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Por Escrito

Povo de Deus: quem são os evangélicos e por que eles importam? (resenha)

Resenha
Por Roney de Carvalho Luiz
 
Juliano Spyer
Geração Editorial, 2020
 
Com a pergunta proposta no título e analisada pela sociologia da religião é que o antropólogo Juliano Spyer – que conviveu com famílias evangélicas em Salvador, BA, durante um ano e meio, estudou a história das igrejas que mais crescem no país, conversou com especialistas no tema – mostra com uma linguagem simples e direta, como e por que os evangélicos estão mudando o país.
 
A cada ano, 14 mil igrejas evangélicas são abertas no Brasil e até 2032, continuando nesse ritmo, o número de evangélicos no país será superior ao de católicos. Esse crescimento é percebido em espaços institucionais, no legislativo e executivo, em escolas e nos meios de comunicação ao ponto de o voto evangélico ter sido decisivo nas eleições presidenciais de 2018.
 
O livro Povo de Deus apresenta os evangélicos de uma maneira que pouca gente vê, inclusive quem professa alguma das diferentes vertentes do protestantismo. A obra revela, sobretudo, a cegueira dos intelectuais, das classes médias e das elites brasileiras diante de um dos fenômenos de transformação social mais relevante no Brasil.
 
Spyer apontou pontos positivos e negativos do grupo social estudado, mas mostrou aquilo que é lugar-comum para sociólogos e antropólogos que estudam religião: que entrar para a igreja evangélica melhora as condições de vida dos brasileiros mais pobres o que inclui, entre outras coisas: fim do alcoolismo e consequentemente da violência doméstica, fortalecimento da autoestima e da disciplina para o trabalho e aumento do investimento familiar em educação e em cuidados com a saúde.
 
O livro é iniciado com uma introdução ao protestantismo e às tradições evangélicas pentecostais e neopentecostais. Perceba as fronteiras desses conceitos: protestante - termo ligado às igrejas históricas - e evangélico - termo ligado ao pentecostalismo, pois são tênues e disputadas, mas o consenso posiciona o cristianismo evangélico como fenômeno recente, mas abarcado na história do protestantismo. É importante olhar para esse grupo, pois são a maioria e suas igrejas têm hoje maior impacto no cotidiano dos brasileiros, evangélicos ou não, por causa de sua influência na política e nos meios de comunicação. 
 
Saltaram-me aos olhos o resultado de pesquisas que mostram os evangélicos por perspectivas geralmente desprezadas – principalmente por brasileiros com maior acesso à educação superior – e a crítica de como a carreira política de alguns pastores se torna relevante para religiosos na medida em que as igrejas perdem seu poder de controlar os aspectos morais da sociedade. Para o autor, essa liderança evangélica se coloca na política seguindo aquilo que é conhecido como vocação, mas também, por oportunismo de alguns que se baseiam na defesa de pautas de costumes, geralmente colocando-se como protetores dos valores da família tradicional.
 
É possível que boa parte dos leitores apressados ou segmentados não entendam muito bem ou tenham dificuldades para assimilar os pressupostos sociológicos que Juliano apresenta no livro de forma nua e crua. Temas complexos como: preconceito de classe; mídia evangélica; religião mais negra do Brasil; traficantes de Jesus, sexualidade, ao mesmo tempo que coloca sobre os evangélicos, em geral, pobres, o signo de rede de proteção de bem-estar social informal, maior igualdade de gênero e incentivo para estudar.
 
Cabe ainda, no livro, uma crítica à atuação da bancada evangélica porque, diferente do que o nome sugere, esses parlamentares parecem falar em nome de toda comunidade, mas, na verdade, não representam e nem receberam os votos de muitos evangélicos. Mesmo com o crescimento desse grupo parlamentar, que hoje é um dos mais influentes no Planalto, a polarização política e religiosa é acentuada via um projeto de poder, que reduz a tolerância à diversidade e se alia a grupos da elite conservadora como a bancada da bala e a do boi, e em nome da defesa dos costumes não se envolve, enquanto grupo, na defesa de pautas como o combate à corrupção, ações de combate à pobreza e a defesa da justiça social.
 
A proposta da pesquisa de Juliano Spyer sobre os evangélicos, para mim, já é a análise crítica mais pertinente no momento, pois, o autor coloca com objetividade científica e simpatia que os evangélicos são o “elefante na sala” da sociedade brasileira e que, em geral, estudiosos, mídia e formadores de opinião não levam em consideração todo o espectro dos diferentes grupos religiosos ao reduzirem todos os evangélicos a poucos estereótipos. Será mesmo que esse “elefante na sala” que tem 65 milhões de brasileiros pode ser reduzido apenas a: “mercador da fé” ou “coitadinhos fundamentalistas”?
 
O conteúdo do livro é interessante ao mostrar que essa generalização cria uma situação de antipatia da sociedade e de falta de diálogo. A força do livro reside na tentativa de ampliar o desconforto do leitor para que ele perceba a existência de um preconceito que também tem a ver com preconceito de classes. E sobretudo, ao lançar luz sobre a complexidade do fenômeno social e religioso dos evangélicos no Brasil, de tal forma que, esse Povo de Deus seja observado de uma maneira mais completa e respeitosa.
 
• Roney de Carvalho Luiz, coordenador do curso de teologia da Unicesumar.

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