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Opinião

A pedagogia do erro no processo de santificação

Esta noção metafísica da moral ambivalente pode ser inferida da “ontologia do ser” de Tomás de Aquino: o perfeito é deduzido do imperfeito. Sua coexistência é necessária. Na dialética do ser, a perfeição só se torna conhecida à medida que dela a existência do seu antítipo se torna referenciada, nos ensinou Hegel. Neste sentido, é lícito dizer que fora da moral do erro, a teleologia (meta) da santificação se torna absolutamente inatingível. O ideal do ego do ser humano moralmente vulnerável é sempre orientado para a superação ética da ambigüidade moral. É a partir da consciência do erro cometido, do qual provém o sentimento da culpa, que o cristão chega ao ninho aconchegante da graça de Deus pela via do perdão recebido. Esta é a teologia da graça reconciliadora revelada por Paulo em Romanos 7.7-25; 8.1-2.

Por que então nos adoecemos tanto quando falamos dos nossos erros? Por que nos deixamos ser sepultados neles? Será que a consciência do erro não possui a graça de uma pedagogia de aprimoramento moral? Será que não temos nada a aprender com nossos erros? A doença da culpa parece querer convencer que a consciência do erro deve ser compreendida como hematoma incurável da alma tornada enferma na psicologia do trauma. A involução atemporal (estagnação psicológica) produzida pelo trauma é inaugurada na mente do cristão por meio do preconceito estabelecido no episódio do fracasso moral. Quando nos deixamos ser sepultados nele, a expectativa do futuro pode se transformar num velório de infertilidade existencial. Porém, se nos deixarmos ser conduzidos pela vontade de aprender com nossos erros, eles poderão revelar muito mais a feição da graça de Deus do que a fisionomia satânica da condição humana moralmente culpabilizada.

Querer aprender com o erro faz dele muito mais um aliado pedagógico do ideal de santificação do que um inimigo moral da própria fé. Para muitos, isso poderia ser compreendido como incentivo à prática do pecado conscientemente deliberado. Os que entendem assim, deveriam ler com mais atenção a teologia da graça que se desenvolve no diálogo entre Jesus e a mulher adúltera (Jo 8.1-11). A consciência do erro não significa adequação ética à sua lógica. Pois é a partir dela que Jesus aponta para o seu “telos” (meta) moral: a santificação -- “Vai, e não peques mais”.

Porém, qual é a relevância desta reflexão moral para ética do cotidiano da fé hoje? Em que sentido os conceitos de vulnerabilidade moral e ética da santificação poderão interagir? Para Ricardo Peter, mentor da “terapia da imperfeição”, a cultura do perfeccionismo produz uma fragilidade moral na dinâmica social da relação “eu-tu”. A cobrança exigida pela ética da impecabilidade acaba enfraquecendo os laços afetivos da “cumplicidade intersubjetiva” (relação entre sujeitos). Neste sentido, a cura moral das interações se transforma em meta inalcançável de relacionalidade humana: “quando exige demais, e cobra-se de menos, adquire-se o hábito de não amar”. Na ética da perfeição, dificilmente haverá o aprendizado proveniente do erro retificado que se estabelece na relação de perdão entre um tu, e um eu. Por isso, é importante dizer que na teologia da graça incide também a pedagogia da santificação no amor produzido na/pela “integração dos imperfeitos”.

Precisamos da consciência do erro, inclusive, para lembrarmos, no cotidiano da fé, que nossa dependência de Deus é absoluta, e não relativa. O som da culpa, revelada na voz confusa da doença de autopunição, acaba demonizando o sentido pedagógico da santificação que nasce da lúcida consciência do erro. Isto não é uma doutrina liberal. A pergunta é: Quem é você perante o espelho de sua consciência: culpado ou inocentado no divã da misericórdia de Deus e de sua própria consciência? Se a voz que lhe responde ainda cria o constrangimento da acusação que produz o senso da culpa, peça a Deus libertação, cura e absolvição na graça. Pois o som que você ouviu ecoar de dentro não é outro senão o da insana cultura do impecabilismo. Reflita sobre isso, e busque sempre a irrepreensibilidade -- e não a impecabilidade -- para o seu modo de ser no mundo, para o seu modo de se autocompreender nele.


Anderson Clayton, casado, dois filhos, é doutor em teologia e doutorando em sociologia. É professor do Instituto Superior de Teologia Luterana e pastor colaborador na Igreja Confessional Luterana.
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