Opinião
- 20 de agosto de 2020
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7 dicas para educar crianças contra o racismo em casa e na igreja
Por Márcia Barbutti
A cena aconteceu há algumas décadas em um evento evangelístico para crianças. Após o estudo que associava o evangelho a algumas cores, duas crianças entre cinco e seis anos estavam brincando quando, de repente, a menina branca disse para a colega negra: você tem a cor do pecado e eu tenho a cor do céu. A preocupação e o espanto tomou conta dos conselheiros ali presentes. A menina branca, filha de um dos líderes, era conhecida de toda equipe e sempre demonstrava bondade, simpatia e cordialidade para com todos, sem distinção. A menina negra mudou o semblante, seu rosto demonstrava tristeza e também confusão diante daquela afirmação. A menina branca não entendeu a mudança do semblante da colega e a expressão nos rostos dos conselheiros. Eu fui conversar com a menina negra e minha amiga, com a menina loira, separadamente. A primeira coisa que fizemos foi ouvir as crianças para saber o que estava em suas mentes e corações. Em seguida, pontuamos (1) como aquela frase podia ser interpretada; (2) qual o significado de sermos imagem e semelhança de Deus; (3) como podemos nos relacionar da forma como agrada a Deus. Apesar de serem temas complexos, tratamos com simplicidade e clareza. E quando conversamos com as duas meninas juntas, a situação foi totalmente esclarecida. Pela graça de Deus, aquela intervenção foi bem-sucedida.
Esse acontecimento teve um forte impacto no meu ministério e, futuramente, na criação das minhas filhas. Atitudes intencionais precisam ser feitas em nosso lar e em nossa igreja para que as crianças desenvolvam a empatia, sejam justas no falar e no agir e tratem o próximo com dignidade e respeito sem distinção. Mas atenção, essas atitudes devem ser buscadas não como fruto de uma boa educação, mas como consequência de um coração transformado pelo Senhor Jesus, sob a direção do seu Espírito.
Compartilho com você alguns princípios e dicas que podem nos ajudar nessa caminhada.
Criados à imagem e semelhança de Deus
Ressalte a grandeza e o poder de Deus como o criador e o soberano de tudo o que existe. Leia Salmos 104.24. Leve seu filho a pensar na variedade da criação com todas as cores, tamanhos, sons, texturas... Mostre que ele fez as pessoas também com grande variedade. Destaque as diferenças entre os seres humanos. Reforce que Deus nos fez de modo especial, totalmente diferente de toda sua criação. Ele nos fez para vivermos sempre perto dele e nos deu a capacidade de amar, admirar, adorar, pensar, sentir... Pegue um espelho e aponte para uma luz. Mostre que, assim como o espelho reflete a luz, nós fomos criados para refletir o próprio Deus.
Afastados de Deus
Mostre que a entrada do pecado estragou esse relacionamento. Exemplifique essa verdade voltando o espelho para si mesmo e depois para a criança, para que ela veja o próprio reflexo.
Em vez de refletirmos o Senhor Deus, nós nos tornamos pessoas muito preocupadas conosco mesmas. Queremos atenção, queremos que as pessoas nos vejam, nos admirem e temos a tendência de achar que podemos ser melhores que os outros de um jeito ou de outro. E assim, vem o orgulho, a inveja e o medo. Queremos ser os melhores, queremos ter o que o outro tem e sentimos medo de que ninguém ligue para nós.
Um novo relacionamento
Mas por causa de Jesus, que recebeu o castigo pelo nosso pecado, inclusive o pecado do nosso orgulho, inveja e medo, somos transformados e podemos viver da forma como agrada a Deus, porque o Espírito Santo vem morar dentro de nós. “Nessa nova vida já não há diferença entre grego e judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro e cita, escravo e livre, mas Cristo é tudo e está em todos.” (Cl 3.11).
Comente o significado dessas palavras e reforce que na vida com Cristo, temos que remover todas as barreiras que podem nos afastar (Gl 26-27).
Esta é a nossa base. Sem a compreensão de quem somos em Cristo, não temos como tratar do racismo. Um coração rendido ao Senhor e uma mente focada nos seus ensinos, terá pouco espaço para construir barreiras. Mas ainda assim, temos muito o que fazer para extirpar esse mal e lidar com seus malefícios. Veja algumas ações.
> ANTES DE FALAR COM SEU FILHO
1. Informe-se sobre o racismo
Dica: O perigo da história única
Reflita sobre a série de privilégios que existe para as pessoas brancas, isso é real. Pense na padronização de uma estética europeia que é imposta desde a infância e que não representa a maioria das crianças do nosso país. Observe a falta de representatividade da criança negra na literatura, na mídia, nas artes, etc. Como isso afeta a criança e sua família?
Reflita sobre a série de privilégios que existe para as pessoas brancas, isso é real. Pense na padronização de uma estética europeia que é imposta desde a infância e que não representa a maioria das crianças do nosso país. Observe a falta de representatividade da criança negra na literatura, na mídia, nas artes, etc. Como isso afeta a criança e sua família?
Faça uma autoavaliação e verifique se o racismo está internalizado em você de alguma forma.
> NO DIA A DIA COM SEU FILHO:
2. Trate as pessoas igualmente
Demonstre respeito por todas as pessoas, independentemente de qualquer diferença social, política, religiosa, étnico-racial, gênero, etc. Não tolere qualquer tipo de preconceito.
3. Nomeie corretamente as pessoas e atos
Não tente arranjar outros nomes para dizer que uma pessoa é negra. Não é moreninho, cor de chocolate, ou algo do tipo, é a cor normal e não tem nada de desonroso nisso.
Se presenciar ou ver na TV um ato de discriminação, não tente pôr panos quentes ou desvalorizá-lo, a palavra para esse comportamento cruel, pecaminoso e criminoso é racismo. Em alguns momentos ele pode vir velado em forma de brincadeira “inocente”, mas não deixa de ser racismo. Logo, é preciso tomar consciência desse ato, promover o arrependimento e mudança.
4. Repense nos brinquedos e decoração
Inclua bonecos e bonecas de diferentes etnias no lazer do seu filho. Coloque figuras no quarto de crianças de diferentes etnias e situações sociais. Escreva versículos que enfatizem que somos um em Cristo. Pesquise sobre brincadeiras comuns em outros países e brinque com seu filho.
5. Conviva intencionalmente com pessoas diferentes da sua condição social e cor de pele
É importante que, apesar das diferenças, seja um convívio entre iguais, ou seja, livre de condescendência ou imposições.
6. Desenvolva a empatia e amor
Leve a criança a sempre perguntar a si mesma: como eu me sentiria no lugar dele/a? Se um colega me excluir? Se me xingarem? Se falarem mal do meu cabelo, ou da minha cor ou da minha roupa? Como eu me sentiria?
Deixe claro que os cristãos são reconhecidos pelo amor: "Um novo mandamento lhes dou: Amem-se uns aos outros. Como eu os amei, vocês devem amar-se uns aos outros. Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros." (Jo 13.34-34)
> NUMA CONVERSA DIRETA COM SEU FILHO:
7. Seja claro e direto
- Se o seu filho perguntar sobre o motivo de alguns maltratam pessoas negras, fale que se trata de um comportamento inaceitável chamado racismo, quando uma pessoa se acha superior a outra. Comente sobre a Criação, Queda e Redenção relatados no início.
- Se o seu filho for a vítima, leve-o a compreender o seu valor como filho, mas principalmente como filho de Deus, que o planejou em cada detalhe e tem planos para sua vida. Essa é a verdade! (Sl 139.13-16; Jr 29.11 e Ml 3.16-17). Trabalhe a prática do perdão e a segurança no amor de Deus.
- Se o seu filho for o agressor, entenda o que ele realmente quis dizer. Taxá-lo como racista será improdutivo e maléfico. Na história que contei no início, a menina branca não tinha compreensão, até aquele momento, que suas palavras feriram a colega. Porém, mesmo sem a intenção é necessário entender o erro e desculpar-se. Quando for um ato intencional, é necessário saber o motivo que o levou a fazer isso, mostrar como é incompatível com a nova vida em Jesus, leva-lo ao arrependimento e reparo do dano causado, além de medidas disciplinares.
Em Cristo, é possível ter um lar cujo amor de Deus é visto e vivenciado por todos em favor de todos sem qualquer distinção.
É editora assistente da Editora Cultura Cristã, responsável pelos materiais infanto-juvenis.
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