Apoie com um cafezinho
Olá visitante!
Cadastre-se

Esqueci minha senha

  • sacola de compras

    sacola de compras

    Sua sacola de compras está vazia.
Seja bem-vindo Visitante!
  • sacola de compras

    sacola de compras

    Sua sacola de compras está vazia.

Palavra do leitor

Não me cuidei. Virei estátua

Muitos me consideravam uma mulher de caráter, de opinião. Era rica e confesso que gostava muito de frequentar bons shoppings, lojas de grifes, bons restaurantes... O status do meu marido me permitia essa vida tão cheia de mordomias.

Devido às muitas posses de meu marido Ló e de seu tio Abraão, tivemos que nos mudar para Sodoma, dentre outras coisas, a fim de evitar conflitos entre nossos empregados. Foi maravilhoso. Minha vida social ficou agitadíssima: teatros, recitais, óperas, cafés, ateliês de alta costura e muitas outras distrações encantadoras. Em pouquíssimo tempo estava muito bem adaptada à nova cidade, à nova casa, com móveis belíssimos feitos exclusivamente para mim.

É claro, a cidade, como toda metrópole, tinha boates, motéis, prostíbulos e muitas falcatruas políticas. Eu fingia não enxergar essas coisas, apenas tinha o cuidado de não me deixar contaminar. Isso à parte, Sodoma era uma cidade maravilhosa onde tinha muitas amigas, todas ricas, muitas atividades e compromissos importantes.

Mas um dia, veio a ordem divina de que saíssemos de lá às pressas, pois o pecado estava exacerbado e insuportável aos olhos de Deus. Não entendi. A cidade sempre foi assim, e eu nunca participei de seu pecado, reconheço que me acostumei a ele, mas nunca o pratiquei.

A pressa do meu marido me deixou chocada. Foi tudo muito abrupto e inesperado. Não pude me despedir de minhas amigas, tive enormes prejuízos financeiros por ter alguns ingressos já comprados e, justo naquele dia, receberíamos amigos ilustres para o jantar; ímpios, mas ilustres. Eu não tive tempo nem de protelar o convite.

Senti-me desrespeitada, afrontada, ultrajada. Deixar a minha casa com toda aquela mobília tão nobre? Como assim? Tudo na minha casa se parecia comigo, fora escolhido a dedo, meus vestidos, minhas joias exclusivas e tantas outras coisas...

Meu marido me agarrou e me puxou pelo braço em direção à saída da Cidade. Ele nunca tinha sido grosseiro assim comigo. Isso me deixou extremamente magoada e ressentida e disparei num choro incontrolável. Meu marido nunca entendeu o porquê. Ver minhas filhas chorando também abriu uma ferida enorme no profundo do meu coração. As duas estavam com casamento marcado, vestidos de noiva comprados, bufet contratado para uma festa de mais de mil convidados. Elas estavam sendo privadas de realizarem o sonho do casamento.

A angústia que sentia era tão grande que tinha vontade de me jogar no chão, de cavar um buraco para me enterrar. Tive sensação de morte. Senti como se um tsunami devastasse meus sonhos, minha vida, minha alma, todo o meu ser.

Meu marido gritava o tempo todo: não olhem para trás, não olhem para trás! Sufocada por tanto desespero e angústia, minhas pernas começaram a pesar, meus passos foram cada vez mais lentos e, tomada de tristeza e medo, de súbito olhei para trás, nas esperança de ver a cidade, minha casa e bens intactos, mas não, tudo se consumia em fogo. Fiquei pasma com o que vi.

Nisso, percebi que a voz do meu marido ficava cada vez mais distante, assim como o choro das minhas filhas. Achei estranho e tentei virar-me a fim de continuar acompanhando-os. Qual não foi minha surpresa. Não conseguia me mexer, me mover do lugar. Não acreditava, mas estava paralisada, tinha virado uma estátua.

Gritei, esperneei, chorei, mas já não era ouvida. Que arrependimento, porque não caminhei cada vez mais para longe? A falta de cuidado comigo mesma me privou de dar continuidade ao meu papel de esposa, de mãe e amiga. É claro que aquela situação era traumática e que me desequilibrou emocional e psiquicamente, mas numa nova cidade poderia buscar psicoterapia, auxílio médico que, com certeza, me ajudariam refazer-me do trauma, da angústia e sensação de impotência.

Lembrei-me dos inúmeros conselhos que fui capaz de dar às minhas amigas de Sodoma, quando elas enfrentavam crises em seus casamentos, dificuldades financeiras, os filhos em caminhos errados, ou mesmo quando se encontravam em um quadro depressivo ou qualquer transtorno de ansiedade. Dizia a elas que não desistissem, que não paralisassem, que não abrissem mão delas mesmas. Antes, que buscassem recursos profissionais de psicólogos, médicos, conselheiros ou mesmo pastores. Ajudei a muita gente e não fui capaz de me ajudar.

Minha atitude de olhar para trás me paralisou e me impediu de vislumbrar um futuro promissor. Se pudesse, gritaria a todos que hoje param diante de minha estátua de sal: “não olhem para trás, deixem o passado de lado, abandonem o lugar onde ocorreu a tragédia e a destruição, superem os obstáculos, desfrutem o presente e planejem o futuro de vocês”. Na verdade, permaneço gritando essas palavras em meu interior, embora seja tarde demais.

Deus foi misericordioso com meu esposo Ló e com minhas filhas. Ele também pode ser com você. Deus está pronto para te levar a uma planície segura. Tive inúmeros recursos para não virar estátua, mas não soube utilizá-los. Por favor, não repita a minha história!

Mulher de Ló
Gama - DF
Textos publicados: 13 [ver]

Os artigos e comentários publicados na seção Palavra do Leitor são de única e exclusiva responsabilidade
dos seus autores e não representam a opinião da Editora ULTIMATO.

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI.

Ultimato quer falar com você.

A cada dia, mais de dez mil usuários navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, além do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bíblicos, devocionais diárias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, além de artigos, notícias e serviços que são atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.

PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.


Opinião do leitor

Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Escreva um artigo em resposta

Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.