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Opinião

C. S. Lewis: o poder e os limites da oração

No final das contas, qual a diferença que a oração faz?

Por Rosifran Macedo
 
Quando vivemos uma situação de crise complexa prolongada, como um câncer, uma pessoa querida com doença terminal que requer cuidados contínuos, uma guerra, uma pandemia, um filho com um comportamento destrutivo, isto pode abalar várias áreas da nossa vida como o psicológico, as emoções, a saúde, e gerar questionamentos profundos quanto a fé em Deus e nossa confiança na oração. Aquilo que afirmamos crer pode não estar ressonando com a realidade que estamos vivendo.
 
C. S. Lewis, durante a tragédia da Segunda Guerra Mundial, muitas vezes era questionado por ateus e cristãos sobre a eficácia da oração. Ele escreveu vários artigos na tentativa de responder tais indagações e encorajar àqueles que buscavam alguma ajuda. Ele relata a objeção mais comum contra a oração: “O que você pede é bom – para você e para o mundo em geral – ou não é. Se for, um Deus bom e sábio o fará de qualquer maneira. Se não for, Ele não o fará. Em nenhum dos casos sua oração pode fazer qualquer diferença.”1
 
Muitas vezes, sinto assim diante das minhas orações. Há alguns pedidos que tenho colocado diante de Deus, por tanto tempo, e nada acontece, outros, só pensei, fiz uma oração por acaso e foram atendidos. No final das contas, qual a diferença que a oração faz?
 
Lewis fala que: “Mas se esse argumento é válido, certamente é um argumento não apenas contra orar, mas contra fazer qualquer coisa? Em cada ação, assim como em cada oração, você está tentando obter um certo resultado; e esse resultado deve ser bom ou ruim. Por que, então, não discutimos, como argumentam os oponentes da oração, e dizemos que se o resultado pretendido for bom, Deus o fará acontecer sem a sua interferência, e que se for ruim, Ele impedirá que aconteça, por mais que você tente fazer? Por que lavar as mãos? Se Deus deseja que elas fiquem limpas, elas ficarão limpas sem que você as lave.”2
 
Embora a maioria dos acontecimentos no mundo estejam fora do nosso controle, há uma esfera onde agimos diretamente sobre os resultados, fazemos o café, tomamos banho e cuidamos da nossa saúde. Se cremos em Deus, sabemos que Ele criou o universo de tal forma permitindo que as nossas ações contribuam para a execução dos seus propósitos em nossas vidas e de outros. Temos a liberdade de agir da maneira que acharmos melhor. As nossas ações podem ser exercidas tanto para o bem como para o mal. Podemos ajudar uma idosa a atravessar a rua, ou assaltá-la, construir um hospital ou uma bomba atômica, plantar árvores ou destruir uma floresta.
 
Lewis afirma então que: “Pode ser um mistério porque Ele deveria ter permitido que causássemos eventos reais; mas não é mais estranho que Ele nos permita causá-los orando do que por qualquer outro método.” Citando Pascal, ele diz que Deus nos criou num universo onde temos a “dignidade da causalidade” e que podemos contribuir para “o curso dos acontecimentos” ao nosso redor de duas maneiras, através da ação e da oração. Talvez o exemplo bíblico que mostra claramente estas duas formas de “causalidade” esteja em Êxodo 17, na batalha contra os amalequitas. Josué e o exército guerreavam enquanto Moisés, Arão e Hur intercediam.  Quando Moisés levantava as mãos – um sinal de intercessão –, os israelitas prevaleciam, quando ele baixava as mãos o inimigo prevalecia.

 
Na esfera das ações, Deus nos garantiu um tipo de causalidade decisiva, podemos “nos prejudicar o tanto que quisermos”. Mas na oração Deus retém para si a decisão final, pois oração é uma “petição”, o que significa que ela pode ser atendida ou não. “E se um Ser infinitamente sábio ouve os pedidos de criaturas finitas e tolas, é claro que às vezes Ele os concederá e às vezes os recusará.”3 Desta maneira, nem tudo o que pedimos recebemos. Isto não é porque a oração é um meio de causalidade mais fraco, ao contrário, justamente por ser mais poderoso é que Deus mantém o controle sobre o resultado final. “Quando ‘funciona’, funciona sem limites no espaço e no tempo. É por isso que Deus reteve o poder discricionário de conceder ou recusar; exceto nessa condição, a oração nos destruiria.”4
 
Lewis tenta explicar como este conceito se encaixa com alguns textos bíblicos, como Mc. 11.24, onde há a promessa de que “tudo que pedirmos com fé, receberemos”. Ele fala que os textos “podem parecer, à primeira vista, prometer uma concessão invariável às nossas orações. Mas isso não pode ser o que realmente significam.”5 Ele aponta duas razões para sustentar seu argumento: a) os fatos observados na vida e b) a oração no Getsêmani.6
 
Ele explica que toda tragédia, morte, desastre, pragas e as guerras são testemunhos indiscutíveis de que muitas orações, feitas com fé, não foram respondidas. Já no Getsêmani, o solicitante mais santo que andou na terra orou três vezes para que um cálice fosse evitado, e não teve o seu pedido atendido. E como resultado do Getsêmani a ideia da oração como um “passo de mágica infalível foi descartada”7 e que sempre devemos pedir com a reserva “se for da Tua vontade".8
 
Ele aponta, então, duas importantes conclusões. Primeira, os textos bíblicos que falam da oração “feita com fé”, que têm a garantia de serem atendidas, se referem a uma fé que é um dom espiritual específico para alguns mais avançados na caminhada. Para a maioria dos cristãos a oração do Getsêmani é o modelo a ser seguido, e por enquanto “mover montanhas pode esperar”. Mas que a “fé inferior” agrada a Deus e que “o tipo que diz, "Ajuda-me na minha falta de fé", pode abrir caminho para um milagre”.9
 
A segunda é que o ponto central da oração não é, necessariamente, a obtenção da coisa pedida, mas, para o bem da nossa vida espiritual, o fato de “ser ouvido ou considerado” é mais importante do que o ser atendido. Ele fala que, talvez, um dos propósitos para os quais Deus instituiu a oração foi para demonstrar que o “o curso dos acontecimentos não é governado como um estado, mas criado como uma obra de arte para a qual todo ser dá sua contribuição e (na oração) uma contribuição consciente”.10 A oração é um meio de crescer na intimidade com Deus, se tornar um cooperador ou “colega”, estar tão próximo Dele que a Sua vontade é facilmente percebida e a pessoa ora pedindo aquilo que é “necessário para o trabalho feito em conjunto”.11
 
A última conclusão de Lewis está em harmonia com o salmista, quando declara: “Agrada-te do Senhor e Ele satisfará o desejo do teu coração. Entrega o teu caminho ao SENHOR, confia nele, e o mais ele fará.” Sl. 37.4-5.
 
• Rosifran Macedo é pastor presbiteriano, mestre em Novo Testamento pelo Biblical Theological Seminary (EUA). É missionário da Oitava Presbiteriana de BH em parceria com a Missão AMEM/WEC Brasil, onde foi diretor geral por nove anos. Atualmente, dedica-se, com sua esposa, Alicia Macedo, em projetos de cuidado integral de missionários, junto à AMTB. @rosifranmacedo

Notas
1. Work and Prayer, em God in the Dock, Eerdmans, MI, EUA, 2002, cap.11.
2. Ibid
3. The Efficacy of Prayer, em The Joyful Christian, Broadman and Holman Publishers, Nashville, USA 1996, p 97
4. Work and Prayer. 
5. Efficacy of Prayer, p. 98
6. Letters to Malcolm, Chiefly on Prayer, C S Lewis, Harper One, New York, USA, 2017, p.79
7. Efficacy of Prayer, op. Cit.
8. Letters do Malcolm, p.79
9. Ibid, p.81
10. Ibid. p. 75.
11. Ibid, p.81-82.

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