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Opinião

A “Terra dos Afegãos”, os cristãos perseguidos e a Cidade de Refúgio

Por Klênia Fassoni e Ariane Gomes

Conteúdo oferecido na edição 394 de Ultimato



O nome Afeganistão (em persa, avɣɒnestɒn) significa “Terra dos Afegãos”. O país é o lar de pelo menos quatorze tribos e etnias, com diferentes culturas, línguas e lideranças. Cabul, a capital, é a maior cidade do país. A maioria da população mora nas áreas rurais desse país montanhoso com regiões separadas entre si por acidentes geográficos.

O território, marcado por guerras internas, tem a violência e a morte como parte da vida cotidiana. Shabana Basij-Rasikh, afegã residente nos Estados Unidos e colaboradora do Washington Post Global Opinions, conta que foi educada numa escola clandestina para mulheres e aprendeu as primeiras noções de matemática contando fuzis, conforme cartilha que vigorou desde o início da ocupação do país pelos Estados Unidos até alguns anos atrás.

O Afeganistão carrega muitos superlativos negativos, como, por exemplo, o país com o maior número de minas de bombas terrestres no mundo. Todos estes anos (décadas, na verdade) de guerra fizeram do Afeganistão o país mais perigoso do mundo. Segundo dados de 2019, ele é o maior gerador de refugiados e requerentes de asilo. Existem 2 milhões de afegãos espalhados pelo globo.

O cultivo e o processamento do ópio são um trabalho atrativo para os jovens, num cenário de alto nível de desemprego. De acordo com a CNN, estima-se, atualmente, que a produção de ópio do Afeganistão seja responsável por 80% da heroína consumida no mundo, abastecendo principalmente a Europa e os Estados Unidos.

Deutsche Welle, empresa pública de radiodifusão da Alemanha, informou em fevereiro que algumas famílias afegãs estão passando fome a ponto de se verem obrigadas a vender os próprios filhos. O maior pedido de ajuda financeira para um único país na história da ONU – 5 bilhões de dólares – está em curso em favor do Afeganistão. São mais de 22 milhões em 40 milhões de pessoas passando fome, situação agravada pelo inverno rigoroso. Há escassez de medicamentos e de combustível no país, que é o único do mundo onde a poliomielite ainda não foi erradicada.

A situação se agravou muito com a tomada do poder pelo Talibã em agosto de 2021. A maior parte das organizações internacionais de ajuda humanitária deixou o Afeganistão. O país sofre também por causa dos bloqueios econômicos.

Perseguição religiosa

O avanço do Afeganistão da segunda para a primeira posição na Lista Mundial da Perseguição divulgada em janeiro pela ONG internacional Portas Abertas evidencia a piora significativa das condições de vida para os cristãos. Para a maioria deles, a única forma de continuar vivendo é deixar o país. Mais de 90% da população é formada por muçulmanos.

A migração para outra religião é vista culturalmente como uma traição imperdoável e é punida por familiares, comunidade e governantes. E o Talibã é ainda mais severo em relação a isso pela aplicação ultraconservadora da sharia (conjunto de leis islâmicas).
Não é possível dizer quantos cristãos há no Afeganistão. O International Christian Concern (ICC), baseado nos Estados Unidos, estima que eles sejam entre 8 e 12 mil – uma parcela ínfima da população de 40 milhões.

Nos primeiros dias do retorno do Talibã, a única fonte de Portas Abertas no país declarou: “Cada cristão com quem falo pede apenas uma coisa: oração. Essa é realmente a única coisa que eles pedem. Toda a proteção terrena foi tirada deles”.

Muitos desses cristãos, sentindo-se encurralados, fugiram por terra para países vizinhos e aguardam oportunidades de migração para países que estejam dispostos a recebê-los. Ao mesmo tempo, nem todos tentam cruzar a fronteira. Portas Abertas noticia que há cristãos secretos no país que permanecem por vontade própria, desejando ser sal e luz ali.

Um recomeço no Brasil


Afegãos se aglomeram junto aos muros do aeroporto de Cabul na esperança de serem retirados do país.

Entre 25 de novembro e 18 de dezembro de 2021, grupos de afegãos cristãos, totalizando 73 pessoas, desembarcaram no aeroporto de Guarulhos, São Paulo, e de lá foram levados para a Cidade de Refúgio, que fica na divisa entre Colombo e Almirante Tamandaré, no Paraná. Ali, as dezesseis famílias comemoraram pela primeira vez o Natal. Cidade de Refúgio é o nome escolhido para esse lugar de acolhimento, uma alusão às cidades de refúgio instituídas por Deus no Antigo Testamento (Nm 35.9-34; Js 20.1-9).

A advogada G, 33 anos, professora universitária, ativista pelos direitos das mulheres em projetos com uma ONG americana e uma das novas moradoras da Cidade de Refúgio, declarou à reportagem da Folha de São Paulo publicada em 29 de dezembro de 2021: “Foi tão especial... Estávamos entre amigos, comemos, cantamos, oramos juntos. Antes, comemorávamos só em família, dentro de casa, porque não há liberdade religiosa no Afeganistão. Ser cristão é uma sentença de morte para nós”.

A chegada desse grupo à Cidade de Refúgio faz parte de uma grande e complexa operação de resgate. Em agosto de 2021, esse e muitos outros grupos foram retirados por terra do Afeganistão e levados ao Paquistão, onde viveram por quatro meses, aguardando a liberação de trâmites burocráticos. Com o apoio do governo brasileiro, os vistos humanitários foram concedidos a eles pela embaixada brasileira em Islamabad, Paquistão. Por fim, voaram para o Brasil e chegaram à base da Missão em Apoio à Igreja Sofredora (MAIS) (veja quadro abaixo). As despesas de remoção do Afeganistão, de moradia no Paquistão e das passagens para o Brasil correram por conta da MAIS.



A iniciativa de sair do Afeganistão foi deles e as coisas caminharam bem graças ao contato com um casal de missionários brasileiros que morou no país por alguns anos e tinha ligação com a MAIS. Todas as famílias recebidas têm membros cristãos e há alguns muçulmanos entre eles. Ao se encontrarem no Paquistão, alguns perceberam surpresos que já se conheciam e outros se deram conta de que eram parentes. No Afeganistão evita-se contar sobre a fé até mesmo para parentes próximos, por causa dos riscos.

Enquanto isso acontecia, uma bem-sucedida mobilização de recursos e de pessoas permitiu que a MAIS expandisse suas instalações na Cidade de Refúgio. Dezesseis novas casas e um prédio com salas de aula, alojamentos e ambulatórios médicos foram construídos. Também investiram na reforma e na expansão de toda a estrutura: instalações elétricas, projeto pluvial, poço artesiano, terraplenagem, sistemas de segurança. O pastor Luiz Renato Maia, diretor da MAIS, relata que – apesar de a perseguição religiosa não ser um tema frequente nas igrejas – a mobilização em torno do Afeganistão superou as expectativas, certamente alavancada pelas fortes imagens de pessoas apertando-se no aeroporto de Cabul para fugir do país. Houve doações em dinheiro, mobiliário, equipamentos de cozinha, roupas, alimentos, além de apoio de empresas para as construções.

Quando chegaram, graças a um convênio com a Secretaria de Saúde do município de Almirante Tamandaré, foram aplicadas as vacinas que faltavam para cada um: de Covid-19, influenza, hepatite e febre amarela (as crianças foram vacinadas também contra poliomielite); também foram oferecidos cuidados básicos de saúde. Em exames de rotina, um senhor que havia feito cirurgia do coração no Paquistão recebeu diagnóstico de leucemia aguda. Todo o tratamento está sendo realizado pelo SUS no Hospital Mackenzie em Curitiba.



São casais com crianças, idosos e jovens solteiros, pessoas com profissões diversas. Entre eles há médico, eletricista, motorista, advogado e administrador. A missão agilizou a obtenção de documentos: RNE (Registro Nacional de Estrangeiros), carteira de trabalho e cartão do SUS. A agenda diária das famílias inclui o estudo de português, em salas por faixa etária e sexo (homens, mulheres, crianças), a rotina da família em suas moradias e a participação voluntária nas atividades da Cidade de Refúgio, como limpeza, plantio, colheita, além de cultos na capela. Pelo menos um membro de cada família fala inglês, o que facilita a comunicação. Foram doadas Bíblias na língua dari para todas as famílias; algumas delas tiveram de queimar as suas Bíblias antes de saírem do Afeganistão.

Mas a Cidade de Refúgio é um destino provisório. A próxima etapa é a recolocação. Muito em breve as famílias vão se mudar para outras cidades com o apoio de igrejas locais. Uma delas, com nove pessoas, já se prepara para mudar-se em março para o Espírito Santo.

Durante um ano, que a missão chama de “período de transição”, igrejas parceiras comprometem-se a acolher e dar suporte para a família recebida. Isso inclui recursos financeiros para o aluguel de uma casa e alimentação, apoio para a inserção na escola e no mercado de trabalho e acolhimento da igreja local. Depois dessa transição, espera-se que estejam completamente integrados à vida no Brasil.

Há mais setenta pessoas no Afeganistão prontas aguardando para vir para o Brasil. A missão espera receber até duzentos afegãos ainda este ano para o acolhimento e posterior recolocação.

Entre as crianças há um bebê de poucos meses nascido no Paquistão. O Brasil significa para ele o começo de sua vida; para os demais significa um recomeço, onde poderão desfrutar da liberdade para professar a sua fé.


Um pranto surdo
Nadia Anjuman (Afeganistão, 1980-2005)

O som dos verdes rastros está na chuva
Chega até nós desde a estrada
Almas sedentas e saias empoeiradas chegaram do deserto
Seu hálito ardente e a miragem-fundida
De suas bocas secas e cobertas de pó
Nos chegam, agora, desde a estrada
Seus corpos atormentados, meninas criadas na dor
A alegria longe de seus rostos
Corações velhos e repletos de rachaduras
Não surgem sorrisos nos oceanos inóspitos de seus lábios
Nem uma lágrima brota do seco canal de seus olhos
Oh, Deus!
Poderia ignorar se seus gritos surdos que saltaram do céu,
Alcançam as nuvens?
O som dos verdes rastros permanece na chuva.



Ore pelo Afeganistão 

Diante dos enormes desafios que o povo do Afeganistão enfrenta, devemos insistir em orar.

Ultimato reuniu motivos que podem ser apresentados a Deus individual ou comunitariamente.

• Para que a paz do Senhor Jesus seja sobre o país e para que o seu amor alcance o povo, as autoridades e os líderes extremistas.
• Por sabedoria para organizações internacionais que estão intervindo especialmente para ajuda nas áreas de saúde, alimentação e abrigo.
• Para que os interesses étnicos e tribais no país não se sobreponham às necessidades do povo.
• Para que os países que podem ajudar o povo afegão no enfrentamento da grande crise humanitária não se esquivem de fazê-lo e que os recursos oferecidos cheguem aos civis.
• Por proteção especial e sobrenatural para meninas e mulheres.
• Pelas crianças e pelos jovens afegãos – que encontrem pessoas amorosas que os ajudem a ter a infância e a juventude resguardada de todo mal.
• Para que as escolas e universidades voltem a funcionar.
• Para que os cristãos secretos ameaçados por extremistas encontrem força, sabedoria e paz nas promessas de Deus.
• Por sabedoria para os líderes de igrejas e organizações cristãs que estão promovendo a saída de afegãos e a chegada e instalação deles em outros países.
• Para que as histórias do poder e da intervenção de Deus contadas pelos pais afegãos cristãos aos seus filhos façam com que seus corações creiam e fiquem firmes na fé e na esperança no Deus que é amor.



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