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Opinião

Reforma em movimento

Por Valdir Steuernagel e Marcell Steuernagel

Lembrar os 500 anos da Reforma tem sido uma oportunidade ímpar para um reencontro com os princípios que a nortearam e as “pessoas-chave” que determinaram a sua caminhada. Mais do que celebrar a Reforma como algo estático, é importante destacar sua origem como um movimento que teve precursores, detratores e seguidores.

O próprio Lutero, considerado o pai da Reforma, foi um homem em movimento. Desde que anunciou as 95 teses e elas se espalharam com rapidez, ele nunca mais conseguiu parar. Mesmo sem viajar para longe de Wittenberg, seus deslocamentos aconteceram em função da Reforma. E foi numa dessas viagens que ele veio a falecer, em 18 de fevereiro de 1546.

Uma obra monumental, composta por 112 volumes, começou a ser publicada a partir de 1883. A Weimarer Kritische Gesamtausgabe reuniu os diversos escritos e comentários de Lutero, dedicando seis volumes às famosas “conversas de mesa” (Tischreden), palavras e expressões anotadas por visitantes e parceiros enquanto conversavam em torno da sua mesa, caminhavam com ele no jardim ou o acompanhavam em alguma viagem. Outros dezoito volumes são dedicados a cartas que Lutero escreveu a diferentes pessoas e em múltiplas situações. Grande parte do que hoje se considera teologia de Lutero provém dessas correspondências e das conversas em que ele manifestava sua percepção do que significava trilhar o caminho do evangelho, bem como a formação de uma comunidade de fé marcada por um encontro novo e transformador com a graça libertadora de Deus, tal como expressa nos evangelhos. Lutero foi um teólogo a caminho, um pastor em movimento.

Nessa coleção vê-se que grande parte da obra de Lutero é composta de sermões e exposições bíblicas. Lutero era um pregador contumaz, tanto em Wittenberg como nas cidades que visitava. A última de suas prédicas foi proferida em Eisleben, no dia 31 de janeiro, dias antes de morrer. Em seu leito de morte, conta S. Nichols, ele pronunciou o seu último sermão – duas palavras das Escrituras, uma de João 3.16 e a outra do Salmo 68.19: “Bendito seja o Senhor, Deus, nosso Salvador, que cada dia suporta as nossas cargas”. Lutero foi um homem da Palavra e um pastor de igreja. Um peregrino do evangelho.

Ecclesia reformata et semper reformanda est

Um dos princípios da Reforma é esta famosa expressão em latim que diz que a igreja da Reforma precisa estar em contínua reforma. Ela ressalta que a igreja precisa nutrir-se de forma constante das Escrituras e sempre voltar a ela, pois nela a comunidade dos crentes encontra o seu lugar primordial de escuta, interpretação e vivência. Essa Palavra gera e alimenta uma comunidade formada por “todos” os seus membros, todos eles, santos sacerdotes, que é outro princípio da Reforma. Ou seja, essa é uma palavra que se encarna e que encontra expressão na vida em comunhão. Este movimento que parte do encontro com a Palavra para a formação da comunidade de fé tem algumas marcas, entre as quais:

• A Reforma é um movimento da “cúria” para a comunidade.
No centro da vida da igreja está a comunidade de fé e não a “cúria”, entendida como o centro de poder que controla e alimenta a igreja e sua fé. Este movimento desconstrói o centro, empodera a comunidade e democratiza a vivência da fé.

• A Reforma é um movimento do “dogma” para a fé do dia a dia.
Ela afirma que a fé, a partir do encontro com a Palavra, deve ser discernida, vivida e afirmada na vivência comunitária. Esta afirmação nega o valor do “dogma” como uma afirmação feita a distância, a partir de uma postura clerical imposta sobre a comunidade de fé. Pelo contrário, o dogma está a serviço de uma fé e uma comunidade que preservam a centralidade em Cristo.

• A Reforma é um movimento do mosteiro para a cidade.
Ela afirma que a vida cristã precisa ser vivida no público. Ela precisa estar disponível no vernáculo, pois é ali que fermenta cada área da vida, para ser experimentada como vocação a serviço de Deus. Esta afirmação questiona o mosteiro como o centro onde se gesta e modela a vivência da fé e, assim, “empurra o monge para fora dos muros do mosteiro” e o coloca a serviço da vida da igreja.

• A Reforma é um movimento do clero e do celibato para a vocação secular e para a família.
Ela afirma a família como “a pequena igreja” e, como tal, o lugar primordial onde se ensina e vive a fé. Afirma que todos os cristãos são iguais e exercem um sacerdócio, eclesiástico ou não. Em todos os setores da vida se experimenta a vocação e o envio, e daí nasce a riqueza da igreja. Assim, questiona o status especial do clero e o celibato como uma expressão diferenciada de santidade e exercício ministerial.

Cada um desses movimentos é crucial para os nossos dias e para as igrejas que se declaram seguidoras da Reforma, ainda que com uma configuração diferenciada a cada geração e contexto. No entanto, a igreja precisa de forma essencial: viver da Palavra e fugir da mera preocupação consigo mesma; estar em movimento para captar a novidade do evangelho e fugir da tentação de se constituir num centro de controle e poder; viver a tradução do evangelho para cada área da vida e fugir de processos de clericalização que produzam feudos eclesiásticos e controles pastorais marcados pela síndrome ditatorial.

Portanto, se o sacerdócio é de todos e se a Palavra está disponível para ser abraçada, isto se expressa na vida em comunidade, dentro e fora da igreja, no micro e no macro. Assim o Verbo encarna no cotidiano e o fermento do Reino transforma a realidade de perto e a de longe. É desta maneira que somos chamados a viver o espírito da Reforma, algo hoje tão necessário.

Nota: Texto publicado originalmente na seção Redescobrindo a Palavra de Deus, na revista Ultimato,
edição 367.

• Valdir Steuernagel
é pastor na Comunidade do Redentor, em Curitiba, PR. Faz parte da Aliança Cristã Evangélica do Brasil, da Aliança Cristã Evangélica Mundial e da Visão Mundial.

• Marcell Steuernagel é músico e acadêmico. Mora nos Estados Unidos, onde cursa doutorado em música e igreja.

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