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Opinião

“60 anos de crente”: a conversão de Robinson Cavalcanti

Por Fernando Coêlho Costa
 
Por ocasião do aniversário de cinquenta anos de conversão de Robinson Cavalcanti, a Ultimato publicou o artigo "50 anos de crente (1960-2010)"1 em três edições daquele ano. Como seu pensamento foi orientado pela convergência de credos e tradição cristã, manifestados no que ele chamou de "exercício da cidadania responsável", cabe no atual cenário mundial uma reflexão sobre o que ele acreditava ser a conversão e suas implicações individuais e sociais.
 
Conhecido por sua capacidade de síntese e didática ao falar sobre cristianismo e política, Robinson falou de si, de sua trajetória e conversão em 21 de abril de 1960. Sua fé e devoção foram compartilhadas durante cinco décadas: peculiaridades, tensões e emblemas.
 
Robinson Cavalcanti defendia a firmeza doutrinária e da tradição, bem como a atuação da igreja brasileira na evangelização e no serviço à sociedade. Algo bem peculiar em sua trajetória foi sua peregrinação religiosa. Seu próprio relato sobre sua conversão superam as fronteiras do denominacionalismo: “Sento-me na cama e medito, reconhecendo meu estado de pecaminosidade, a perdição eterna, a salvação oferecida pela soberania e pela graça de Deus na morte de Cristo na cruz e a necessidade de arrependimento, entrega de vida e confissão dele como Senhor e Salvador, pela fé concedida pelo Espírito Santo”. Um relato credal e uma decisão em solitude.
 
Alguns impactos em seu sistema de crença, nos dois anos anteriores, podem ser considerados os responsáveis pelo início desse processo de conversão. Foram eles: a) a leitura de uma biografia de Maquiavel como embaixador no Vaticano, o que viria a mudar sua visão do papado e da igreja; b) a leitura de uma biografia de Lutero escrita por um historiador reformado francês teria configurado o monge agostiniano em seu mais novo herói da fé; c) um curso bíblico com adventistas, por correspondência e escondido dos pais; d) conversas com um pastor batista sobre Graça e Lei, a convite de um colega de escola. 
 
A partir dessas experiências com outras visões de cristianismo que não as iniciais familiares – catolicismo romano e espiritismo –, sua convivência mais intensa nos anos de escola em Garanhuns (PE) lhe deram mais “alguns empurrões” para a decisão: “Continuava assíduo à igreja, comungando diariamente durante as férias e tendo proveitosas conversas com o meu pároco, lendo da sua biblioteca”. 
 
Já no Colégio Presbiteriano, sua aproximação se dava através dos cultos diários, das aulas de Bíblia e da convivência com “candidatos ao ministério”. Ouvir as pregações na igreja e na escola de “um evangelista reformado de coração aquecido” – o reverendo Antonio Elias – marcou profundamente a decisão de Robinson. O que se seguiu foi: “Vou ser um crente na Igreja Católica”. No quarto, ele se ajoelha ao lado da cama e, em suas palavras: “não resistindo à Graça, faço uma oração em decisão culminante da conversão. Deixo de ser um religioso para me tornar um cristão. Paz profunda. Certeza de salvação”.

>> Robinson Cavalcanti (1944-2012): missão, chamado e teologia <<
 
A partir de 1961, com 16 anos e estudando com os Jesuítas no Recife, Robinson intensificou suas reflexões sobre conversão, Bíblia e igreja, que o levaram às seguintes decisões: a) deixou de frequentar sessões espíritas, pois achava incompatível os ensinos da Bíblia e os de Kardec; b) deixou o catolicismo romano, pois não seguia mais os seus dogmas caracterizadores; c) como achava que não deveria viver a fé isoladamente, procurou se filiar à uma igreja evangélica. As razões de escolher a Igreja Luterana (IELB) foram por ela ser “histórica, litúrgica e não-legalista”. Depois de um tempo congregando e estudando com afinco, professou publicamente sua fé, no dia 31 de outubro de 1963, Dia da Reforma. 
 
Aquele adolescente cheio de perguntas e ávido por conhecer a história e a tradição da Igreja, desde a paróquia alagoana de União dos Palmares, passando pelo Colégio 15 de Novembro em Garanhuns (PE), agora era um “crente” luterano no Recife, estudante de Direito na Universidade Federal de Pernambuco e de Ciências Sociais na Universidade Católica.
 
Depois de doze anos no luteranismo, responsável pela formação de seu pensamento a respeito da Reforma e de suas convicções doutrinárias, deu-se a transição para o anglicanismo, algo coerente dentro de sua trajetória. Talvez, mais por influência dos notáveis Jonh Stott, C. S. Lewis, J. I. Packer e Michael Green, ele tenha encontrado no anglicanismo “sua síntese pessoal entre um catolicismo sem romanismo” e um “protestantismo sem sectarismo/legalismo”. Robinson Cavalcanti demonstra em seus relatos de conversão a preocupação em dar conta de uma mensagem “aquecida”, de conversão, que faz um adolescente ajoelhar-se sozinho e tomar uma decisão por seguir a Jesus e que, ao mesmo tempo, tenha uma acolhida solidária, social e ética. Era a sua forma de manter as obras sociais e uma mensagem integral do evangelho. Era sua forma de viver a fé. Foi seu jeito de ser “crente”.
 
Por fim, há algumas marcas presentes na conversão de Robinson Cavalcanti que merecem ser reafirmadas nesta data. A primeira é a gratidão. Ele era grato a Deus por tê-lo permitido viver em três seguimentos: na vida profissional, na política e no ministério ordenado. 
 
A segunda é a cidadania. Grande parte de seus artigos e falas públicas enfatizam a cidadania. Para ele as organizações sociais e políticas eram canais históricos do exercício da cidadania responsável.
 
O serviço é a terceira marca. O processo de aprendizagem no cristianismo se dá desde as mais humildes tarefas às maiores responsabilidades.
 
Sua quarta marca, foi o que podemos chamar de engajamento geracional. Ele via como privilégio ter sido "ministrado por heróis da fé”, ter sido exposto às leituras que fez, e a honra de ser agraciado “pela Providência com a presença nos principais congressos nacionais e internacionais” de sua geração. 
 
Por último, o valor que dava ao que chamou de herança evangélica, capaz de afirmar cada ponto das Confissões de fé históricas e da Reforma. Agradecemos a Deus pela vida e memória de Robinson Cavalcanti, “um ortodoxo que procurava ser ortoprático”, um evangélico (evangelical) que anunciava, com a cruz no peito e sorriso no rosto, a mensagem bíblica da expiação de Cristo na cruz, do novo nascimento, da santidade na vida e do imperativo missionário a todos os crentes. 

Notas
1. O artigo 50 anos de crente (1960-2010) foi publicado em três partes nas edições 323, 324 e 325 da revista Ultimato

Foto: Alex Fajardo

 >> Conheça o livro A Igreja, o País e o Mundo – Desafios a uma fé engajada, de Robinson Cavalcanti 
Fernando Coêlho Costa é historiador, teólogo, cientista das religiões e pesquisador do Protestantismo Brasileiro. Atuou como Assessor da ABUB, como pastor e hoje está envolvido na Geração de Líderes Jovens do Movimento Lausanne. É autor de Política, Religião e Sociedade: a contribuição protestante de Robinson Cavalcanti (Ed.CRV). Siga no Instagram: @fernandocoelhocosta. Conheça o Instituto Robinson Cavalcanti.
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