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A vida e o vento
Um dia de cada vez
Por Fabiane Luckow
Por Fabiane Luckow
Dias desses, quando levava meu filho para a aula, pude observar, de dentro do carroduas crianças pequenas brincando com um balão, em uma das esquinas do caminho. Era um desses balões de festa infantil, que são distribuídos também em lojas e escolas.
Brincavam ali, praticamente em meio ao trânsito, provavelmente observadas por um pai, uma mãe ou alguma cuidadora, que se encontravam entre as várias pessoas que pediam ou vendiam alguma coisa na sinaleira, atrás de sua subsistência, uma cena infelizmente cada dia mais comum em nosso país.
Então, em uma lufada de vento, o balão saiu voando. Observando de longe, meu coração se partiu com a cena. Tendo tão pouco para se sentirem crianças, ainda o pouco que tinham, perderam. Enquanto ainda formulava esse pensamento, um rapaz, bem jovem, que passava do ladinho delas, prontamente, largou sua bicicleta no chão e, se colocando em perigo, no meio dos carros, correu atrás do balão e o pegou para elas. Deu tempo ainda de ver a alegria no rostinho das crianças e de seu bem feitor.
Ao testemunhar essa cena, lembrei do vento, da ideia de correr atrás do vento. Lembrei do desânimo do sábio do Eclesiastes, para quem a vida parecia haver perdido sentido, alguém que já não mais encontrava prazer na vida. “Tudo é inútil, é correr atrás do vento!” (Ec 1.14).
Naquela esquina movimentada, no meio da semana, em meio à rotina e às preocupações que roubam nossa alegria, talvez muitas pessoas, em seus carros ou passando a pé pela calçada, nem ao menos se atentaram ao que acontecia. Corriam, elas mesmas, atrás de seus próprios ventos. Outras talvez, ao verem o balão voando, lamentaram o ocorrido e pensaram: uma pena, mas é inútil! Não vale a pena correr atrás do vento! Paralisadas, como eu também fiquei.
O vento sopra e leva consigo tantas coisas: sonhos, projetos, esperanças, ambições, dores e amores. Corremos e corremos e, quando finalmente alcançamos o que tanto buscávamos, muitas vezes, acabamos nos acostumando a correr atrás do vento. Seguimos correndo, como um hábito que se estabelece sem que nos demos conta. Quando por fim paramos, percebemos que estamos simplesmente correndo por correr, sempre em busca de mais alguma coisa, que logo se mostrará passageira e superada. Atrás do vento.
Mas ali, naquela esquina, percebi que, nem sempre, correr atrás do vento é vaidade. Por vezes, pode ser uma questão de humanidade. Talvez dependa de haver alguém nos esperando voltar, quando enfim conseguimos alcançar o que tanto queríamos. Talvez no encontro amoroso da volta, na celebração da vida que acontece quando de fato compreendemos que a vida e o amor são tesouros para serem celebrados e compartilhados.
Com Cristo, aprendemos que o amor dá sentido à vida. Quando é ele que move nossas ações, nossas palavras e nossos pensamentos, jamais correremos em vão.
E se o vento levar nossos balões e já não houver mais esperança de recupera-los, Jesus nos toma em seu colo qual crianças, cansadas e sobrecarregadas. E, enquanto nossas forças acabam, simplesmente nos convide a empinar pipas com ele, nos dizendo: “deixa que o vento sopre. Eu estou aqui!”• Fabiane Luckow é doutoranda em teologia pela Faculdades EST, musicista, pastora e teóloga. Pesquisadora nas áreas de culto, liturgia, música, artes, espiritualidade e gênero, considerando estes campos a partir da perspectiva da justiça social e da ética do reino. É uma das autoras de Raízes de Um Evangelho Integral.
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