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Opinião

Igreja, sociedade e missão

Há uma missão querigmática a cumprir apontando a pessoa amorosa, justa e poderosa de Cristo

Por I. Shimura

— O mundo mudou!
— Não se faz mais como antigamente!
— Bom era no meu tempo!


Essas e outras expressões populares são utilizadas como formas de nostalgia, críticas ao presente, ou ainda como um marcador identitário geracional, como quem afirma pertencimento a um “tempo de atrás”: “No meu tempo era diferente, era melhor”. Fato é que, sim, “o mundo” – ou seja, a sociedade, com seus processos e estruturas – está mudando e deixando muitas coisas para trás! De forma acelerada, a tecnologia, as formas de comunicação, os meios de trabalho, as políticas e geopolíticas etc., tanto experimentam como servem de meios das mudanças que se fazem sentir na vida em sociedade.

Isso se dá por muitas razões, entre as quais o fato de que as culturas humanas são dinâmicas. Ou seja, elas não são estáticas, rígidas e imutáveis. Ainda que algumas culturas – geralmente minoritárias – sejam mais inflexíveis e levem mais tempo para sofrerem alterações, suas relações com culturas majoritárias ou hegemônicas, invariavelmente lhes influenciam e operam transformações, em maior ou menor escala.

Sabemos que a categoria nativa “igreja evangélica brasileira”, usada por muitos líderes evangélicos, é uma abstração complexa e pouco explicada. Trata-se de uma nomenclatura para a representação do conjunto plural de agrupamentos distintos, com suas respectivas formas, modelos, tamanhos, ideais, teologias, organizações, denominações e crenças. Em termos sociológicos, é difícil pensarmos numa igreja nacional única, homogênea, padronizada e, ou uniformizada, uma vez que isso, no sentido social, não existe. Não há, portanto, uma única cultura evangélica, mas várias, cada qual oriunda de um determinado contexto, com suas relações, histórias, influências e dinâmicas.

Partindo desse ponto, seria equivocado falarmos da relação “da (una) igreja” com “a sociedade envolvente”, exceto se particularizarmos o nosso olhar a um determinado contexto local. Como, então, seria possível encaixarmos a ideia de uma igreja e sua relação com “a sociedade”? A resposta é teológica e viabiliza uma análise profunda sobre a questão. A Bíblia, mais especificamente o Novo Testamento, apresenta a ideia da singularidade “da igreja”. Em Efésios 1.22-23, por exemplo, Paulo fala que Deus “constituiu Jesus Cristo como Cabeça da Igreja, que é o seu corpo”.



O próprio Cristo disse que “edificaria a sua igreja” e que “as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18) – uma evidente singularização da igreja. Sendo assim nos referimos, aqui, à ideia da “igreja universal de Cristo”, que bem poderia ser pensada como um coletivo de crentes espalhados em diferentes ajuntamentos, representando inúmeras culturas, como uma espécie de comunidade mono-plural presente em diferentes geografias e contextos socioculturais, mas que é unida em termos espirituais, formando um só coletivo aos olhos de Cristo. Essa igreja espiritual é que prega/comunica o evangelho. E agora nos perguntamos: como essa igreja de Cristo se relaciona com a sociedade?

A igreja, sendo, em parte, integrante da sociedade da qual participa e com a qual dialoga, deve participar ativamente dos movimentos que lá ocorrem. Isso significa, objetivamente, que a igreja tem algo a dizer sobre os múltiplos temas tratados pela sociedade, em diferentes momentos. O povo de Deus na terra é formado, em Cristo, para discernir e julgar com sabedoria. Por isso, tem um imenso repertório sobre as questões cruciais que formatam e reformatam as visões de mundo da coletividade social. Nós temos condições de contribuir com as discussões raciais, migratórias, econômicas, políticas, sociais etc., bem como em relação a temas relacionados aos campos da sexualidade, violência, infância, família, religião e assim por diante.

Nosso distanciamento participativo – nem sempre deliberado – junto a sociedade parece ter nos silenciado enquanto voz profética pública em relação a esses temas. Nesse campo público, porém, somos nós que temos a experiência de juntar gente de “todas as etnias, cores, origens, nacionalidades, línguas e culturas” (Ap 7.9) num mesmo grupo, sem desfigurar suas particularidades culturais, bem como resolvemos eventuais litígios de forma justa dentro das nossas estruturas (Mt 18.15-20), ou que acolhemos os migrantes (Mt 25.35), socorremos viúvas e órfãos (Tg 1.27) e, eventualmente, desafiamos poderosos injustos (At 4.17-33).

A igreja que se faz presente na sociedade envolvente deve, assim, participar dessa sociedade, cumprindo sua missão querigmática, apontando a pessoa amorosa, justa e poderosa de Cristo, o Senhor e Salvador. Isso, todavia, não deve estar restrito aos centros urbanos e suas questões, mas toca as periferias, os grupos étnicos, as muitas culturas que convivem com a sociedade nacional. A igreja, esse Corpo de Cristo, precisa abraçar os povos como um sinônimo de cumprimento de sua missão: proclamar a mensagem de salvação, apontando para a cruz de Cristo, bem como aliviar sofrimentos, estendendo a mão, acolhendo a viúva e o órfão, intercedendo pelos vulneráveis e denunciando o pecado.
  • I. Shimura é teólogo, especialista em missiologia, presidente do Movimento PluriPovos e um dos coordenadores da Aliança Nacional de Apoio aos Migrantes (ANAM). Atua no campo migratório desde 1999, desenvolvendo projetos com imigrantes e refugiados.

Imagem: Unsplash.

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Saiba mais:
» O Caminho do Coração – Meditações diárias, Ricardo Barbosa
» O Evangelho em uma Sociedade Pluralista, Lessline Newbigin
» O Mundo – Uma missão a cumprir, John Stott e Tim Chester

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