Opinião
- 16 de abril de 2013
- Visualizações: 6131
- 6 comentário(s)
- +A
- -A
- compartilhar
A Igreja e suas eras
“E nela se achou o sangue dos profetas, e dos santos, e de todos os que foram mortos na terra.” (Ap 18.24)
Há uma maravilhosa obra literária sobre a História da Igreja, escrita de modo elegante, com estilo refinado e em tom de romance, de autoria de Daniel-Rops, da Academia Francesa de Letras. Li todos os tomos, já nem me recordo quantos, durante os meus anos de estudos filosóficos e teológicos. Não foi uma leitura obrigatória, não fazia parte do currículo, mas nem por isso deixou de ser-me altamente formativa e tremendamente prazerosa. Daniel-Rops classifica a história da Igreja em “eras”: “a Igreja e a era apostólica”; “a Igreja e a era dos mártires”; “a igreja e a era dos pais”; ‘a Igreja e a era dos confessores”. E por aí vai.
Confesso que grande parte da visão de conjunto que possuo hoje da história bi-milenar da Igreja fixou-se em minha mente devido à leitura desta obra. Em muitos momentos, por causa da maneira apaixonada como Daniel-Rops narra os eventos, tive a impressão, no momento da leitura de que ele ou eu éramos testemunhas oculares ou muito próximas dos acontecimentos. Mais tarde, contudo, descobri que, na verdade, a História da Igreja é também a minha história pessoal; é como um grande álbum de família onde estão registrados e eternizados os feitos de meus antepassados na fé. Com eles, aprendo como devo proceder na vida cristã e também aprendo quais erros e quais caminhos tomados por eles devo evitar a todo custo.
A História da Igreja nos ensina de onde saímos, nos confirma se estamos hoje no caminho certo ou não, e nos aponta misteriosamente para o glorioso futuro para onde estamos destinados como povo de Deus. Sendo assim, gostaria de nos próximos textos compartilhar um pouco as lições que aprendemos da Igreja e de suas “eras”. Comecemos pelos mártires, uma vez que a história apostólica já nos é bastante familiar; basta ler o Novo Testamento e de maneira especial, os Atos dos Apóstolos.
Precisamente, a “era” dos mártires inaugura já a História da Igreja nas páginas do Novo Testamento. Estêvão é chamado de “próto-mártir” do Cristianismo (Atos dos Apóstolos 8.58 ss). Há também a menção a um certo Antipas em Apocalipse 2.13 que deu a sua vida por testemunho. Certamente muitos outros fecundaram a semeadura do Evangelho com o seu sangue na grande perseguição que se seguiu à morte de Estevão e nos dias deste Antipas quando os Apóstolos ainda viviam, eles mesmos mártires da fé mais tarde (confira Hebreus 11).
O Império Romano perpetrou sistemáticas perseguições ao cristianismo nascente. Desde a difamação caluniosa de canibalismo e ateísmo até a de que eram golpistas insurgentes contra César. Neste contexto, além do martírio moral das difamações e calúnias, do empobrecimento e da estigmatização social, lento e incruento, por certo, havia aquele outro do derramamento de sangue, nas arenas, nos circos, nos tribunais, nos espetáculos públicos para a diversão dos ímpios, etc. Uma lista infindável de nomes de homens, mulheres, crianças, anciãos, pastores, ricos ou escravos obtiveram a máxima honra distintiva de um cristão: foram ornados com a régia púrpura de martírio testemunhando a Cristo com fidelidade invencível.
É certo que a maioria deles adormeceu em Cristo no mais completo anonimato. Outros, porém, tiveram seus nomes exaltados já aqui na Igreja terrestre e suas histórias foram registradas para o devido encorajamento na fé. Dentre estes, podemos citar: Policarpo de Esmirna; Inácio de Antioquia; Cipriano de Cartago; Justino; Felicidade e Perpétua; Evaristo; Faustino e Jovita; Potino, Blandina... e a lista se estende para miríades de testemunhos. Não é à toa que Tertuliano sentenciou: “O sangue dos mártires é semente de novos cristãos.” O martírio não era uma coisa glamorosa nos dias dos imperadores romanos Nero, Décio, Adriano, Antonino Pio e Marco Aurélio. Os santos daqueles dias temiam por suas vidas. Cultuavam discretamente, nas catacumbas, por exemplo, antes do sol nascer. A Igreja vivia dias de apreensão, mas cada vez que a oportunidade do testemunho vigoroso e radical surgia, combatiam o bom combate da fé e passavam ao céu deixando na terra a mais emblemática demonstração de amor, obediência e gratidão à cruz hasteada no monte.
Vivemos dias de um outro martírio: o moral, o ético. Não menos cruel e destrutivo como o dos romanos. Nossos piores inimigos hoje atendem pelos nomes de relativismo, secularismo, mundanização, dessacralização, etc. Somos chamados, como nos dias dos mártires, a nadar contra a correnteza, a suportar com bom ânimo os ataques dos inimigos da fé, de dentro e de fora da Igreja. Somos convidados a resistir, a não ceder, a nunca trair o amor que nos comprou por tão alto preço.
Leia mais
Na arena com Perpétua e Felicidade
Pequena, franzina, oriental, 16 ou 17anos, ela também teve um sonho
A caminhada cristã na história
Há uma maravilhosa obra literária sobre a História da Igreja, escrita de modo elegante, com estilo refinado e em tom de romance, de autoria de Daniel-Rops, da Academia Francesa de Letras. Li todos os tomos, já nem me recordo quantos, durante os meus anos de estudos filosóficos e teológicos. Não foi uma leitura obrigatória, não fazia parte do currículo, mas nem por isso deixou de ser-me altamente formativa e tremendamente prazerosa. Daniel-Rops classifica a história da Igreja em “eras”: “a Igreja e a era apostólica”; “a Igreja e a era dos mártires”; “a igreja e a era dos pais”; ‘a Igreja e a era dos confessores”. E por aí vai.
Confesso que grande parte da visão de conjunto que possuo hoje da história bi-milenar da Igreja fixou-se em minha mente devido à leitura desta obra. Em muitos momentos, por causa da maneira apaixonada como Daniel-Rops narra os eventos, tive a impressão, no momento da leitura de que ele ou eu éramos testemunhas oculares ou muito próximas dos acontecimentos. Mais tarde, contudo, descobri que, na verdade, a História da Igreja é também a minha história pessoal; é como um grande álbum de família onde estão registrados e eternizados os feitos de meus antepassados na fé. Com eles, aprendo como devo proceder na vida cristã e também aprendo quais erros e quais caminhos tomados por eles devo evitar a todo custo.
A História da Igreja nos ensina de onde saímos, nos confirma se estamos hoje no caminho certo ou não, e nos aponta misteriosamente para o glorioso futuro para onde estamos destinados como povo de Deus. Sendo assim, gostaria de nos próximos textos compartilhar um pouco as lições que aprendemos da Igreja e de suas “eras”. Comecemos pelos mártires, uma vez que a história apostólica já nos é bastante familiar; basta ler o Novo Testamento e de maneira especial, os Atos dos Apóstolos.
Precisamente, a “era” dos mártires inaugura já a História da Igreja nas páginas do Novo Testamento. Estêvão é chamado de “próto-mártir” do Cristianismo (Atos dos Apóstolos 8.58 ss). Há também a menção a um certo Antipas em Apocalipse 2.13 que deu a sua vida por testemunho. Certamente muitos outros fecundaram a semeadura do Evangelho com o seu sangue na grande perseguição que se seguiu à morte de Estevão e nos dias deste Antipas quando os Apóstolos ainda viviam, eles mesmos mártires da fé mais tarde (confira Hebreus 11).
O Império Romano perpetrou sistemáticas perseguições ao cristianismo nascente. Desde a difamação caluniosa de canibalismo e ateísmo até a de que eram golpistas insurgentes contra César. Neste contexto, além do martírio moral das difamações e calúnias, do empobrecimento e da estigmatização social, lento e incruento, por certo, havia aquele outro do derramamento de sangue, nas arenas, nos circos, nos tribunais, nos espetáculos públicos para a diversão dos ímpios, etc. Uma lista infindável de nomes de homens, mulheres, crianças, anciãos, pastores, ricos ou escravos obtiveram a máxima honra distintiva de um cristão: foram ornados com a régia púrpura de martírio testemunhando a Cristo com fidelidade invencível.
É certo que a maioria deles adormeceu em Cristo no mais completo anonimato. Outros, porém, tiveram seus nomes exaltados já aqui na Igreja terrestre e suas histórias foram registradas para o devido encorajamento na fé. Dentre estes, podemos citar: Policarpo de Esmirna; Inácio de Antioquia; Cipriano de Cartago; Justino; Felicidade e Perpétua; Evaristo; Faustino e Jovita; Potino, Blandina... e a lista se estende para miríades de testemunhos. Não é à toa que Tertuliano sentenciou: “O sangue dos mártires é semente de novos cristãos.” O martírio não era uma coisa glamorosa nos dias dos imperadores romanos Nero, Décio, Adriano, Antonino Pio e Marco Aurélio. Os santos daqueles dias temiam por suas vidas. Cultuavam discretamente, nas catacumbas, por exemplo, antes do sol nascer. A Igreja vivia dias de apreensão, mas cada vez que a oportunidade do testemunho vigoroso e radical surgia, combatiam o bom combate da fé e passavam ao céu deixando na terra a mais emblemática demonstração de amor, obediência e gratidão à cruz hasteada no monte.
Vivemos dias de um outro martírio: o moral, o ético. Não menos cruel e destrutivo como o dos romanos. Nossos piores inimigos hoje atendem pelos nomes de relativismo, secularismo, mundanização, dessacralização, etc. Somos chamados, como nos dias dos mártires, a nadar contra a correnteza, a suportar com bom ânimo os ataques dos inimigos da fé, de dentro e de fora da Igreja. Somos convidados a resistir, a não ceder, a nunca trair o amor que nos comprou por tão alto preço.
Leia mais
Na arena com Perpétua e Felicidade
Pequena, franzina, oriental, 16 ou 17anos, ela também teve um sonho
A caminhada cristã na história
Luiz Fernando dos Santos (1970-2022), foi ministro presbiteriano e era casado com Regina, pai da Talita e professor de teologia no Seminário Presbiteriano do Sul e no Seminário Teológico Servo de Cristo.
- Textos publicados: 105 [ver]
- 16 de abril de 2013
- Visualizações: 6131
- 6 comentário(s)
- +A
- -A
- compartilhar
QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI.
Ultimato quer falar com você.
A cada dia, mais de dez mil usuários navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, além do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bíblicos, devocionais diárias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, além de artigos, notícias e serviços que são atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.
PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.
Leia mais em Opinião
Opinião do leitor
Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta é necessário estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o login ou seu cadastro.
Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
Assuntos em Últimas
- 500AnosReforma
- Aconteceu Comigo
- Aconteceu há...
- Agenda50anos
- Arte e Cultura
- Biografia e História
- Casamento e Família
- Ciência
- Devocionário
- Espiritualidade
- Estudo Bíblico
- Evangelização e Missões
- Ética e Comportamento
- Igreja e Liderança
- Igreja em ação
- Institucional
- Juventude
- Legado e Louvor
- Meio Ambiente
- Política e Sociedade
- Reportagem
- Resenha
- Série Ciência e Fé Cristã
- Teologia e Doutrina
- Testemunho
- Vida Cristã
Revista Ultimato
+ lidos
- Brasileiros em Lausanne 4: a alegria, a irreverência e o potencial missionário verde-amarelo
- Oitava edição do Fórum Refugiados reflete sobre acolhimento e apoio a migrantes e refugiados no Brasil
- Queimadas devastadoras e a missão da igreja
- A oração de Estêvão e a conversão de Paulo: um fruto inesperado da Graça
- Filantropia como missão
- Vai começar o Congresso Lausanne 4
- O que você diria a um evangélico na hora de votar?
- Cheiro de graça no ar
- Florescer e frutificar – É tempo de colher!
- Quatro modos em que o Congresso de Lausanne anterior moldou minha visão