Apoie com um cafezinho
Olá visitante!
Cadastre-se

Esqueci minha senha

  • sacola de compras

    sacola de compras

    Sua sacola de compras está vazia.
Seja bem-vindo Visitante!
  • sacola de compras

    sacola de compras

    Sua sacola de compras está vazia.

Palavra do leitor

Chibolete e sibolete: quando a linguagem vira arma de exclusão

A palavra "chibolete" aparece na Bíblia como parte de um teste linguístico utilizado pelos gileaditas para identificar os efraimitas, considerados inimigos durante um período de conflito tribal. O teste consistia em pedir que a pessoa pronunciasse a palavra "chibolete". Se dissesse "sibolete" – revelando, assim, seu sotaque característico e a incapacidade de articular corretamente o som inicial – era imediatamente capturada e executada no ponto de travessia do rio Jordão. Segundo Juízes 12.6, cerca de 42 mil efraimitas foram mortos dessa forma. Este episódio bíblico é um exemplo impactante de como diferenças linguísticas e culturais podem ser distorcidas e transformadas em justificativas para perseguição, discriminação e morte. Trata-se de uma narrativa que expõe uma verdade perturbadora e ainda atual: a linguagem pode ser convertida em instrumento de exclusão, marginalização e violência.

No mundo moderno, essa ideia permanece viva. O modo de falar, o sotaque, o vocabulário ou a gramática de uma pessoa frequentemente são usados para julgar sua origem, classe social, nível de educação ou pertencimento ideológico. Isso pode gerar preconceito, estigmatização e até violência simbólica ou real. Um exemplo claro disso é o estigma enfrentado por nordestinos no sul e sudeste do Brasil, onde o sotaque nordestino muitas vezes é alvo de piadas e ridicularizações, sendo injustamente associado à falta de instrução ou rusticidade. Um caso amplamente repercutido ocorreu em 2012, quando uma estudante paulista da USP fez comentários preconceituosos nas redes sociais, afirmando que "nordestino é burro" e culpando o Nordeste pela eleição de certos políticos. O episódio gerou forte reação nacional e exemplifica como a forma de falar pode ser usada como instrumento de exclusão, reforçando estereótipos e desigualdades históricas.

O uso da linguagem como instrumento de exclusão contrasta diretamente com os ensinamentos de Cristo registrados em Marcos 9.40 e Lucas 9.50: "Quem não é contra nós é por nós." (Marcos 9.40) ; "Não o proibais, porque quem não é contra vós é por vós". (Lucas 90). Aqui, Jesus repreende seus discípulos por tentarem impedir alguém de agir em Seu nome só porque "não era do grupo deles". Essa atitude de abrir espaço para o outro, mesmo quando ele é diferente, é o oposto do exclusivismo visto em Juízes. A mensagem bíblica nos convida a ir além dessas barreiras superficiais. Ele nos chama a reconhecer o valor do outro mesmo quando ele fala diferente, pensa diferente ou vem de outro lugar.

Ainda hoje, "chiboletes" modernos são usados para diferenciar, excluir ou marginalizar pessoas. Pode ser o sotaque de uma região, o modo de vestir, uma gíria, uma religião ou até a forma de expressar a fé. Em muitos casos, grupos sociais, políticos ou religiosos usam essas marcas para dividir e julgar quem "é do grupo" e quem não é – e às vezes, como na Bíblia, isso pode gerar hostilidade e violência.

O episódio de Juízes 12.6 nos alerta para os perigos do uso da linguagem como critério de exclusão. Já os ensinamentos de Jesus, nos desafiam a superar o tribalismo linguístico, religioso e cultural que ainda marca nossas sociedades. Em vez de usarmos "chibolete" para separar, somos chamados a usar palavras de acolhimento, compreensão e unidade, mesmo para quem diz "sibolete".
Sao Paulo - SP
Textos publicados: 134 [ver]
Site: http://www.facebook.com/projejum
Os artigos e comentários publicados na seção Palavra do Leitor são de única e exclusiva responsabilidade
dos seus autores e não representam a opinião da Editora ULTIMATO.

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI.

Ultimato quer falar com você.

A cada dia, mais de dez mil usuários navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, além do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bíblicos, devocionais diárias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, além de artigos, notícias e serviços que são atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.

PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.


Opinião do leitor

Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Ainda não há comentários sobre este texto. Seja o primeiro a comentar!
Escreva um artigo em resposta

Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.