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Opinião

A diferença entre desejo e oportunidade

A união de Sarai com um rei de outro povo traria deveres e compromissos que não condiziam com os planos de Deus para o seu povo

Por Lidice Meyer Pinto Ribeiro

Três textos em Gênesis parecem ser a repetição de uma mesma história: Gn 12.10-20, 20.1-18 e 26.1-17. Neles, uma mulher bela é desejada por um rei estrangeiro, seu marido a apresenta ao rei como sendo sua irmã, a mulher é levada ao palácio do rei que recebe um aviso ou um castigo divino, a mulher é devolvida ao marido que também recebe bens e riquezas. Em duas ocasiões a mulher desejada é Sarai, esposa de Abrão e em uma ocasião o desejo se volta para sua nora, Rebeca, esposa de Isaque. Duas histórias são protagonizadas por Abimeleque, rei dos filisteus e uma pelo Faraó do Egito.

A análise literária data estes três textos como tendo sido escritos em épocas diferentes. Gênesis 12 seria o texto mais antigo contendo poucos detalhes em comparação aos dois outros textos, muito mais narrativos e detalhados. As histórias mais recentes de Gênesis 20 e 26 seriam narrativas paralelas que complementariam a narrativa do capítulo 12. Isto não desmerece a particularidade de cada evento, mas indica que os autores posteriores conheciam a primeira narrativa e se basearam nela para escrever as demais histórias tornando-as tão semelhantes. Mas como a antropologia bíblica compreende estas histórias paralelas?

Segundo as análises da antropologia estrutural, escola criada por Lévi-Strauss, os três textos demonstram um padrão que estrutura/organiza as ideias da mesma forma. Isto indica a existência de um ensino moral que é enfatizado pela repetição das histórias, apesar das pequenas diferenças nas personagens. A repetição tem o objetivo de reforçar um valor moral presente nos textos, embora nem sempre muito aparente. Neste caso em especial, a repetição enfatiza o cuidado e a proteção de Deus sobre a vida dos dois casais, responsáveis pela formação do povo escolhido: Israel. Mas, proteção de que?



A antropologia bíblica também fornece as pistas para compreender melhor isto. O nome Sarai significa em hebraico “princesa”. Seu casamento com seu meio-irmão, Abraão, atendia ao costume mesopotâmico e egípcio da primogenitura cruzada. Neste costume, a filha de um rei deveria casar-se com o seu meio-irmão, legitimando-o como herdeiro do trono. A Bíblia relata como Abrão é reconhecido pelos demais povos como sendo príncipe do povo de Deus, o fundador de uma nova nação (Gn 23.6). Se Sarai fosse igualmente percebida como uma princesa deste povo de Deus, sua união com um rei de outro povo criaria uma aliança política entre as duas nações, algo muito desejável. O mesmo pode ser dito com relação à Rebeca.

Assim, o desejo de Abimeleque e do Faraó pelas matriarcas de Israel esconderia na verdade a intensão de laços políticos e o reconhecimento da força do povo de Deus. Mais que desejo sexual, o que estava em jogo era a oportunidade visualizada pelos dois reis de aparentar-se com Abrão/Isaque. Uma aliança que traria consigo diversos deveres e compromissos que não condiziam com os planos de Deus para o seu povo, razão pela qual nas três ocasiões a concretização da união é impedida e o líder do povo de Deus ainda sai mais fortalecido.


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Lidice Meyer P. Ribeiro é doutora em Antropologia e professora na Universidade Lusófona, Portugal.
  • Textos publicados: 29 [ver]

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