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Opinião

Enxergando a nossa história na história da salvação

Por Erica Neves
 
“Mamãe, por que o filho do faraó teve que morrer?”
 
Essa é a primeira pergunta do meu filho Pedro, de 6 anos de idade, sempre que lemos a história do Êxodo. Para respondê-la, eu tenho de colocá-la na perspectiva maior, reinseri-la na narrativa da História da Salvação.
 
“No princípio criou Deus os céus e a terra...”1
 
O livro do Gênesis é um livro de histórias. Como toda boa história, ele é cheio de cenários envolventes, tramas empolgantes e um grande herói. Nos 3 primeiros capítulos, fazemos um voo panorâmico pela história da criação do Cosmo e da humanidade e assistimos à entrada do pecado no mundo. Você já parou para pensar na quantidade exorbitante de informação "compactada" que encontramos nesses três primeiros capítulos? Depois que as coisas saem dos eixos e o expectador quase abandona a esperança ao contemplar a ruptura relacional deixada pelo pecado em uma espiral descendente de escuridão, o narrador nos fala da promessa de restauração por meio da “semente da mulher”.
 
No capítulo 12, as lentes narrativas se deslocam do “macro cenário” para enfocar uma única família. Neste momento somos apresentados a um casal idoso e estéril chamado por Deus para abençoar todas as famílias da terra. Os últimos 38 capítulos do livro do Gênesis nos contam sobre a peregrinação deste casal, dos seus filhos e dos seus netos. No fim do livro a família havia ficado grande o suficiente para atemorizar o soberano do Egito, uma das principais potências do mundo antigo.
 
Digno de grandes produções cinematográficas, o livro do Êxodo nos mostra que Deus não poupou esforços para libertar o seu povo da escravidão. Pragas que desafiaram as leis naturais caíram sobre o Egito. No encerramento desta sessão, assistimos à travessia pelo Mar Vermelho. Mas a narrativa está ainda longe de atingir um clímax. Séculos se passarão, muitas gerações surgirão e desaparecerão antes que conheçamos o verdadeiro herói dessa história.
 
Enquanto ele não aparece, nomes como os de Sara, Rebeca, Lia, Raquel, Sifrá, Puá, Miriã, Joquebede, Raabe, Rute, Ana, Isabel e Maria nos são apresentados. O que essas mulheres, nascidas em diferentes épocas e em diferentes nações, poderiam ter em comum? Além do fato de terem vivido milênios atrás no Oriente, todas elas enfrentaram grandes adversidades como viuvez precoce, infertilidade, perda do sustento, migração, injustiças sociais e estigmatização.
 
Não obstante, cada uma delas desempenhou um papel fundamental na História de Israel e do próprio Cristo. Apesar de suas vulnerabilidades, limitações, fragilidades e falhas, aprouve ao Senhor trabalhar por meio das narrativas pessoais e familiares de cada uma delas para escrever sua Grande História da Salvação. “As histórias de pessoas nas Escrituras são estudos de caso do relacionamento de Deus com a humanidade. Elas não são fábulas, nem mitos ou lendas de outro mundo. Elas dizem respeito às experiências de gente como nós”, afirma a filósofa, teóloga e socióloga inglesa Elaine Storkey na introdução do seu livro Women in a Patriarchal World (Mulheres em um Mundo Patriarcal).

 
Para mim, o elemento mais aterrador desta história é o fato de que por meio de pessoas comuns Deus opera coisas extraordinárias, e Ele se compraz nisso. Nossas histórias pessoais já estavam na mente de Deus quando ele, milênios atrás, mandou que Abraão olhasse para um céu salpicado de estrelas. Naquela noite memorável, o Criador do Cosmo se comprometeu com um homem comum, que nada tinha que o distinguisse dos demais.
 
“À medida que lemos a Bíblia, descobrimos o tipo de história que ela tem para contar - e descobrimos que Deus está no centro dessa história. A Bíblia é centrada em Deus em todos os seus impulsos: "No princípio, Deus." Quando abrimos a Bíblia, devemos esperar ver Deus. Ainda assim, um paradoxo se desenrola entre as páginas de Gênesis e Apocalipse. Por mais que o livro de Deus seja sobre Deus, não podemos deixar de nos descobrir em suas páginas: os medos que nos paralisam, a ganância que nos corrompe, as preocupações que sussurram sob a capa da escuridão. Se a Bíblia é uma janela para certamente vermos a Deus, ela é também um espelho para nos vermos sobriamente”, ressalta Jen Pollock Michel.2
 
“Todos vivemos de acordo com algum tipo de história”, continua Jen. “Antropólogos, sociólogos, historiadores pesquisam sobre as histórias pelas quais vivemos, histórias que explicam a origem do universo, o porquê do sofrimento, e o porquê da beleza. A Bíblia nos conta a história mais verdadeira e envolvente de todas! É uma história que não poderíamos conhecer somente pela intuição. É uma história que não encontraremos nas páginas dos jornais, nas manchetes da TV, no Twitter ou no Instagram.”
 
A Bíblia nos conta a razão pela qual o mundo é caído, mas também o motivo de ele ainda conter tamanha beleza. Na Bíblia, encontramos a promessa de que este belo mundo criado por Deus um dia será completamente restaurado. A Bíblia nos “re-historiciza” ao nos convidar a enxergar nossas histórias pessoais como parte da Grande História da Salvação. Temos de imergir na história da Bíblia e nos ver tomando parte neste grande drama. A história que teve início muito tempo antes do dia em que nascemos tem propósitos, reviravoltas e desfechos que jamais poderíamos imaginar ou compreender. Ao encontrar o nosso lugar na história em que Deus se revela, revela o seu caráter e o seu amor, somos convidados a dar um salto para além de nós mesmos e a receber nossa identidade “daquele que não poupou o seu próprio Filho, antes por todos nós o entregou”3. Somos filhos amados.
 
Quando acolhemos o amor de Deus, encontramos propósito. Ao inserir a história do Êxodo na Grande História da Salvação, consigo explicar para o meu filho, ainda que parcialmente, o porquê da morte dos primogênitos do Egito. E mesmo que ele não tenha ainda condições de compreender, ele sabe que o Filho de Deus também teve de morrer. Quando Mariana, minha caçula de 3 anos sussurra no meu ouvido um pouco antes de dormir que ela não quer morrer, eu posso responder honestamente que tampouco eu desejo passar pela morte, mas há esperança na ressurreição! “A separação de Jesus do Pai na Cruz quer dizer que jamais teremos de nos separar da natureza eterna do amor de Deus. Sob essa perspectiva, a morte se torna realmente mais transitória que o amor”, escreve Sarah Williams.4
 
Ao conhecer o drama das escrituras, compreendo, ainda que parcialmente, o caráter amoroso de um Deus que criou um povo para si e, por meio dele, alcançou todas as famílias da terra. Ao imergir nesta história, encontro significado e propósito para a minha vida e ressignifico minhas lutas pessoais à luz da realidade não visível do presente e do futuro. Jesus viveu entre nós, morreu, ressuscitou e um dia voltará para restaurar todas as coisas. O amor venceu o caos e sob essa perspectiva totalmente diferente das narrativas rivais, podemos viver (e morrer) com esperança.
 
• Erica Neves é formada em jornalismo, com mestrado em mídia e cidadania. Trabalha como assessora de comunicação na Tearfund. Atualmente, é estudante e professora convidada no Invisible College nos cursos Sabedoria no Caos e Teologia pro Cotidiano. Erica é casada com Fred e eles são pais do Pedro e da Mariana. Instagram: @emrneves

Notas
1. Gênesis 1:1
2. Michel, Jen Pollock. A habit called Faith (Um hábito chamado fé)  
3. Romanos 8:32
4. Williams Sarah, O desafio de uma escolha
>> Conheça a série O Cristão Contemporâneo, de John Stott

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