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Opinião

Qual o papel da igreja em tempos de isolamento e vida online: C. S. Lewis responde

Por Rosifran Macedo
 
A pandemia trouxe mudanças inesperadas a todas as áreas da sociedade e do cotidiano pessoal. A vida da igreja não é exceção. A participação via online nas atividades, que não era muito bem vista por algumas lideranças, acabou sendo uma prática necessária, adotada por muitos. Surge algumas perguntas, por exemplo: Como estimular a espiritualidade dos membros neste sistema? Além de bons planejamentos estratégicos e pragmáticos, precisamos aproveitar o momento e refletirmos sobre as condições que nos encontramos, a natureza da Igreja, o seu papel nas nossas vidas e no mundo, e perguntarmos como integrar estas verdades na realidade atual.
 
As condições da sociedade, em qualquer época, de acordo com alguns pontos da crença cristã, não é a “normalidade” que deveria ser. A queda criou algumas condições desfavoráveis à vida, à comunidade e à própria existência do universo. C. S. Lewis afirma que quando o Inimigo instigou a rebelião do homem contra Deus, isto desencadeou uma rebelião cosmológica que afetou todas as relações: do espírito do homem contra Deus, da natureza humana (físico e psíquico) contra o espírito do homem, e do inorgânico contra o orgânico[1]. O “certamente morrerás”[2] tem sido cumprido desde o Éden. A Covid-19 é parte da rebelião do inorgânico no processo de destruição da vida orgânica. Sem uma intervenção, o inferior tende a destruir o superior e a si mesmo. De acordo com as previsões atuais da astronomia um dia “todos os sóis desaparecerão”, quando toda a vida desaparecerá e tudo virará mera poeira.[3]
 
De acordo com Lewis, a fé cristã reconhece o problema, mas traz esperança. Vivemos num “território ocupado pelo inimigo”, mas onde o Rei “desembarcou disfarçado”[4], estabeleceu seu Reino, nos chama como Seus agentes, e nos empodera com Sua presença, para a tarefa de reconquista dos corações e do universo. Esta é a natureza da Igreja.
 
Uma das funções cruciais da igreja é contra atacar a tendência da rebelião de destruir o espírito humano. Na condição presente, o domínio da natureza humana sobre seu espírito corrompe todas suas atividades espirituais, e o espírito só pode resistir ao ataque da natureza através de um esforço contínuo perpétuo. Qualquer conhecimento acerca de Deus e da Sua realidade, naturalmente se dissipará da nossa mente, constantemente. A fé bíblica, nutrida pelo poder do Espírito, é a arte de reter a verdade, afirmada pela razão, independente das mudanças em nosso humor. Estas mudanças, resultantes da rebelião da natureza humana contra seu espírito, com certeza acontecerão e levantarão dúvidas sobre a fé. Para nos tornarmos um cristão maduro é necessário “treinar o hábito da fé” e saber domar as mudanças de humor, se não, estaremos sempre vacilando entre altos e baixos, e nossas crenças fortemente influenciadas pelas “mudanças climáticas e a digestão”.
 
Neste ponto, o papel da comunidade cristã é crucial para o fortalecimento de cada membro. Ninguém resistiria à rebelião por longo tempo estando sozinho. O primeiro passo é reconhecer o estado de rebelião que envolve a vida em todas as suas dimensões e saber que nossa disposição psicológica sofrerá mudanças, levando-nos a questionar nossa fé. Em seguida, temos que sermos intencionais na afirmação das nossas crenças, diariamente. Para isto precisamos, na dependência do Espírito, lançar mão da oração, leitura e meditação da Palavra, adoração pessoal e comunitária, os sacramentos, a comunhão com os irmãos, a prática mútua dos dons e do amor. Nenhuma crença permanecerá automaticamente viva em nossa mente, precisamos intencionalmente fortalecê-las. Lewis sugere que se examinarmos as razões por que as pessoas se desviaram da fé, talvez vamos encontrar poucos que foram convencidos por argumentos lógicos contrários a fé, e possivelmente uma maioria, simplesmente, foi distanciando-se aos poucos, da vida da comunidade.[5] Ele aponta que por isto, nosso inimigo fará de tudo para nos afastarmos da comunhão, e apelará para nossa “vaidade, preguiça e esnobismo intelectual.”[6]
 
A vida na comunidade dos santos, além de suprir a necessidade de sermos constantemente fortalecidos na fé, ela também supre a necessidade inata de pertencimento a um grupo, sem destruir nossa individualidade. O Novo Testamento não nos apresenta nenhuma ideia de um cristianismo solitário, ao contrário, mostra a nossa identidade como membros do Corpo Místico de Cristo e complementários uns aos outros. Esta união harmoniosa de pessoas tão diferentes nos provê um lugar seguro contra a solidão, mas também contra a massificação da multidão, e a vida do Corpo estimula o crescimento verdadeiro da personalidade. “Obediência é o caminho para a liberdade, humildade é o caminho para o prazer, unidade o caminho para a personalidade.”[7]
 
Ao obedecermos à ordem de renunciar a individualidade autônoma, somos inseridos na Igreja e temos a nossa individualidade afirmada, não por isolamento, mas ao recebermos um “status de membro” num Corpo Místico, partilhando da imortalidade do Cabeça e da Sua vitória sobre a morte. A vida de fé, empoderada pelo Espírito, nos dá uma alternativa saudável para a solidão do individualismo egoísta e o coletivismo massificador. Ela combate o individualismo natural resultante da rebelião, mas ao mesmo tempo nos devolve um ser pessoal eterno e até um corpo ressurreto.[8]
 
Também ocupando nosso lugar, por mais humilde que seja, de membro no Corpo, temos um propósito, bem maior que nós mesmos, tanto temporal como eterno. “A igreja sobreviverá ao universo; nela a pessoa individual sobreviverá ao universo... Mas como membros no Corpo de Cristo, como pedras e pilares no templo, temos a certeza de nossa identidade eterna e viveremos para lembrar as galáxias como um conto antigo.”[9]
 
As atividades disponíveis na internet podem suprir, por um tempo limitado, parte das necessidades espirituais das pessoas, mas não na sua totalidade. Uma espiritualidade apenas via online pode nos deixar totalmente vulneráveis à rebelião da nossa natureza contra nosso espírito, como também, pode nos abandonar num terreno de areia movediça do individualismo solitário ou de um “coletivismo” desnutrido. Na dependência do Senhor, precisamos procurar desenvolver uma comunidade saudável e dinâmica, que entende bem sua natureza e consegue edificar a fé dos seus membros e capacitá-los para a tarefa de ser sal e luz, integrando a vida comunitária à realidade da internet. As novas gerações de discípulos, com certeza, trarão contribuições essenciais para esta “nova” construção.

• Rosifran Macedo é pastor presbiteriano, mestre em Novo Testamento pelo Biblical Theological Seminary (EUA). É missionário da Missão AMEM/WEC Brasil, onde foi diretor geral por nove anos. Atualmente, dedica-se, junto com sua esposa Alicia Macedo, em projetos de cuidado integral de missionários.

Notas
1. Miracles, Complete Classics, p. 416.
2. Gen.2.17
3. Present Concern, Harper One, 1986, p.93
4. Mere Christianity, em Complete CSLewis Signature Classics, Harper One, 2007, p.46.
5. Mere Christianity, p.117
6. Ibid, p.46
7. The Weight of Glory, Harper Collins, 2001, p.167
8. Ibid. p.172
9. Ibid 172-173

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