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Opinião

Inconformismo - uma das oito marcas do discipulado cristão

Por Carlos Bezerra Jr.
 
“No ano terceiro do reinado de Jeoiaquim, rei de Judá, veio Nabucodonosor, rei de babilônia, a Jerusalém, e a sitiou.
E o Senhor entregou nas suas mãos a Jeoiaquim, rei de Judá, e uma parte dos utensílios da casa de Deus, e ele os levou para a terra de Sinar, para a casa do seu deus, e pôs os utensílios na casa do tesouro do seu deus.
E disse o rei a Aspenaz, chefe dos seus eunucos, que trouxesse alguns dos filhos de Israel, e da linhagem real e dos príncipes,
Jovens em quem não houvesse defeito algum, de boa aparência, e instruídos em toda a sabedoria, e doutos em ciência, e entendidos no conhecimento, e que tivessem habilidade para assistirem no palácio do rei, e que lhes ensinassem as letras e a língua dos caldeus.
E o rei lhes determinou a porção diária, das iguarias do rei, e do vinho que ele bebia, e que assim fossem mantidos por três anos, para que no fim destes pudessem estar diante do rei.
E entre eles se achavam, dos filhos de Judá, Daniel, Hananias, Misael e Azarias; E o chefe dos eunucos lhes pôs outros nomes, a saber: a Daniel pôs o de Beltessazar, e a Hananias o de Sadraque, e a Misael o de Mesaque, e a Azarias o de Abednego.
E Daniel propôs no seu coração não se contaminar com a porção das iguarias do rei, nem com o vinho que ele bebia; portanto pediu ao chefe dos eunucos que lhe permitisse não se contaminar.
Ora, Deus fez com que Daniel achasse graça e misericórdia diante do chefe dos eunucos.”
(Daniel 1:1-9)
 
Já ouvi pessoalmente e muitos me enviam e-mails ou fazem comentários nas redes sociais, me aconselhando a abandonar a política. Até acredito, sinceramente, que alguns fazem isso movidos por boa vontade, pois, segundo a visão dessas pessoas, a política é incompatível com os valores cristãos. Eles argumentam que na atividade política, seria necessário fazer acordos, concessões, e, compulsoriamente, adequar-se, aceitar as diretrizes partidárias, os valores vigentes do campo de atuação e das disputas políticas. E, noves fora, nada. Essas implicações também estão presentes na vida de advogados, comerciantes e, vejam bem, até mesmo no exercício ministerial.
John Sott nos chama atenção para uma etapa do discipulado radical que é o inconformismo. Fácil teorizar, difícil praticar. E entre um ponto e outro, não há só uma longa distância, mas, uma longa história. Então, vamos pensar juntos sobre um modelo prático e histórico. Um grupo de jovens foi sequestrado de seu país natal, levados como prisioneiros para a Babilônia, lugar longe de onde viviam, e em que são obrigados a aprender um novo idioma, novos costumes e novos valores. Nessa nova vida, se tornam políticos. Os jovens são feitos pessoas públicas – não por escolha deles, mas porque estavam no lugar decidido e hora escolhida.
 
Os jovens poderiam se recusar?  Existem questões que estão fora dos limites de nossas decisões e há outras sobre as quais temos o poder de decisão. E aqui deixo uma dica: não coloque sobre seus ombros decisões que pertencem a outras esferas, a outras pessoas. Você terá dois problemas. Em contrapartida, não empurre para os outros decisões que cabem a você tomar.
 
Mas voltemos aos jovens: eles podiam decidir ir ou não para a Babilônia? Tinham a opção de deixar ou não a família e o país natal? Chegando no cativeiro, eles poderiam escolher entre participar ou não do curso de cultura babilônica? Podiam recusar posteriormente a contribuir ou não com o projeto político daquele lugar? 
 
Eles foram levados como prisioneiros de guerra, o espaço de decisão era pequeno ou nulo. Então, na parte que eles não podiam se opor, eles aceitaram. Mas isso não é adesismo simplista. É sobrevivência. Não é por estar prisioneiro na Babilônia, longe dos olhos da família, perdido dos valores originais – ou sendo militante político –, que se assume a postura de “deixa a vida me levar”. Perde-se os anéis, mas não se perde os dedos. 
 
Então os jovens não aceitam absolutamente tudo, mesmo havendo pouca margem de escolhas. O pedido de uma dieta diferenciada que eles fizeram parece um preciosismo infantil, pequeno. A nação estava devastada, o templo, destruído, os utensílios do templo, profanados, e a juventude do país foi levada cativa para ser instrumentalizada pelo poder opressor, então, afinal, o que representava uma dieta de frutas, verduras, carnes diante daquele caos todo?  
 
Pois bem, era a única possibilidade de contestação que lhes restava; era a única parte da vida em que eles tinham um pequeno domínio, era o mínimo que eles ainda podiam realizar. E mesmo sendo pouco, eles não abriram mão. Era uma ação de inconformismo possível, viável. Pequena, mas válida. Insignificante, mas necessária.
 
O problema do inconformismo pode se resumir nisso mesmo: poucos e meros limites que o inconformado tem faz com que ele aceite tudo como está. Mas nossa atuação sobre o que queremos, pensamos ou almejamos têm barreiras. Muitas barreiras. Todavia, a nossa parte é nossa. A nossa parte não é do outro. Ela é a nossa responsabilidade. São os nossos limites. 
 
Eu não mudo o mundo, mas eu posso alterar o pequeno espaço do mundo do qual faço parte. Os jovens não mudaram o mundo babilônico, eles mudaram o mundo babilônico deles; da parte em que eles estavam. Sim, eu não posso mudar a estrutura política nacional – igualmente como um comerciante, um advogado e ministro não podem fazer global e institucionalmente o que querem –, mas eu posso escolher entre uma prática moral ou imoral que é proposta pessoal e diariamente a mim. Eu não mudo o mundo da política brasileira, mas mudo o mundo da política brasileira feita a partir de mim, das minhas escolhas.
 
Tem gente que quer mudar o mundo, mas não consegue mudar nem o próprio estilo de vida; quer mudar o sistema da prática predatória dos recursos naturais, mas não muda o que consome; quer mudar o sistema político mundial por ser machista, gerontocrático, elitista, mas continua escolhendo pessoas (homens e mulheres) que não pensam assim, que não renovam as próprias ideias; quer mudar o sistema econômico pela exploração dos trabalhadores e acumulação de riqueza, mas não muda seu olhar preconceituoso ou sua visão que valoriza posses e conta bancária com boas cifras; quer mudar o sistema eleitoral brasileiro, mas não lembra nem em quem votou na eleição passada. Enfim, quer mudar o mundo, mas não muda a parte que lhe cabe no mundo.
 
Como muito bem colocado por Stott, “somos chamados a um inconformismo radical, não a um conformismo medíocre. Diante do desafio do pluralismo, devemos ser uma comunidade de verdade, declarando a singularidade de Jesus Cristo. Diante do desafio do materialismo, devemos ser uma comunidade de simplicidade, considerando que somos peregrinos aqui. Diante do desafio do relativismo, devemos ser uma comunidade de obediência. Diante do desafio do narcisismo, devemos ser uma comunidade de amor” (O Discípulo Radical).
 
De nada adianta ser um inconformado com o modelo do mundo, mas viver muito bem conformado e confortado pelo seu mundo.
 
Agir dentro do que é possível ser feito, sem diminuir a importância daquilo que se faz, é um bom começo para ser uma força ativamente transformadora desse mundo, impulsionada pelo inconformismo.
 
“Não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente” (Rm 12.2).
 
• Carlos Bezerra Jr., pastor da Comunidade da Graça, vereador de São Paulo, ativista de Direitos Humanos, ex-deputado estadual e ex-secretário municipal de Esportes, e autor do livro Fé Cidadã - Quando a Espiritualidade e a Política se encontram.

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