Opinião
05 de julho de 2018- Visualizações: 3803
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Como você lê a Bíblia?
ENTREVISTA | Elsie Gilbert
Ultimato - Como o tempo do seu momento de devocional e leitura bíblica é distribuído no dia a dia?
Elsie Gilbert - Tiro um tempo devocional antes de começar meu dia de trabalho, quando me sento na minha mesa, no meu escritório. Trabalho em casa, o que é uma bênção. Mas às vezes é difícil para as pessoas ao meu redor perceberem que quero ficar sozinha. Quando entro no escritório, estou sinalizando que não quero ser interrompida. Isto ajuda.
Como desenvolver disciplina diária para a leitura da Bíblia sem cair na monotonia de uma leitura estéril?
Já tentei muitas formas de ler a Bíblia. Houve um tempo em que eu queria produção, tantos capítulos por dia. Isto sempre me frustrava o que geralmente acontecia quando eu chegava no livro de Números. Hoje eu encaro a leitura devocional da Bíblia como comida. Assim como é necessário apreciar e se sentir nutrido e saciado ao final de uma refeição, eu procuro este sentimento na leitura devocional. Comer rápido causa indigestão. Não leio textos grandes, talvez cinco a dez versículos por vez. Mas gasto um bom tempo tentando imaginar a cena, imaginando quem eu seria naquela história, qual seria a minha reação se o mesmo acontecesse comigo, por que aquele episódio foi registrado, como ele fala comigo hoje. Depois eu escrevo o que estou pensando em formato de oração. Às vezes eu saio destes momentos muito feliz e confortada, reabastecida. Outras vezes convicta de pecado e de coisas que precisam mudar em minha vida. Mas é raro eu sair indiferente, como se o que eu li não tivesse nenhuma ligação com a minha vida e estado espiritual presentes. E quando isto acontece, eu sei que foi porque não parei, não deixei as preocupações de lado e fiz um exercício com os lábios, distraída. O Espírito Santo quer a minha atenção para poder falar. A minha tarefa é me dispor, me aquietar e estar presente inteira: de corpo e alma.
Com quem aprendeu o estilo de leitura e reflexão da Bíblia que você segue?
Há muito tempo li o livro de Richard Foster, Celebração da Disciplina, que me alertou para as formas clássicas de disciplinas espirituais. Mais tarde aprendi sobre a lectia divina desenvolvida pelo jesuíta católico Inácio de Loyola. Ultimamente, encontrei um site mantido pelos jesuítas irlandeses que se chama “espaço sagrado”. Com frequência sigo a lectia divina proposta por eles. E com igual frequência me enveredo por textos bíblicos inspirados pelas leituras contidas lá. Por exemplo, uma fala em Mateus sobre os profetas, me compele a ir atrás daquela profecia. Uma oração de Jesus me remete de volta a algum salmo, e assim por diante. Quando uma fala parece obscura, procuro em um comentário bíblico a interpretação de alguém que estudou aquele texto com muito mais profundidade. Mas quase sempre eu volto e me pergunto: o que o Senhor quer falar comigo por meio desta passagem, hoje, agora, aqui?
Poderia compartilhar alguma anotação que tenha feito em uma devocional, que tenha sido significativa pra você?
Louvar-te-ei porque me escutaste e me salvaste.
A pedra que os edificadores rejeitaram tornou-se cabeça de esquina.
Foi o SENHOR que fez isto, e é coisa maravilhosa aos nossos olhos.
Este é o dia que fez o SENHOR; regozijemo-nos e alegremo-nos nele. (Salmos 118.21-25)
Senhor Jesus, é difícil para mim antecipar este paradoxo: que aquilo que nossa lógica e sabedoria humana admira e acata é muitas vezes o que o Senhor despreza e aquilo que desprezamos, é o que o Senhor usa para nos salvar. A pedra rejeitada se tornando a mais importante, a pedra fundamental em uma construção. Hoje, quem rejeita a pedra? O mundo. Para o mundo, não faz sentido construir a paz e a prosperidade a partir de Cristo. Cristo divide, Cristo gera conflitos religiosos, intolerância, guerra. Construir a partir de Cristo é algo ultrapassado, herança da “Idade das Trevas”. Os mais velhos entre nós desejam construir a partir da razão, os mais novos, a partir da experiência e da experimentação. O mundo se encheria de regulamentos e “camisas de força” se o construíssemos a partir de um ser humano, um ser humano iluminado e idealista, um homem bom, mas um mero ser humano, Jesus. O mundo diz que a partir das nossas realidades concretas precisamos buscar sistemas de proteção, barreiras e diques que nos protejam contra as ameaças. Como se as ameaças estivessem do lado de fora. Mas eu sei que as ameaças estão dentro de mim. E o Senhor é o único capaz de vir, fazer morada no seu povo. O Senhor é o único capaz de construir a partir de ruínas, de fazer reforma de forma que a construção se torne um forte capaz de resistir às tempestades. Portanto, eu concordo com o salmista: Louvar-te-ei porque me escutaste e me salvaste.
Quais dicas você daria para um cristão novo na fé conseguir desenvolver o hábito de leitura bíblica devocional diária?
Insista na ideia de que a leitura devocional da Bíblia alimenta a sua alma. Nós gastamos muito tempo pensando na alimentação para o corpo. Dedique pelo menos 10% deste tempo e esforço pesquisando “receitas” que o levarão à uma alimentação espiritual que satisfaz. Não deixe de se alimentar espiritualmente porque a última “refeição” não saciou a sua fome espiritual. É por meio da tentativa e acerto que descobrimos o que funciona para nós. Mas alimentar é condição básica de sobrevivência!
• Elsie Gilbert é jornalista e editora do blog da Rede Mãos Dadas.
Ultimato - Como o tempo do seu momento de devocional e leitura bíblica é distribuído no dia a dia?
Elsie Gilbert - Tiro um tempo devocional antes de começar meu dia de trabalho, quando me sento na minha mesa, no meu escritório. Trabalho em casa, o que é uma bênção. Mas às vezes é difícil para as pessoas ao meu redor perceberem que quero ficar sozinha. Quando entro no escritório, estou sinalizando que não quero ser interrompida. Isto ajuda.Como desenvolver disciplina diária para a leitura da Bíblia sem cair na monotonia de uma leitura estéril?
Já tentei muitas formas de ler a Bíblia. Houve um tempo em que eu queria produção, tantos capítulos por dia. Isto sempre me frustrava o que geralmente acontecia quando eu chegava no livro de Números. Hoje eu encaro a leitura devocional da Bíblia como comida. Assim como é necessário apreciar e se sentir nutrido e saciado ao final de uma refeição, eu procuro este sentimento na leitura devocional. Comer rápido causa indigestão. Não leio textos grandes, talvez cinco a dez versículos por vez. Mas gasto um bom tempo tentando imaginar a cena, imaginando quem eu seria naquela história, qual seria a minha reação se o mesmo acontecesse comigo, por que aquele episódio foi registrado, como ele fala comigo hoje. Depois eu escrevo o que estou pensando em formato de oração. Às vezes eu saio destes momentos muito feliz e confortada, reabastecida. Outras vezes convicta de pecado e de coisas que precisam mudar em minha vida. Mas é raro eu sair indiferente, como se o que eu li não tivesse nenhuma ligação com a minha vida e estado espiritual presentes. E quando isto acontece, eu sei que foi porque não parei, não deixei as preocupações de lado e fiz um exercício com os lábios, distraída. O Espírito Santo quer a minha atenção para poder falar. A minha tarefa é me dispor, me aquietar e estar presente inteira: de corpo e alma.
Com quem aprendeu o estilo de leitura e reflexão da Bíblia que você segue?
Há muito tempo li o livro de Richard Foster, Celebração da Disciplina, que me alertou para as formas clássicas de disciplinas espirituais. Mais tarde aprendi sobre a lectia divina desenvolvida pelo jesuíta católico Inácio de Loyola. Ultimamente, encontrei um site mantido pelos jesuítas irlandeses que se chama “espaço sagrado”. Com frequência sigo a lectia divina proposta por eles. E com igual frequência me enveredo por textos bíblicos inspirados pelas leituras contidas lá. Por exemplo, uma fala em Mateus sobre os profetas, me compele a ir atrás daquela profecia. Uma oração de Jesus me remete de volta a algum salmo, e assim por diante. Quando uma fala parece obscura, procuro em um comentário bíblico a interpretação de alguém que estudou aquele texto com muito mais profundidade. Mas quase sempre eu volto e me pergunto: o que o Senhor quer falar comigo por meio desta passagem, hoje, agora, aqui?
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Louvar-te-ei porque me escutaste e me salvaste.
A pedra que os edificadores rejeitaram tornou-se cabeça de esquina.
Foi o SENHOR que fez isto, e é coisa maravilhosa aos nossos olhos.
Este é o dia que fez o SENHOR; regozijemo-nos e alegremo-nos nele. (Salmos 118.21-25)
Senhor Jesus, é difícil para mim antecipar este paradoxo: que aquilo que nossa lógica e sabedoria humana admira e acata é muitas vezes o que o Senhor despreza e aquilo que desprezamos, é o que o Senhor usa para nos salvar. A pedra rejeitada se tornando a mais importante, a pedra fundamental em uma construção. Hoje, quem rejeita a pedra? O mundo. Para o mundo, não faz sentido construir a paz e a prosperidade a partir de Cristo. Cristo divide, Cristo gera conflitos religiosos, intolerância, guerra. Construir a partir de Cristo é algo ultrapassado, herança da “Idade das Trevas”. Os mais velhos entre nós desejam construir a partir da razão, os mais novos, a partir da experiência e da experimentação. O mundo se encheria de regulamentos e “camisas de força” se o construíssemos a partir de um ser humano, um ser humano iluminado e idealista, um homem bom, mas um mero ser humano, Jesus. O mundo diz que a partir das nossas realidades concretas precisamos buscar sistemas de proteção, barreiras e diques que nos protejam contra as ameaças. Como se as ameaças estivessem do lado de fora. Mas eu sei que as ameaças estão dentro de mim. E o Senhor é o único capaz de vir, fazer morada no seu povo. O Senhor é o único capaz de construir a partir de ruínas, de fazer reforma de forma que a construção se torne um forte capaz de resistir às tempestades. Portanto, eu concordo com o salmista: Louvar-te-ei porque me escutaste e me salvaste.
Quais dicas você daria para um cristão novo na fé conseguir desenvolver o hábito de leitura bíblica devocional diária?
Insista na ideia de que a leitura devocional da Bíblia alimenta a sua alma. Nós gastamos muito tempo pensando na alimentação para o corpo. Dedique pelo menos 10% deste tempo e esforço pesquisando “receitas” que o levarão à uma alimentação espiritual que satisfaz. Não deixe de se alimentar espiritualmente porque a última “refeição” não saciou a sua fome espiritual. É por meio da tentativa e acerto que descobrimos o que funciona para nós. Mas alimentar é condição básica de sobrevivência!
• Elsie Gilbert é jornalista e editora do blog da Rede Mãos Dadas.
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