Palavra do leitor
14 de maio de 2025- Visualizações: 1137
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Ego ferido e amor não correspondido
Um soldado convocado para servir ao Exército longe de casa, sentindo-se solitário no quartel, foi surpreendido ao receber uma carta da amada comunicando-lhe o fim do namoro de mais de um ano. Pedindo de volta sua foto, a garota machucou ainda mais o coração do rapaz. Arrasado e sem querer ficar por baixo, surgiu-lhe uma brilhante ideia: reuniu inúmeras fotos de mulheres desconhecidas - com a ajuda de amigos - e as enviou com os seguintes dizeres: "Não lembro qual dessas era você. Favor pegar a sua e as demais me devolver!"
Quando li essa história num livro didático confessional para estudantes do ensino fundamental II, adolescentes ovacionaram o texto. Dentre as lições a serem tiradas nesse relato, uma delas é a de que o ser humano e seu ego ultrassensível naturalmente não tem estrutura suficiente para ser rejeitado sem pender ao ressentimento ou desforra. Por outro lado, a sensação de ser desprezado e humilhado é capaz de tornar o vilipendiado um paciente de consultório psiquiátrico.
No capítulo 7 do livro Deixem que Elas Mesmas Falem, o saudoso pastor Elben César comentando sobre a esposa de Potifar (Gn 39) apaixonada pelo moço hebreu José e sua tentativa frustrada de seduzi-lo, frisou que "amor não correspondido gera ódio". No entanto, nota-se pelo contexto que esse tipo de "amor" não passa de paixão desapontada e alimentada pela mágoa vingativa, confirmando a frase de Humberto Campos de que não há vingança mais impiedosa do que o da mulher desiludida.
Como na fábula da "Raposa e as uvas", o referido animal contemplando e desejando intensamente um cacho de uvas belas e maduras, ao pular sem êxito com avidez e esforço para apanhar os frutos na parreira, mesmo após repetidas tentativas, conta-nos a estória que a raposa desiste chateada pelo insucesso de não alcançar as deliciosas uvas cobiçadas, afirmando estarem verdes, azedas e nem serem tão bonitas assim...
Semelhantemente, pode-se perceber que a "alienação" no caráter e a "negação" (freudiana) são mecanismos de defesa num ego ferido, machucado emocionalmente e maculado moralmente pelo rancor de uma alma doente. Nesse sentido, o "amor não correspondido que vira ódio" reflete tanto na realidade de que todo apaixonado é egoísta (e cego) quanto no perigo do delírio da paixão - que não deixa de ser uma real bomba-relógio.
Para o cristão, o ego do pecador salvo precisa ser regenerado pela sua união com Cristo, num constante processo de santificação onde a nova criatura morre diariamente para o "eu orgulhoso". Assim, longe de impecabilidade, a consciência do fator negativo ou danoso do ego inflado e a sua necessária transformação é apontado no excepcional livreto de Tim Keller (Ego Transformado) sobre a verdadeira humildade que brota do evangelho e a prática do autoesquecimento libertador, ação possível apenas pelo poder do Santo Espírito.
Outro livrinho gostoso de se ler nessa linha é o de Ricardo Barbosa: Pensamentos Transformados, Emoções Redimidas. Abrangendo aspectos que vão bem além da temática aqui, o autor nos lembra que "tanto a pessoa que ama quanto a que é o alvo do seu amor nutrem expectativas diferentes, muitas vezes abstratas e confusas como amar e ser amado. Isso aumenta o sentimento de carência, solidão e incompreensão".
Obviamente ninguém é obrigado a amar alguém ou ser culpado por não corresponder às suas expectativas neste sentido, mas bem diferente é defraudar outras emocionalmente ou brincar com seus sentimentos. Ao mesmo tempo, contrariando uma recíproca de intenções e desejos quando se trata de sexo oposto – nada a ver com teoria de um amor que se torna irresistível pela barganha caprichada ou compaixão e piedade forçando dívida de gratidão pelo "amor" constrangido do "coração de pedra" virado "algodão", exceções à parte, todo amor verdadeiro e desinteresseiro tende a ser reconhecido, sem precisar ser no mesmo tom retribuído.
O amor não correspondido que vira ódio traz a sensação de ter sido trouxa por não entender que o "tudo" de alguém apaixonado para outro desinteressado é nada, enquanto o "nada" – nem precisa de esforço algum – de outro para esse alguém apaixonado é tudo. Por quê? Porque a vida é assim... René Girard explicaria genialmente. Porém, bem antes de Jacó, Raquel e Lia (Gn 29:30), entre preteridos e preferidos caminha a humanidade, relembrando o enredo de muitas vidas em "Quadrilha" de C. Drummond de Andrade.
O Deus de Israel usa essa "metáfora da rejeição" no Antigo Testamento através dos profetas para ilustrar sua tristeza pela rejeição do Seu povo ao Seu grande amor. No Novo Testamento, a Pessoa mais rejeitada, desprezada e traída é o próprio Jesus Cristo, que se identifica com as dores – física e emocional - de todos os pecadores.
É triste ser rejeitado e constrangedor ter de dizer um "não", mas "quando alguém vive com a certeza de que é amado, muito amado com um amor eterno, e que nada pode separá-lo desse amor, ele desenvolve uma nova visão da vida e uma nova percepção da realidade" - R. Barbosa.
Quando li essa história num livro didático confessional para estudantes do ensino fundamental II, adolescentes ovacionaram o texto. Dentre as lições a serem tiradas nesse relato, uma delas é a de que o ser humano e seu ego ultrassensível naturalmente não tem estrutura suficiente para ser rejeitado sem pender ao ressentimento ou desforra. Por outro lado, a sensação de ser desprezado e humilhado é capaz de tornar o vilipendiado um paciente de consultório psiquiátrico.
No capítulo 7 do livro Deixem que Elas Mesmas Falem, o saudoso pastor Elben César comentando sobre a esposa de Potifar (Gn 39) apaixonada pelo moço hebreu José e sua tentativa frustrada de seduzi-lo, frisou que "amor não correspondido gera ódio". No entanto, nota-se pelo contexto que esse tipo de "amor" não passa de paixão desapontada e alimentada pela mágoa vingativa, confirmando a frase de Humberto Campos de que não há vingança mais impiedosa do que o da mulher desiludida.
Como na fábula da "Raposa e as uvas", o referido animal contemplando e desejando intensamente um cacho de uvas belas e maduras, ao pular sem êxito com avidez e esforço para apanhar os frutos na parreira, mesmo após repetidas tentativas, conta-nos a estória que a raposa desiste chateada pelo insucesso de não alcançar as deliciosas uvas cobiçadas, afirmando estarem verdes, azedas e nem serem tão bonitas assim...
Semelhantemente, pode-se perceber que a "alienação" no caráter e a "negação" (freudiana) são mecanismos de defesa num ego ferido, machucado emocionalmente e maculado moralmente pelo rancor de uma alma doente. Nesse sentido, o "amor não correspondido que vira ódio" reflete tanto na realidade de que todo apaixonado é egoísta (e cego) quanto no perigo do delírio da paixão - que não deixa de ser uma real bomba-relógio.
Para o cristão, o ego do pecador salvo precisa ser regenerado pela sua união com Cristo, num constante processo de santificação onde a nova criatura morre diariamente para o "eu orgulhoso". Assim, longe de impecabilidade, a consciência do fator negativo ou danoso do ego inflado e a sua necessária transformação é apontado no excepcional livreto de Tim Keller (Ego Transformado) sobre a verdadeira humildade que brota do evangelho e a prática do autoesquecimento libertador, ação possível apenas pelo poder do Santo Espírito.
Outro livrinho gostoso de se ler nessa linha é o de Ricardo Barbosa: Pensamentos Transformados, Emoções Redimidas. Abrangendo aspectos que vão bem além da temática aqui, o autor nos lembra que "tanto a pessoa que ama quanto a que é o alvo do seu amor nutrem expectativas diferentes, muitas vezes abstratas e confusas como amar e ser amado. Isso aumenta o sentimento de carência, solidão e incompreensão".
Obviamente ninguém é obrigado a amar alguém ou ser culpado por não corresponder às suas expectativas neste sentido, mas bem diferente é defraudar outras emocionalmente ou brincar com seus sentimentos. Ao mesmo tempo, contrariando uma recíproca de intenções e desejos quando se trata de sexo oposto – nada a ver com teoria de um amor que se torna irresistível pela barganha caprichada ou compaixão e piedade forçando dívida de gratidão pelo "amor" constrangido do "coração de pedra" virado "algodão", exceções à parte, todo amor verdadeiro e desinteresseiro tende a ser reconhecido, sem precisar ser no mesmo tom retribuído.
O amor não correspondido que vira ódio traz a sensação de ter sido trouxa por não entender que o "tudo" de alguém apaixonado para outro desinteressado é nada, enquanto o "nada" – nem precisa de esforço algum – de outro para esse alguém apaixonado é tudo. Por quê? Porque a vida é assim... René Girard explicaria genialmente. Porém, bem antes de Jacó, Raquel e Lia (Gn 29:30), entre preteridos e preferidos caminha a humanidade, relembrando o enredo de muitas vidas em "Quadrilha" de C. Drummond de Andrade.
O Deus de Israel usa essa "metáfora da rejeição" no Antigo Testamento através dos profetas para ilustrar sua tristeza pela rejeição do Seu povo ao Seu grande amor. No Novo Testamento, a Pessoa mais rejeitada, desprezada e traída é o próprio Jesus Cristo, que se identifica com as dores – física e emocional - de todos os pecadores.
É triste ser rejeitado e constrangedor ter de dizer um "não", mas "quando alguém vive com a certeza de que é amado, muito amado com um amor eterno, e que nada pode separá-lo desse amor, ele desenvolve uma nova visão da vida e uma nova percepção da realidade" - R. Barbosa.
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dos seus autores e não representam a opinião da Editora ULTIMATO.
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