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Opinião

Sustentada por Deus

“A vida passa depressa e nós voamos” (Sl 90.10).

Há 22 anos deixei um emprego público para dedicar mais tempo ao ministério de ensino, discipulado e evangelização. Um grupo de pessoas da igreja se ofereceu para me sustentar a fim de que eu pudesse dedicar-me melhor a isso.

Fiquei confusa e temerosa. Ainda cursava a faculdade, aliás, estava no início de uma, e não sabia se aquilo era muita ousadia. Daria para confiar? Seria empolgação, impulsividade, irresponsabilidade? Além do mais, as condições não eram favoráveis: mulher, jovem, e, solteira. Quem daria crédito? Até quando?

Foram muitas aventuras de lá para cá. Ainda hoje sou sustentada (ao menos em parte, por doações), ainda hoje dúvidas aparecem, mas, o que testemunho é sobre essa dificuldade em aprender a esperar. Muitos são os incômodos.

Lembro-me de quando, ainda no começo, poucos anos após ter entrado nessa aventura, um pastor me perguntou: “Você não tem vergonha de ser sustentada pelos outros?”. À época foi um misto de raiva, confusão, culpa, e sem saber bem, respondi que apesar de não ser fácil, entendia que estava respondendo a um chamado, trabalhando dignamente, e que tratava-se de oportunidade exercitar a fé em Deus – por quem me entendia convocada. Hoje, vejo que em todo o tempo fui sustentada pelo próprio Deus, e que ele o fez, e faz, na maioria das vezes, através de pessoas generosas, que têm sido abastecidas com generosidade (e responsabilidade) ainda maior, afinal, tudo vem da bondosa mão divina.

Nos últimos anos saí da instituição, o que em tese, deixa você ainda mais vulnerável. Entretanto, tem sido um desafio bom a essa altura da vida. O apoio de algumas igrejas, sim, tem sido maravilhoso, e creio, ser um caminho natural do trabalho exercido. No entanto, o apoio maior vem de pessoas que acompanham e investem em vocacionados disponíveis para o próximo. Viver para servir, ocupando-se de cuidados com o outro, experimentando e repartindo do evangelho de Jesus Cristo - eis um privilégio que me educa.

Nessa caminhada, porém, não poucas vezes considerei desistir, me vi aflita e sem rumo. E o que nos deixa assim? Pela minha experiência foi lidar com faltas, as mais variadas. Falta de recursos financeiros muitas vezes, mas também falta de suporte emocional, falta de encorajamento, falta de fé, falta de conhecimento (ignorância mesmo, ou, teimosia), faltas subjetivas, isto é, somos seres da incompletude (algo que creio, será resolvido na eternidade – 1 Co 13.12), vemos obscuramente ainda, apenas partes, o que nos aflige, faz nossa natureza gemer. Portanto, nossa trajetória será assim marcada, e amadurecer tem a ver com aprender a lidar com tais faltas.

A fé em Cristo Jesus nos ensina, anima, consola. O próprio apóstolo Paulo nos dá o testemunho de que em sua caminhada com Cristo havia, enfim, aprendido a adaptar-se a tempos de fartura e aos de escassez. Em suas palavras: “Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4.12-13).

Paulo sabia que estava sujeito, mesmo debaixo da vontade de Deus, a passar necessidade, ter fome, ter pouco. Contudo, aprendeu que os recursos não estão nele, mas naquele que o fortalece. E então, o melhor é esperar em Deus. Escrevo para me lembrar disso, eu preciso voltar às verdades essenciais com disciplina cotidiana. Caso contrário, minha tendência é acomodar-me na vitimização, esperando do outro, responsabilizando o outro e, assim, afastando-me do que me cabe, da história que Deus me convida a construir com Ele.

Esperar não necessariamente tem a ver com passividade, esperar em Deus pode ser um exercício diário, onde reconheço quem me fortalece, quem é que pode todas as coisas, quem é onipotente e quem sou diante dele e com ele.

Nas andanças e lindos encontros da vida vejo gente sofrendo com faltas que lembram as minhas, e às vezes ainda quero fugir. Deparar com nossa impotência existencial exige força que nos esgota se nosso olhar parar em nós. Eu ainda estou aprendendo. São as pessoas que encontro, que se oferecem e dispõem, que são instrumentos de Deus, mesmo sem saber. Eu não posso viver só, preciso da comunidade. Ensimesmada, me desvirtuo. O tempo voa e perco as lições.

Vou voando, chorando, rindo e cantando. Vou encontrando e sendo encontrada. Vou sendo formada enquanto o tempo me é dado. Ainda aprendiz, ainda ora assustada, ora refém, que vai sendo liberta de angústias infantis, angústias primitivas de uma natureza que resiste a Deus. Tempos de perigo, viver é perigoso, não?

Uma vida abundante não tem a ver com nenhuma falta, mas sim, com ser encontrada nele – aquele que nos deu o poder de sermos feitos filhas e filhos dele (Jo 1.12). E as palavras do profeta Isaías me acompanham, são o sussurro do meu coração: “Senhor, tem misericórdia de nós; pois em ti esperamos! Sê tu a nossa força cada manhã, nossa salvação na hora do perigo” (Is 33.2).


Tais Machado é uma paulista que busca alternativas para nutrir relações apesar da loucura da metrópole. Aproveita da psicologia, atuando como psicóloga clínica, mas tem esperança de aprender a amar de todo o coração.

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