valorizam um preparo de qualidade produziu o retorno antecipado de muitos, trazendo prejuízos para a vida do missionário, para a igreja e, o mais doloroso, a meu ver, para o campo receptor. Aponto também a falta de cuidado com o missionário; graças a Deus, o quadro tem mudado hoje.

Lissânder Dias
– Acredito que o que deve ser lamentado, na verdade, são todas as iniciativas que começaram, mas foram abandonadas ou não tiveram continuidade. Eu cito, por exemplo, a falta de união das igrejas locais em torno de ações conjuntas, como o Congresso Brasileiro de Evangelização (CBE), que teve uma bonita história de unidade em 1983 e 2003, mas que não teve continuidade. Outro exemplo é o Movimento Lausanne. Apesar de estar se fortalecendo atualmente no Brasil, ainda caminha muito lentamente a julgar sua bonita história desde 1974.

Timóteo Carriker
– Cerca de dez a quinze anos atrás surgiu no Brasil o movimento que se preocupava não só com o alcance missionário das comunidades próximas às igrejas locais como também com a indagação a respeito de como esse propósito poderia fazer com que as igrejas locais examinassem a maneira de conduzir seus cultos e suas atividades. O movimento se denominou pelo adjetivo “missional”. A desconfiança que vários líderes do movimento expressaram em relação ao movimento de igrejas “missionais” – que devem ser vistas não como concorrentes do movimento missionário brasileiro, mas sim, como decorrentes e parceiras do movimento – é algo que não deve ser celebrado.


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Analzira Nascimento é missionária da Junta de Missões Mundiais. Doutora em ciências da religião e palestrante nas áreas de missão e alteridade, interculturalidade, formação e capacitação missionária, juventude com propósito e vocação.

Bertil Ekström é pastor batista, professor de teologia e de missiologia, autor de Missões em Toda a Bíblia: Teologia, reflexão e prática.

Cassiano Luz é diretor executivo na Aliança Evangélica Brasileira e na SEPAL

Délnia Bastos é casada, mãe de três filhos e avó de seis netos, e é membro do Conselho Missionário da Igreja Presbiteriana de Viçosa.

Durvalina Barreto Bezerra é diretora do Centro de Educação Teológica e Missiológica Betel Brasileiro.

Elizete Lima (Zazá) é uma discípula peregrina de Cristo, servindo em contextos de difícil acesso.

Lissânder Dias é jornalista, cronista, poeta e editor de livros. Integra o Conselho Nacional da Interserve Brasil e do Movimento Vocare.

Mila Kobi é missionária transcultural, comunicadora intercultural e consultora em inteligência cultural. Viveu e serviu em seis países, incluindo Inglaterra, Austrália, Tailândia, Taiwan e Índia.

Timóteo Carriker, estadunidense naturalizado brasileiro, é teólogo, escritor, professor em diversas escolas de teologia e missões e editor geral da Bíblia Missionária de Estudo, da Sociedade Bíblica do Brasil.

Valdir Steuernagel é pastor luterano, membro da Comunidade do Redentor, em Curitiba, PR, e embaixador da Aliança Cristã Evangélica Brasileira e da Visão Mundial.

Imagem: Unsplash.


REVISTA ULTIMATO - A IGREJA EM MISSÃO
Ultimato celebra a igreja em missão, a missão da igreja e o movimento missionário brasileiro, cuja história é quase tão longeva quanto a do Brasil.

Ao longo de mais de 10 páginas, o leitor vai encontrar parte das palestras do 10ª edição do Congresso Brasileiro de Missões (CBM 2025), que aconteceu em outubro, em Águas de Lindóia, SP, e lerá,
no "Especial", um painel com uma avaliação ampla e crítica do movimento missionário brasileiro.

É disso que trata a
edição 416 de Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» Série “O Cristão Contemporâneo”, John Stott e Tim Chester
» Casas de Chá – As Mulheres do Distrito da Luz Vermelha, Shine LEE
» Igreja em perigo: o reino de Deus nos locais mais hostis ao evangelho, por Marco Cruz
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