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Palavra do leitor

A carência neurótica afetiva e as redes sociais - Parte 1

"Só querem que eu curta o que eles postam, mas não curtem nada do que eu posto. Isso é humildade? Humidade uma **** (censurado)". O desabafo irado em questão é de um adolescente estimado por mim e minha família, em sua página de Facebook.

Embora eu tenha achado bastante engraçado o autêntico impulso do juvenil na ocasião, agora comento. Não para corrigi-lo sob a pose de pretensa maturidade ou sabedoria moralizante, mas para confirmá-lo em meu texto as palavras de Paul Valéry quando disse que "as pessoas se distinguem pelo que aparentam, mas se assemelham pelo que escondem". Menos infame seria nos enquadrarmos mais na teoria do "autointeresse" de Lawrence Kohlberg do que na "carência neurótica afetiva" de Karen Horney, pois não discordaríamos plenamente do mesmo escritor francês ao afirmar que "a vaidade, grande inimiga do egoísmo, pode dar origem a todos os efeitos do amor ao próximo".

Tomemos por exemplo, Darcy Ribeiro em entrevista ao Programa "Roda Viva", quase trinta anos atrás. Indagado por William Waack sobre seu ego e suposta megalomania, respondeu: "Meu querido! Eu estou querendo é ser elogiado, eu gosto que me elogiem. Cada um de vocês que quiser me elogiar, me elogie, porque eu preciso disso. Eu acho que é uma debilidade minha. Ao contrário de você, que não precisa de elogios, eu sou carente, eu preciso de amor, eu preciso de carinho, de elogios, e não poupem isso não, porque eu sou realmente carente. O que parece megalomania não é. É vontade de ser apoiado, ser compreendido. É carência. Eu sou um carente."

Novamente é engraçado, eu sei. Mas se a atitude de Darcy Ribeiro ratifica Valéry (fazendo Horney vibrar no túmulo), o "autointeresse" de Kohlberg receberia em Filipenses 2:3 a indicação de um caminho mais excelente a ser trilhado, pois o próprio São Paulo, ao pedir que os cristãos de Filipos nada fizessem por vaidade ou interesse egoísta, mostrou com o próprio exemplo o que é trocar aclamações deste mundo pela ignomínia e sacrifício altruísta. Findo o longo preâmbulo, inicio a reflexão.

O ato de curtir ou compartilhar posts de alguém no Facebook deveria expressar mera espontaneidade em contextos de interação, assentimento de ideia, aprendizado, apreciação ou sintonia de gostos e interesses em comum. Em alguns casos, por cortesia, nível de amizade e simpatia com o autor da postagem, mas sem aderir a dívidas de reciprocidade, forçando acordos do tipo "me curta que eu te curto". Uns curtem sem registrar o curtir, muitos não curtem e outros descurtem. Há também quem curta a sua própria publicação. Mas não dá pra curtir posts de todos adicionados e a linha do tempo é infinita.

Esse ritualismo das reciprocidades das relações nas redes sociais, lembra-me Theodore Dalrymple (Anthonny Daniels) em outro contexto, no livro "Evasivas admiráveis", quando afirma que "a bondade se torna uma agressão oculta, bem como a grosseria uma defesa contra a força da generosidade de sentimento". Como resultado disso, "fingirei ter interesse na sua trivialidade se você tiver interesse na minha", diz ele ao ressaltar que geralmente não consideramos nossos interesses e ações como triviais, apenas as dos outros. Acrescentaria que o desprezo virou um mecanismo que simula equilíbrio e aponta para a imaginação de poder e autodefesa, assim como o jogo de fazer-se de difícil e inacessível. "

Ainda que a ideia de humildade do garoto em voga seja uma mera reação emocional ligada à expectativa de um caricato altruísmo, nota-se que a sentimentalidade juvenil tende a ser mais sincera e pura do que o mundo relacional dos adultos. Porém, essa ideia de humildade aproximada de uma espécie de caridade, não implica altruísmo ou empatia alguma.

Mark Zuckerberg e seus pares, ao criar essa revolucionária empresa, sabiam muito bem que a arma desse negócio deveria ter como alvo preferencial o ego. O "livro da cara", "álbum pessoal", "espaço da exploração da autoimagem" potencializaria muito mais na interação desse espaço virtual o exercício da egolatria, egocentrismo, narcisismo e megalomania do que o altruísmo e a própria humildade.

Se o Facebook sinaliza cada dia mais tombar à saga do finado Orkut, eis que surge o Instagram, espaço de costumeiras imagens acompanhadas de dizeres que dão ênfase à exacerbação de conceitos como felicidade, amor-próprio, autoestima, autovalorização, autoimagem e autorrealização. Elas não tornam por si só o autor da publicação um egoísta ou narcisista (mas evidencia que, em certo sentido, a humanidade é única), assim como "selfie vigoréxico" pouco diferiria de um "sabichão" (um tolo youtuber com uma estante cheia de livros), bem como outros exemplos semelhantes a uma demonstração de talento artístico comparado a uma bizarrice qualquer que desperte atenção. Se embebecidos pelo ego ou histrionismo, tais classes de pessoas se enquadrariam no rol de humanos banais, exceção existe ao mesmo tempo para todas as demais. Afinal, seria exposição sinônimo de exibicionismo? A sugestão fica pro próximo texto.
Alagoinhas - BA
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