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29 de maio de 2018- Visualizações: 1439
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Sentenças
Por Levi Agreste
Juntou todos os papéis intermináveis, contando os números incalculáveis. À medida que seus olhos deslizavam sobre as folhas, seus lábios se amargavam. Concluiu, revisou, releu: não havia saída. Não havia dinheiro.
Com o choro engasgado, comunicou à esposa e os filhos que todo o esforço financeiro que fizeram não foi suficiente. Os meses desempregado tiraram-lhes aos poucos as joias, o sofá, o carro, a TV e - por fim - a casa.
Foram sentenciados à rua.
Sem opções, buscaram abrigo em um prédio abandonado. Um grupo antes desconhecido geria o local ocupado com regras rígidas e horários implacáveis.
As primeiras semanas de adaptação foram difíceis: a companhia indesejável, a limitada privacidade, os serviços comunitários. Tudo começou a melhorar quando os contatos com o grupo renderam ao pai um emprego razoável como representante de vendas e à mãe a oportunidade de fazer uns trocados com produtos artesanais.
Gradativamente, as dívidas iam diminuindo. O pai, agarrado com unhas e dentes ao novo emprego, cresceu na carreira. A mãe, despertando seu potencial, organizou a fundação de uma cooperativa que multiplicou a renda das artesãs.
Com lágrimas dobradas fecharam o contrato de financiamento da nova casa - casa confortável, de paredes singelas e janelas alegres. Construíram ali novo lar.
Os anos se passaram. As paredes se esfriaram. As janelas endureceram. Os novos residentes - descendentes daqueles primeiros - tomavam café ao som de fundo da televisão.
“...prédio ocupado irregularmente desaba após incêndio durante a noite...”
O som da TV se misturava à letárgica mastigação.
“Não se sabe ao certo quantas pessoas ainda podem estar nos escombros...”
O homem da casa finalmente levantou os olhos, observando as cenas de destruição. Parou por alguns instantes, ouvindo atentamente a voz da jornalista. Quando a cena foi cortada, ele voltou os olhos para sua companheira.
“Baderneiros... tiveram o que mereciam...”
• Levi Agreste, graduado em Letras pela Unicamp, leciona em três escolas da região metropolitana de Campinas, faz parte da coordenação da ONG Soprar e escreve no blog umanovaviagem.
Juntou todos os papéis intermináveis, contando os números incalculáveis. À medida que seus olhos deslizavam sobre as folhas, seus lábios se amargavam. Concluiu, revisou, releu: não havia saída. Não havia dinheiro.Com o choro engasgado, comunicou à esposa e os filhos que todo o esforço financeiro que fizeram não foi suficiente. Os meses desempregado tiraram-lhes aos poucos as joias, o sofá, o carro, a TV e - por fim - a casa.
Foram sentenciados à rua.
Sem opções, buscaram abrigo em um prédio abandonado. Um grupo antes desconhecido geria o local ocupado com regras rígidas e horários implacáveis.
As primeiras semanas de adaptação foram difíceis: a companhia indesejável, a limitada privacidade, os serviços comunitários. Tudo começou a melhorar quando os contatos com o grupo renderam ao pai um emprego razoável como representante de vendas e à mãe a oportunidade de fazer uns trocados com produtos artesanais.
Gradativamente, as dívidas iam diminuindo. O pai, agarrado com unhas e dentes ao novo emprego, cresceu na carreira. A mãe, despertando seu potencial, organizou a fundação de uma cooperativa que multiplicou a renda das artesãs.
Com lágrimas dobradas fecharam o contrato de financiamento da nova casa - casa confortável, de paredes singelas e janelas alegres. Construíram ali novo lar.
Os anos se passaram. As paredes se esfriaram. As janelas endureceram. Os novos residentes - descendentes daqueles primeiros - tomavam café ao som de fundo da televisão.
“...prédio ocupado irregularmente desaba após incêndio durante a noite...”
O som da TV se misturava à letárgica mastigação.
“Não se sabe ao certo quantas pessoas ainda podem estar nos escombros...”
O homem da casa finalmente levantou os olhos, observando as cenas de destruição. Parou por alguns instantes, ouvindo atentamente a voz da jornalista. Quando a cena foi cortada, ele voltou os olhos para sua companheira.
“Baderneiros... tiveram o que mereciam...”
• Levi Agreste, graduado em Letras pela Unicamp, leciona em três escolas da região metropolitana de Campinas, faz parte da coordenação da ONG Soprar e escreve no blog umanovaviagem.
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