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Opinião

“Amazing Grace” – 250 anos do hino que foi muito além dos círculos cristãos

Entrevista

Steve Turner

O hino “Amazing Grace” [Graça maravilhosa] completou 250 anos no dia 1º de janeiro. Ele foi escrito por John Newton, junto com seu amigo e poeta William Cowper. A melodia original se perdeu, e a que conhecemos hoje é a melodia do hinário americano The Southern Harmony, que data de 1835. Ao longo dos últimos 250 anos, “Amazing Grace” tornou-se patrimônio mundial, indo muito além dos círculos cristãos.

Steve Turner é jornalista, poeta e escritor. É crítico musical e colaborou com diversas revistas, como Melody Maker, Rolling Stone, NME – New Musical Express e Christianity Today. Entre seus vários livros estão Engolidos pela Cultura Pop (Editora Ultimato), Cristianismo Criativo? (W4 Editora) e The Beatles – a história por trás de todas as canções (Editora Cosac Naify).

Em Amazing Grace – The Story of America’s Most Beloved Song [Amazing Grace – A história da canção mais amada da América), Steve Turner apresenta a história do hino desde Olney, Inglaterra, onde foi escrito, até a fronteira do Kentucky–Tennessee e outras partes do sul dos Estados Unidos, por onde o hino começou a se espalhar. A edição 401 de Ultimato fez questão de ouvi-lo na entrevista a seguir.

A revista People, em uma resenha1 do seu livro Amazing Grace – the Story of America’s Most Beloved Song, disse que você tinha “uma perspectiva alternativa e uma fé paroquiana”. O que essa expressão quer dizer e o que podemos aprender com ela?

Acho que quem escreveu a resenha provavelmente sabia que eu havia escrito livros sobre rock e sobre questões relacionadas à fé. Recebi o comentário como um grande elogio, pois estive engajado tanto no mundo da igreja como no mundo da cultura popular. Grande parte da minha escrita foi uma tentativa ou de explicar o mundo para si mesmo e para a igreja, ou de explicar a igreja para o mundo e para si mesma.

Em 2002, quando foi publicado o seu livro, você afirmou que “Amazing Grace” era a música mais executada de todos os tempos. Ela ainda ocupa esta posição? Passados mais de vinte anos, você fez novas descobertas sobre a música e o seu autor?

Após o lançamento do livro, fui contatado por dois americanos que estavam fazendo uma coletânea de todas as gravações existentes de “Amazing Grace”. Eles, por fim, doaram o resultado de seu trabalho para a Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, em Washington, DC. A coleção Amazing Grace,2 de Allan Chasanoff e Raymon Elozua, contém mais de 3 mil gravações publicadas do hino “Amazing Grace”, feitas tanto por artistas individuais como por grupos musicais. Trata-se, sem dúvida, da maior coletânea de versões diferentes de um mesmo trabalho musical presente na Biblioteca do Congresso. Não tenho acompanhado o status da música. Tenho observado, entretanto, a sua frequente utilização em filmes e séries de TV, bem como em ocasiões trágicas nos Estados Unidos – como, por exemplo, durante a cerimônia fúnebre realizada para as vítimas do tiroteio de Charleston, quando foi cantada pelo ex-presidente Barack Obama.

O que 
podemos celebrar nestes 250 anos de “Amazing Grace”? Perenidade, centenas de gravações, centenas de músicos, abrangência territorial, abrangência social (na igreja e fora dela), testemunho genuíno de encontro com Jesus...

É muito significativo que uma música confessional escrita por um calvinista inglês tenha alcançado uma posição tão duradoura em nossa cultura, especialmente em uma época em que há muito ressentimento em relação ao cristianismo.

Você conta em seu livro que John Newton tornou-se comerciante de escravos depois de sua conversão [que deu origem à letra de “Amazing Grace”]. Isso desmerece a música e o seu autor?

Não. A música foi escrita um longo tempo depois do envolvimento do autor no comércio de escravos. Mais tarde, ele não somente se tornou um abolicionista fervoroso, como também encorajou seu amigo William Wilberforce a se envolver com a questão no parlamento britânico – ¬o que levou à abolição da escravatura na Grã-Bretanha. Embora ele não fale abertamente na música sobre seus dias de comerciante de escravos, ele afirma ter sido um “miserável” e fala sobre os “perigos, labores e armadilhas” que encontrou. Antes de se converter, ele experimentou tanto a condição de escravo como a de comerciante de escravos. Após a sua conversão, tornou-se capitão de navios negreiros, e o melhor que conseguiu pensar em fazer para que sua fé tivesse algum efeito em seu trabalho foi proibir que os marinheiros xingassem, além de obrigá-los a frequentar cultos aos domingos no convés do navio. Ele não fazia ideia de como as suas ações estavam afetando os escravos abaixo do convés. Assim como a maioria de seus contemporâneos, ele não via problema algum na posse de escravos. Com o passar do tempo, entretanto, Newton começou a perceber que o comércio de escravos era errado como um todo e que não precisava ser organizado, mas, sim, abolido. Este é o epitáfio que ele escreveu para si mesmo: “John Newton, clérigo, uma vez infiel e libertino, servo de escravos na África, foi pela rica misericórdia de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo preservado, restaurado, perdoado e encarregado de pregar a fé que antes tentava destruir”.

Para Rookmaaker, “a arte não precisa de justificativa”, nem mesmo por razões religiosas. Você diria que isso é verdade também para “Amazing Grace”, já que a música é cheia de símbolos e pode ser aplicada em uma enorme quantidade de situações? O que a torna tão especial? O que há neste hino que produz tanto fascínio?

Newton e William Cowper, seu amigo poeta, escreveram músicas para a paróquia em Olney onde Newton era pastor. As músicas eram usadas para reforçar as lições dos sermões. Creio que “Amazing Grace” é tão fascinante porque, no sentido mais amplo, é uma música sobre transformação e redenção. Muitos, ao ouvi-la, pensam sobre alguma situação em que estavam perdidos e foram encontrados, estavam cegos e então puderam ver.

Guardadas as especificidades, a luta contra a escravidão no século 18 tem paralelos com a luta contra o racismo hoje. “Amazing Grace” pode ser um hino que celebra cada conquista neste sentido?

“Amazing Grace” foi usada por manifestantes do Movimento dos Direitos Civis durante os anos 1960 no sul dos Estados Unidos, então não vejo por que não. As pessoas me dizem com frequência coisas como: “Este era o hino favorito do meu avô”, então há um aspecto histórico familiar, bem como nacional e internacional.

Em que ocasiões importantes da história “Amazing Grace” esteve presente?

O atentado de 11 de setembro aconteceu enquanto eu estava escrevendo o livro, e o hino foi usado com muita frequência naquela época, especialmente nos funerais dos bombeiros.

Você sabe algo sobre a trajetória de “Amazing Grace” no Brasil e na América Latina?

Não consigo me lembrar de nada no momento, mas tenho certeza que encontraria algo se pesquisasse!

Tendo sido executada por tantos músicos e grupos seculares, ela ainda carrega a sua mensagem cristã?

Ela é o que é. Não é uma música que diz às pessoas o que fazer. É um testemunho pessoal. Poucas pessoas cantam todos os versos, então algumas partes acabam ficando de fora, e existem aqueles que querem mudar “salvou um miserável como eu” (saved a wretch like me) para “salvou uma alma como eu” (saved a soul like me) ou “salvou alguém como eu” (saved someone like me) porque não gostam da ideia de serem considerados miseráveis. Newton tinha dois motivos para usar a palavra miserável (wretch). Primeiro, ele acreditava que era um miserável diante de Deus. Passara a maior parte da vida zombando de Deus e fugindo dele. O segundo motivo é baseado na experiência de Newton como escravo. Em 1745, ele foi levado à ilha Plantain, perto da costa de Serra Leoa, e entregue à “esposa” africana do comerciante de escravos para quem trabalhava. Ela o acorrentou e os outros escravos riam dele e jogavam comida nele. Nessa ocasião, Newton estava na condição mais miserável que conseguia imaginar – imundo, queimado de sol e doente com malária. Creio que ele veio a enxergar sua condição física naquela ocasião como uma metáfora para seu estado moral.

Notas
1. Picks and Pans Review: ‘The Story of America’s Most Beloved Song’. People. 20 jan. 2003. Disponível em: https://people.com/archive/picks-and-pans-review-the-story-of-americas-most-beloved-song-vol-59-no-2/
2. Collection Amazing Grace. Library of Congress. Disponível em: https://www.loc.gov/collections/amazing-grace/about-this-collection/

Traduzido por Luíza Veríssimo.

Entrevista originalmente publicada na edição 401 de Ultimato.

Saiba mais:
» Engolidos Pela Cultura Pop - Arte, mídia, e consumo: uma abordagem cristã, Steve Turner
» A Arte Não Precisa de Justificativa, H. R. Rookmaaker
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