Palavra do leitor
- 02 de junho de 2016
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Se Eu Não Precisasse Ganhar o Mundo Inteiro
Se eu não precisasse ganhar o mundo inteiro, leria as obras de Dostoievski, Tolstoi e Graciliano Ramos, quem sabe até decorasse Homero e risse mais com Ariano. Estudaria italiano, aprenderia violino, piano e por que não acordeom que tanto acompanharia Gonzaga nos meus finais de dia. Se eu não precisasse ganhar o mundo inteiro, moraria uns tempos na descida da serra de Portalegre em direção a Viçosa, onde plantaria todo o alimento que eu consumisse.
Se eu não precisasse ganhar o mundo inteiro, não faria a barba, exceto quando eu mesmo não a suportasse. Dormiria algumas vezes na rua. Escreveria mais, muito mais. Meditaria sem parar com as palavras de Brennan Manning e, quem sabe, alguns dias em uma caverna (seguindo seu exemplo) não fossem tão sacrificantes.
Se eu não precisasse ganhar o mundo inteiro, estaria feliz em ser um Zé, um Zé Alguém, singular, Viola, Ramalho. Seria tentado pelo cotidiano adocicado pela poesia d’Os Nonatos e pelo simples, pela normalidade anônima.
Mas dizem que preciso ganhar o mundo, acordar cedo, garantir o amanhã que não sei se vou viver; preciso um dia ter um bom dinheiro para deixar aos filhos que não sei se vou ter; um teto que abrigue minha rápida passagem; um carro para ir aos lugares que não quero; comprar tantos pares de sapato para os únicos dois pés que tenho; acumular o que não preciso; ser conhecido por quem não me interessa.
Ainda bem que às vezes não precisei ganhar o mundo inteiro, não tentei medicina, como queria minha mãe; não deixei de passar a noite em claro e ver o sol nascer juntos de outros que, ao menos naquele instante, não quiseram ganhar o mundo inteiro; saí sem rotas; abriguei-me nos outros; andei descalço e nu de expectativas.
Peregrinei muito, mas dizem ainda há tempo para eu ganhar o mundo. E se eu quiser ficar com Dostoievski, com a língua italiana e com minha horta? Perderei o mundo inteiro, mas quem sabe ganharei a alma.
Se eu não precisasse ganhar o mundo inteiro, não faria a barba, exceto quando eu mesmo não a suportasse. Dormiria algumas vezes na rua. Escreveria mais, muito mais. Meditaria sem parar com as palavras de Brennan Manning e, quem sabe, alguns dias em uma caverna (seguindo seu exemplo) não fossem tão sacrificantes.
Se eu não precisasse ganhar o mundo inteiro, estaria feliz em ser um Zé, um Zé Alguém, singular, Viola, Ramalho. Seria tentado pelo cotidiano adocicado pela poesia d’Os Nonatos e pelo simples, pela normalidade anônima.
Mas dizem que preciso ganhar o mundo, acordar cedo, garantir o amanhã que não sei se vou viver; preciso um dia ter um bom dinheiro para deixar aos filhos que não sei se vou ter; um teto que abrigue minha rápida passagem; um carro para ir aos lugares que não quero; comprar tantos pares de sapato para os únicos dois pés que tenho; acumular o que não preciso; ser conhecido por quem não me interessa.
Ainda bem que às vezes não precisei ganhar o mundo inteiro, não tentei medicina, como queria minha mãe; não deixei de passar a noite em claro e ver o sol nascer juntos de outros que, ao menos naquele instante, não quiseram ganhar o mundo inteiro; saí sem rotas; abriguei-me nos outros; andei descalço e nu de expectativas.
Peregrinei muito, mas dizem ainda há tempo para eu ganhar o mundo. E se eu quiser ficar com Dostoievski, com a língua italiana e com minha horta? Perderei o mundo inteiro, mas quem sabe ganharei a alma.
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