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Opinião

Síndrome de aletofobia e cultura da repressão

Que ironia! A razão instrumental ancorada no ideal de progresso do Aufklärung produziu esta realidade sociocultural marcada pela “desorizontalização radical” do senso ético da existência humana em direção ao futuro da História: Para onde estamos caminhando?

A busca pela verdade das coisas (sua heurística racional) deu ensejo a uma configuração sociocultural de acomodação moral de uma existência humana conformada na “etologia da mentira”. Neste contexto, parece não haver outra coisa a ser feita a não ser celebrar a morte do ético na festa da carne da sociedade do prazer e da mentira: “comamos e bebamos, que amanhã morreremos”. O consumismo na sociedade da mentira reflete o processo de presentificação das possibilidades hedônicas inaugurado na e pela sociedade que matou Deus, a esperança da fé e a possibilidade de viver “na verdade” ancorado pelo suporte traditivo das crenças fundamentais da cristandade.

Qual será o futuro da espiritualidade cristã numa configuração de existência como esta?

O seu futuro ainda é imprevisível. Mas o seu “presente” parece ser sintomático: a espiritualidade evangélica brasileira (que se diz cristã) pouco fala da verdade, e pouco exige dos seus adeptos uma adaptação ética ao ethos da verdade. A hedonização de sua espiritualidade desenvolveu nos seus adeptos uma “alergia à verdade”, tanto em sua configuração comunicacional quanto na socioexistencial. Vive-se muito de etiqueta aí!

Mas na psicologia da existência da fé cristã não existe a possibilidade de se desenvolver a “síndrome de aletofobia”. Nela a interação dos diferentes não se realiza na base de uma exigência moral neurotizante: “É preciso ser perfeito... É necessário ser bonito pra vingar a interação!”. Pois todos os que vivem nela são aceitos como são, e carecem do “perdão acolhedor do Deus que reconciliou consigo mesmo, em Cristo, todas as coisas”, diz o apóstolo Paulo. Lamentavelmente, o complexo de autorrejeição é a proteína que alimenta a síndrome de aletofobia.

“Na verdade, na verdade, porém, [eu] te digo”, dizia sempre Jesus de Nazaré a todos que, como Nicodemos, se escondiam da verdade para alimentar a psicologia da mentira de uma existência vazia.

Não há cura para o ser humano fora da verdade, assegura a fé cristã. Por esta razão a “aletheia” é compreendida nela como “verdade participativa”. A culpa é o reflexo psicológico da autorrejeição eclodida numa configuração cultural de repressão ética em que impera o mandamento: “sede perfeitos na dinâmica da interação”. A fé cristã, contudo, não comporta o “ideal de perfeição” de uma cultura religiosa que produz deformações tanto na subjetividade quanto na intersubjetividade humanas.

A perfeição moral não é um quesito ético para a admissão psicológica de relação “eu-tu” na fé cristã. A interação sócio-afetiva deve acontecer de modo autêntico nela, i.e., deve ser compreendida como “interação dos imperfeitos”. Isto significa dizer que “viver a verdade” na fé cristã implica ser liberto da tortura psicológica de uma cultura de repressão, bem como de uma cultura da repressão. Pois foi para viver na “liberdade com responsabilidade” que Cristo nos libertou, diz o apóstolo Paulo.

Notas
1. Conceito de Gaston Bachelard usualmente referido na epistemologia contemporânea. 2. O conceito “subjetivo” tem seu correlato a nível socioestrutural (secularização objetiva) para este sociólogo.
3. Aletofobia é um conceito que agrega as palavras gregas “aletheia e fobos”. Portanto, ele significa literalmente “medo da verdade”.
4. Déficit ontológico: uma carência ontológica constitutiva que se evidencia na interação eu-tu ou eu-isso.
5. Ver um artigo de minha autoria publicado na Ciberteologia: Revista de Teologia & Cultura, edição 22, intitulado: “Ética do prazer e sociedade ateizante: uma análise socioteológica”.


• Anderson Clayton, casado, dois filhos, é doutor em teologia e doutorando em sociologia. É professor do Instituto Superior de Teologia Luterana e pastor colaborador na Igreja Confessional Luterana.
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