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Opinião

Servir a sociedade – Onde isso aparece na Grande Comissão?

Por Christopher Wright

Servir a sociedade – “Onde isso aparece na Grande Comissão?”, alguém pode perguntar. Vejo isso claramente implícito naquilo que Jesus diz no versículo 18: “… ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei”. Pois é certo que Jesus teve muitas palavras a dizer a seus discípulos sobre compaixão e justiça.
 
Mas primeiramente vale a pena ouvir os ecos nessa frase em si. Ela soa como um eco bastante claro da maneira como Moisés ou Deus se dirigiram aos israelitas no livro de Deuteronômio, insistindo com eles por repetidas vezes usando a expressão “tenham o cuidado de obedecer a todos estes regulamentos que eu (o Senhor, seu Deus) lhes estou dando[1]. E em Deuteronômio está bastante claro que aquilo que o Senhor ordenou a Israel deveria refletir o próprio caráter de Deus, ao “andar nos seus caminhos”. Leia, por exemplo, Deuteronômio 10:12-19. Depois de lhes dizer como Deus é e por quem ele mais se importa, o texto imediatamente diz para os israelitas fazerem o mesmo: cuidar dos necessitados.
 
“Pois o Senhor, o seu Deus, é o Deus dos deuses e o Soberano dos soberanos, o grande Deus, poderoso e temível, que não age com parcialidade nem aceita suborno. Ele defende a causa do órfão e da viúva e ama o estrangeiro, dando-lhe alimento e roupa. Amem os estrangeiros, pois vocês mesmos foram estrangeiros no Egito.” (Dt 10.17-19)
 
Esse é apenas um único exemplo, que poderia ser multiplicado muitas vezes por todo o Antigo Testamento, daquilo que saturava a mente de Jesus. É o chamado para ser igual a Deus por meio da demonstração de compaixão e da busca pela justiça para o pobre e o necessitado, para o desabrigado, para quem não tem família, para o que não tem terra — assim como Deus fez por Israel em sua necessidade.
 
Assim, da mesma forma e com o mesmo tom de voz, Jesus diz aos seus discípulos: “Sua missão é fazer discípulos e ensiná-los a obedecer àquilo que lhe ordenei, o que se alinha com tudo o que Deus ordenou a seu povo desde o início”.
 
Se olharmos para o Evangelho de Mateus, encontraremos essa nota em vários lugares.
  • Mateus 5:6: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça”. A palavra “justiça” às vezes é confinada ao sentido de que justiça é estar bem com Deus. Ela inclui isso, é claro, mas para Jesus e para o Antigo Testamento, a palavra significava não apenas um relacionamento justo com Deus, mas relacionamentos justos, corretos e honrados na terra. Bem-aventurados são aqueles que têm fome e sede disso, falou Jesus.”
  • Mateus 6:33: “Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça.”
  • Mateus 23:23: “Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês dão o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, mas têm negligenciado os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Vocês devem praticar estas coisas, sem omitir aquelas.”
Jesus diz que as coisas realmente importantes (literalmente “as coisas com mais peso”) da Torá são “justiça, misericórdia e humildade”. Mais uma vez, é bem provável que ele tivesse em mente um trio similar ao encontrado em Miquéias 6:8: “Pratique a justiça, ame a fidelidade e ande humildemente com o seu Deus”. Ou o trio encontrado em Zacarias 7:9: “Administrem a verdadeira justiça, mostrem misericórdia e compaixão uns para com os outros.”
 
A partir desse pano de fundo escriturístico, vem a palavra impressionante de Jesus para seus discípulos: “Vocês são a luz do mundo” (cf. Mt 5:14-16). Mas qual foi sua intenção ao fazer uma declaração tão abrangente? Será que ele quis dizer que eles deveriam ser pregadores da verdade do evangelho que levariam luz às pessoas nas trevas da ignorância e do pecado? Sim, é claro que ele teria incluído isso na tarefa geral da missão apostólica — como Paulo explica, usando a mesma metáfora, em 2 Coríntios 4:4-6. Mas olhe novamente para aquilo que Jesus de fato enfatiza quando explica o que quis dizer com o termo “luz”. “Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus”. Não foi “para que eles possam ouvir seu testemunho impressionante”, mas para “que vejam as suas boas obras”. Eles de fato tinham uma mensagem para pregar — é claro que sim. As boas novas do reino de Deus devem ser compartilhadas. Mas quando Jesus fala sobre “luz” ele está se referindo a vidas que são atraentes[2] por serem cheias de bondade, misericórdia, amor, compaixão e justiça.
 
Jesus está mais uma vez bebendo de uma forte tradição do Antigo Testamento. Deus havia chamado Israel para ser “luz para as nações”, e isso incluía a qualidade da vida do povo como uma sociedade. “Luz” tinha um forte significado ético e social. Ouça Isaías e perceba a combinação de “luz” e “justiça” no sentido explicado acima. A luz brilha a partir de pessoas dedicadas à compaixão e à justiça. E, como Isaías continuaria, tal luz, pelo fato de refletir a luz da própria presença e da glória de Deus entre seu povo, atrairá as nações — é atraente em termos missionais (Is 60:1-3). Ela trará pessoas para glorificarem o Deus vivo. Não foi isso o que Jesus disse?
 
"O jejum que desejo não é este: soltar as correntes da injustiça, desatar as cordas do jugo, pôr em liberdade os oprimidos e romper todo jugo? Não é partilhar sua comida com o faminto, abrigar o pobre desamparado, vestir o nu que você encontrou, e não recusar ajuda ao próximo? Aí sim, a sua luz irromperá como a alvorada, e prontamente surgirá a sua cura; a sua retidão irá adiante de você. Se com renúncia própria você beneficiar os famintos e satisfizer o anseio dos aflitos, então a sua luz despontará nas trevas, e a sua noite será como o meio-dia." (Is 58.6-8, 10)
 
Assim, portanto, Deus ordenou a Israel no Antigo Testamento que fosse um povo comprometido com o exercício prático e terreno de compaixão e justiça. E Jesus tanto endossou esse mandamento a seus discípulos (e, de fato, o aprofundou radicalmente) quanto depois, na Grande Comissão, ordenou que eles o passassem adiante para os novos discípulos que eles fariam (“ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei”). Tanto em sua vida como uma comunidade de discípulos e em sua missão de fazer discípulos, eles deveriam refletir o caráter do Deus que se importa com o pobre e o necessitado, que defende a causa da viúva e do órfão. E eles o fizeram.
 
Conhecemos, é claro, a empolgante história da missão da igreja primitiva, espalhando-se em todas as direções através do evangelismo e da plantação de igrejas. Mas não devemos desprezar a maneira como os apóstolos e aquelas primeiras comunidades de crentes mostraram um forte compromisso com essa outra dimensão da Grande Comissão: obedecer àquilo que o próprio Jesus havia ensinado sobre compaixão e justiça social e econômica.
 
Lucas nos conta por duas vezes que a primeira comunidade de seguidores de Jesus em Jerusalém procurava dar à sua unidade espiritual um trabalho prático extra em mutualidade econômica (At 2:44-45; 4:32-38). Eles não acreditavam que deveria haver nenhuma pessoa pobre entre eles enquanto tivessem condições de fazer algo em relação a isso. Quer conscientemente ou não, eles estavam cumprindo outra palavra de Deus em Deuteronômio (At 4:43 é quase uma tradução literal em grego do texto em Dt. 15:4).
 
A primeira viagem missionária de Paulo com Barnabé aconteceu de fato não quando eles foram enviados pela igreja de Antioquia para pregar o evangelho na Ásia Menor (At 13), mas quando foram enviados anteriormente por aquela mesma igreja para trazer alívio à fome dos crentes necessitados em Jerusalém (At 11:27-30). Essa lembrança deve ter sido parte da razão pela qual Paulo realizou esforços constantes para levantar fundos entre as igrejas gentias na Grécia para o apoio aos pobres na Judeia. Claramente, Paulo havia ensinado tal responsabilidade àqueles novos discípulos, a ponto de eles mesmos suplicarem pelo privilégio de participar dela (2Co 8:9). De fato, em um momento muito significativo na carreira missionária de Paulo, quando ele recebeu a aceitação (“a mão direita” que lhes foi estendida, cf. Gl 2:9) por parte dos apóstolos de Jerusalém para a mensagem do evangelho que ele estava pregando, Paulo adiciona este comentário revelador, mostrando que incluía o cuidado aos pobres como uma parte integral de seu trabalho missionário: "Somente pediram que nos lembrássemos dos pobres, o que me esforcei por fazer" (Gl 2.10).
 
Essa ênfase na prática da compaixão econômica e social ecoa em outros lugares. As passagens a seguir falam por si mesmas e não nos deixam nenhuma dúvida sobre a importância desse tipo de obediência: 1Timóteo 6:17-19; Tiago 2:14-17; 1João 3:17-18. Jesus e os apóstolos teriam todos concordado com a afirmação simples de Provérbios 29:7: “Os justos levam em conta os direitos dos pobres, mas os ímpios nem se importam com isso”.
 
Compromisso da Cidade do Cabo fornece uma rica fundação bíblica para essa dimensão da missão:
 
“Nós amamos todos aqueles que vivem em pobreza e sofrimento no mundo. A Bíblia nos diz que o Senhor tem amor para com todas as suas criaturas, defende a causa do oprimido, ama o estrangeiro, alimenta o faminto, sustenta o órfão e a viúva.[3] A Bíblia também mostra que Deus deseja fazer essas coisas através de seres humanos comprometidos com tal ação. Deus responsabiliza principalmente aqueles que são nomeados para liderança política ou jurídica na sociedade,[4] mas ao povo de Deus também foi ordenado – através da lei e dos profetas, dos Salmos e Provérbios, de Jesus e Paulo, Tiago e João – que refletisse o amor e a justiça de Deus em atos de amor e justiça para com o necessitado.”[5]
 
“Tal amor pelo pobre exige não apenas nosso amor, nossa misericórdia e nossas obras de compaixão, mas também que façamos justiça, expondo e nos opondo a tudo o que oprime e explora o pobre. “Não devemos ter medo de denunciar o mal e a injustiça onde quer que existam.”[6] [7]
 
Penso eu que missão integral nada mais é do que colocar carne na frase que Paulo usa para resumir seu esforço missional completo entre todas as nações, no início e no final de Romanos: “a obediência que vem pela fé”. Somos chamados à integração da fé e das obras, de palavras e atos, de proclamação e demonstração do evangelho.

• Christopher J. H. Wright, autor de Povo, Terra e Deus e O Deus Que Eu Não Entendo, e coautor do lançamento O Deus da Justiça e a Justiça de Deus, é diretor internacional da Langham Partnership, onde assumiu a função ocupada por John Stott durante 30 anos. Ele é também presidente do Grupo Teológico de Trabalho do Comitê de Lausanne e do Comitê Teológico da Tearfund, conhecida organização cristã de assistência e desenvolvimento. Escreveu outros livros, incluindo Knowing Jesus Through the Old Testament e o premiado The Mission of God. Chris e sua esposa, Liz, têm quatro filhos e cinco netos.

> Este texto é um trecho do artigo "As cinco marcas da missão". Para ler na íntegra, acesse aqui.
NOTAS
1. Isso não seria surpresa, uma vez que Jesus meditou profundamente sobre Deuteronômio, fazendo citações daquele livro por três vezes quando foi tentando por Satanás no deserto.
2. A palavra traduzida como “boas” é kalos, que também significa “bela”, não apenas moralmente correta.
3. Salmos 145:9, 13, 17; 147:7-9; Deuteronômio 10:17-18.
4. Gênesis 18:19; Êxodo 23:6-9; Deuteronômio 16:18-20; Jó 29:7-17; Salmos 72:4, 12-14; 82; Provérbios 31:4-9; Jeremias 22:1-3; Daniel 4:27.
5. Êxodo 22:21-27; Levítico 19:33-34; Deuteronômio 10:18-19; 15:7-11; Isaías 1:16-17; 58:6-9; Amós 5:11-15, 21-24; Salmos 112; Jó 31:13-23; Provérbios 14:31; 19:17; 29:7; Mateus 25:31-46; Lucas 14:12-14; Gálatas 2:10; 2 Coríntios 8-9; Romanos 15:25-27; 1 Timóteo 6:17-19; Tiago 1:27; 2:14-17; 1 João 3:16-18.
6. Pacto de Lausanne Parágrafo 5.
7. Compromisso da Cidade do Cabo I.7.c.


LANÇAMENTO | O DEUS DA JUSTIÇA E A JUSTIÇA DE DEUS
 
O Deus da Justiça e a Justiça de Deus reúne uma seleção preciosa de textos, com abordagem bíblica e experiências concretas de homens e mulheres de diferentes nacionalidades e um ministério comum: a busca pela justiça. E, diga-se, a justiça não é um tema abstrato.
 

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