Um boi selvagem num curral de ovelhas

Por Jonathan Simões Freitas

Uma oração de quem ainda recalcitra contra os aguilhões

Ó Senhor,

Tenho raiva de a minha vontade não ser soberana.
De enfrentar tantos contratempos desnecessários
E limitações natural e socialmente impostas.

Por saber que o Senhor é senhor sobre ambos,
Concluo que a minha raiva, em última instância,
Recai sobre o Senhor.

Mas tenho vergonha
E até certa preocupação
De confessar.
Estaria eu entre os rebeldes?

Fico ressentido com a Queda.
O orgulho que me fere.
Eu o detesto em mim e nos outros.

É um incômodo constante
Sentir esse peso da minha carne
Enquanto permaneço suspenso na cruz.

No fundo,
O motivo é claro e eu não o nego:
Tenho raiva de ser humilhado.

Tenho dificuldades com o seu sistema de gestão;
A vontade é disputar o senhorio com o Senhor.
Mas é ridículo!
Os seus caminhos são mais altos do que os meus.

E essa sua soberania dói, mas sara;
Me faz desanimar, mas me lança à ação;
Me faz chorar, mas sorver a lágrima com um riso.

Se a vida cristã passa por essa luta de tronos,
Esse vau de Jaboque, essa estrada de Damasco,
Não largo o Senhor enquanto não me abençoar
Com a cegueira do pequeno, com a dor do manco.

Meu nome é Israel
E dura coisa é recalcitrar contra os aguilhões.
Receba, pois, hoje, mais uma vez,
No seu curral de ovelhas,
O seu boi selvagem.

Nota: Texto publicado originalmente em medium.com/@jonathansf.bra.

• Jonathan Simões Freitas, belo-horizontino de 33 anos, é casado com Thalita e pai de Manuela. É professor na UFMG e atua na Igreja Esperança, na ABC², na Associação Kuyper para Estudos Transdisciplinares (AKET) e no L’Abri. Escreve no medium.com/@jonathansf.bra.