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Opinião

A missão estudantil e os engajamentos de Robinson Cavalcanti¹

Por Fernando Coêlho Costa

Um marco na missão estudantil
O Congresso Missionário realizado pela Aliança Bíblica Universitária do Brasil, em Curitiba (1976), contou com cerca de 500 participantes sob o tema “Jesus Cristo: Senhorio, Propósito e Missão”.2 Ele foi um eco do Congresso de Evangelização Mundial, de Lausanne, em 1974. As palestras dadas por Samuel Escobar, Russell Shedd dentre outros abordaram a relação entre a vocação missionária e a realidade latino-americana. Seu produto final foi o documento denominado “Pacto de Curitiba”, que delineou o que o Movimento acreditava e como sua missão seria levada pelo mundo.

“Agradecemos a Deus pelos profissionais jovens que, ao terminar os seus estudos na universidade, estão se integrando em diversas formas de ação missionária nas diferentes igrejas e missões ativas em nosso continente” (Pacto de Curitiba, 1976)3

Após aquele Congresso “os grupos e projetos missionários multiplicaram-se sob um novo programa de atuação”4 e a “ênfase na atuação também junto às classes menos favorecidas através do serviço cristão” foi um diferencial presente em sua prática missionária.5

Seis princípios foram reafirmados pela liderança do movimento6: iniciativa e responsabilidade estudantil; autonomia; intensificação da relação ABU-Igreja; ênfase missionária; ênfase confessional; e herança evangélica.

Foram esses princípios que, de certa forma, pavimentaram a estrada para Robinson Cavalcanti como um importante líder do mundo evangélico global. Ele participou dos dois Congressos (1974 e 1976) e foi naquele período que ele se desligou da liderança da organização após intensos dez anos e partiu para as fronteiras sociopolíticas desenvolvendo um tipo de teologia da ação política dos evangélicos.

Engajamento com a ABUB
O engajamento de Robinson Cavalcanti na ABUB, se deu principalmente a partir do biênio 1966/1967. Nessa fase, o movimento já tinha seus Estatutos (Mairiporã, 1962), mas como começava a receber estudantes com propósitos diversos vindos de movimentos estudantis que haviam sido desarticulados por conta dos primeiros anos pós Regime, necessitou fomentar o discipulado, a formação e suas bases de fé e prática, como forma de unificar a linguagem da Organização.

De fato, quando o jovem Robinson se engajou na ABUB foi em um período chave para o desenvolvimento de suas lideranças. Neuza Itioka, em seu livro de memórias Encarnando a Palavra Libertadora, denomina o ano de 1966 como “o ano marco para o movimento brasileiro”7, pois muitas mudanças estavam ocorrendo. A principal delas foi o processo de conformação da Organização aos moldes da Comunidade Internacional de Estudantes Evangélicos.

Assim como Robinson Cavalcanti, chegaram à ABUB inúmeros outros estudantes de diferentes igrejas, cidades e cursos universitários. Juntos eles tiveram acesso aos materiais de formação, convivência com os missionários e profissionais e foram incentivados a se reconhecerem como missionários ainda enquanto estudantes ou recém graduados.

Havia uma equipe de apoio e mentoria para esses estudantes e profissionais que chegavam. Essa liderança de base, contava com os profissionais Ruth Siemens, Ross e Aline Douglas, Carlos e Margaret Lachler, Neuza Itioka (assessora em São Paulo), Paulo Medeiros (assessor no Rio de Janeiro), o casal canadense Dionísio e Elaine Pape (responsáveis pela região Nordeste) dentre outros.


Para coordenar as ações de formação como Secretário Executivo, havia chegado ao país o estadunidense Wayne Bragg, que foi convidado por sua experiência na implantação de grupos estudantis ligados à CIEE na região do Caribe.8 Profissionais e Missionários de carreira compuseram uma equipe que além de ensinar conteúdos bíblico-teológicos, conviviam e inspiravam os novatos.

Missionário no caminho
Formado o modelo de missão estudantil, os encontros de formação tornaram-se cada vez mais frequentes. Foi em um desses, em São Bernardo do Campo, em janeiro de 1967, que Robinson conheceu Paul Little, assessor da Intervarsity Christian Fellowship e diretor do setor de Evangelização e Missões do movimento americano. Ainda no mesmo ano ele participaria da Conferência Urbana 67, nos Estados Unidos. A Conferência trienal funciona como um lugar de encorajamento e desafio a estudantes e profissionais a se tornarem missionários. Ele disse: “ouço John Stott expor a Segunda Carta a Timóteo e sinto um chamado para o ministério, mas não sei qual. De volta ao Brasil, recebo um convite para ser assessor da Aliança Bíblica Universitária.”

A participação de Robinson no Urbana 67, a convivência com profissionais e missionários estrangeiros e nacionais, o discipulado do casal Pape e a experiência pessoal com o movimento missionário estudantil o conduziram à prática ministerial. Também se sentiu caminhando na direção certa, pois afirmou: “um mês depois, sou convidado para lecionar na Universidade Católica. É a resposta de Deus: profissão e ministério na academia.”9

O tempo de quase dez anos em que Robinson Cavalcanti esteve comprometido com a ABUB foi, ao mesmo tempo, sua oportunidade de serviço voluntário itinerante e sua formação teológica mais intensiva. Sobre ser missionário na ABUB, ele afirmou: “[…] Seus acampamentos, seminários de capacitação e a itinerância interdenominacional de seu ministério foram minha principal fonte de inspiração teológica, de uma teologia do caminho”.10

Discipulado e teologia
Uma importante referência de prática missionária foi ensinada a Robinson pelo casal Pape, principalmente pela convivência com Dionízio. Robinson escreveu sobre essa relação de amizade em um artigo publicado em Ultimato denominado Dionísio Pape: um tributo.11 No artigo ele dá as características pessoais e teológicas que mais o impactaram, sendo uma delas o caráter interdenominacional de sua visão missionária, com a aculturação no norte e nordeste do país, a preocupação em formar novas lideranças e o anseio de Pape em ver a comunidade evangélica brasileira envolvida na produção da cultura nacional.

E por que essas características são importantes? Elas nos ajudam a compreendeer como Robinson teve a compreensão de missão marcada por esse discipulador: “Dionísio Pape era um cavalheiro, marcado pela humildade, de fácil relacionamento, fino senso de humor e vasta cultura (falava vários idiomas). Teologicamente se considerava um evangélico conservador, distante, contudo, dos exageros e fanatismo dos fundamentalistas tradicionais ou renovados. Era um batista bem britânico: dotado de uma abertura às outras denominações, tanto assim que vem como missionário de uma junta interdenominacional (UESA), leciona não só no Seminários Batista como no Congregacional e no Presbiteriano (no Recife). Pronto para sempre servir, indistintamente, às várias igrejas. Simbólico de sua abertura (instalado pelo Bispo Edmund K. Sherril[...]) foi o seu pastorado na igreja anglicana, vestido de batina e realizando os ofícios com o Livro de Oração Comum”.12

Ao relembrar as principais características de seu mentor e amigo na missão estudantil Robinson estava reafirmando o modelo no qual ele mesmo traçou. Um modelo teologicamente engajado, de atuação cooperativa, de cunho evangélico e que dialogasse com as realidades sociais e políticas de onde esse fiel se encontrasse. Foi, principalmente, por meio dessa relação com Pape e a partir dos espaços de formação da Aliança Bíblica Universitária do Brasil e sua rede internacional através da Comunidade Internacional de Estudantes Evangélicos, que possibilitou Robinson Cavalcanti afirmar:

“O espaço-síntese que buscava apareceu com grande impacto em minha vida com a Aliança Bíblica Universitária do Brasil, o movimento brasileiro de estudantes evangélicos, ligado à Comunidade Internacional de Estudantes Evangélicos: vida devocional, estudo bíblico, disciplina intelectual, abertura ao contemporâneo e à problemática social.”13

Engajamento teológico
Com o desligamento da ABUB e seu prosseguimento para outros espaços teológicos, a compreensão de vocação havia alcançado seu objetivo: “a realização de missão e serviço pelos estudantes e profissionais, mediante a descoberta de seu lugar de chamado por Deus, na igreja e no mundo”.14

O engajamento missionário de Robinson Cavalcanti o levou à cooperar com a Fraternidade Teológica Latino-Americana, sendo ele um ‘teólogo informal’ e ainda assim integrando a comissão executiva da FTL por sete anos.

Quando a ABU Editora, sob a direção de Bill McConell, começou a publicar a partir de 1972, Robinson Cavalcanti contribuiu com os livros “Cristo na Universidade”, “Uma bênção chamada sexo” e “O Cristão, esse chato”15. Além desses publicou mais tarde o livro Cristianismo e Política: teoria bíblica e prática histórica. Fator que, sem dúvida, demarcou sua posição política entre os evangélicos no Brasil.16

Além desses espaços de engajamento teológico nos quais Robinson foi inserido, o que provavelmente mais o marcou foi o envolvimento no Movimento missionário de Lausanne, como desdobramento do Congresso Internacional de Evangelização Mundial, de 1974. Robinson cooperou ativamente para que este legado de ação missionária cristã e o lugar da contextualização da crença evangélica produzissem documentos norteadores para as igrejas atuarem em cooperação em favor da missão evangélica mundial.


Sua dedicação e engajamento o levaram a todas as reuniões e à maioria das Comissões do Movimento Lausanne entre 1974 e 1982. Robinson contribuiu principalmente com os temas da Responsabilidade Social; Evangelho e Cultura; Estilo de Vida simples. Cooperou ainda na Comissão Teológica da Aliança Evangélica Mundial e na Comissão Executiva da Fraternidade dos Evangélicos na Comunhão Anglicana.

Um exemplo de como a missão estudantil levou Robinson aos espaços mencionados foi sua participação na Consulta Internacional sobre Estilo de vida simples, que reuniu 85 líderes de 27 países, em março de 1980, em Londres, Inglaterra. Para temos essa referência, participaram do Brasil Robinson Cavalcanti, Neuza Itioka e Tácito Pinto, além de John Stott (Inglaterra), Wayne Bragg (EUA), Jorge Atiência (Colômbia), Pedro Arana (Peru) e René Padilla (à época no Canadá). Estes estrangeiros todos com função e relação direta à Comunidade Internacional de Estudantes Evangélicos.17

Já na Consulta sobre a relação entre Evangelização e Responsabilidade Social, realizada em Grand Rapids, Michigan, em 1982 vê-se mais uma vez essa cooperação de Robinson. Na Consulta com 51 participantes estavam John Stott (Inglaterra), David J. Bosch (África do Sul), Ronald Sider e Leigthon Ford (EUA), Pedro Arana (Peru), René Padilla (Argentina), Samuel A. Olson (Venezuela) e Robinson Cavalcanti (Brasil). Até hoje, o relatório produzido nessa consulta serve como orientação às igrejas em contextos diferentes em todo o mundo.18

Para fora, sua influência se deu pela importância e pelo grau de comprometimento que ele teve dentro do evangelicalismo mundial nos espaços de produção teológica. No Brasil sua grande contribuição foi com uma teologia política para os evangélicos no Brasil. Sua proposta político-ideológica baseava-se na ação política que os evangélicos precisavam ter como indivíduos e instituição para cooperarem com a difusão da utopia possível, e isso passava por um engajamento político com base teológica.19

Notas
1. Artigo adaptado do livro Robinson Cavalcanti: estudos em homenagem. São Paulo: Fonte Editorial, 2022.
2. QUADROS, Eduardo Gusmão de. Evangélicos e mundo estudantil: uma história da Aliança Bíblica Universitária do Brasil (1957-1987). Rio de Janeiro: Novos Diálogos, 2011, p. 66.
3. COSTA, Fernando C. Uma leitura sobre as práticas religiosas da Aliança Bíblica Universitária do Brasil. Vitória: UNIDA / Faculdade Unida de Vitória, 2017, Anexo B.
4. QUADROS, 2011, p. 65.
5. QUADROS, 2011, p. 69.
6. O Secretário Geral era Dieter Brephol, que ficou até o Congresso de 1984. Ele entrou na ABUB ainda como universitário em Curitiba e após oito nos na função, foi trabalhar na Secretaria Geral da CIEE para a América Latina, a mesma função que havia sido ocupada por René Padilla na década de 1970.
7. ITIOKA, 1981, p. 26.
8. ITIOKA, Neuza. Encarnando a Palavra Libertadora. São Paulo: ABU Editora, 1981, p. 27, 28.
9. CAVALCANTI, 2010.
10. Id., 1991, p. 31.
11. CAVALCANTI, Robinson. Dionísio Pape: um tributo. Ultimato, Viçosa, MG, ed. 233, mar./abr. 1995.
12. CAVALCANTI, 1995.
13. CAVALCANTI, 1991, p. 31.
14. QUADROS, 2011, p. 23
15. Entre Nós. Disponível aqui. Acesso em: 20 ago. 2021.
16. CAVALCANTI, Robinson. Cristianismo e política: teoria bíblica e prática histórica. Viçosa: Ultimato, 2002.
17. COMISSÃO de Lausanne para a evangelização mundial e World Evangelical Felloship. Viva a simplicidade: compromisso evangélico com um estilo de vida simples. São Paulo, ABU Editora, 2004. p. 21.
18. COMISSÃO de Lausanne para a evangelização mundial e World Evangelical Felloship. Evangelização e Responsabilidade social: relatório da Consulta internacional realizada em Grand Rapids sob a presidência de John Stott. São Paulo, ABU Editora, 2004. p. 39.
19. Título do artigo publicado na Revista Ultimato em 1990, edição 208, dezembro de 1990. Em 1993, a Editora Ultimato publicou o livro A utopia possível: em busca de um cristianismo integral. Viçosa: Ultimato, 1993. São 36 artigos de Robinson divididos em 4 partes: 1) A questão teológica, 2) A questão eclesiástica, 3) A questão social, e d) A questão política.


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Fernando Coêlho Costa é historiador, teólogo, cientista das religiões e pesquisador do Protestantismo Brasileiro. Atuou como Assessor da ABUB, como pastor e hoje está envolvido na Geração de Líderes Jovens do Movimento Lausanne. É autor de Política, Religião e Sociedade: a contribuição protestante de Robinson Cavalcanti (Ed.CRV). Siga no Instagram: @fernandocoelhocosta. Conheça o Instituto Robinson Cavalcanti.
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