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Opinião

Contra a (des)humanidade

Por Fernando Coêlho Costa

Vivemos um período de constantes protestos. Nas ruas de Myanmar, do Senegal, do Paraguai e tantos outros contra governos e ideias. Já vi protestos de todo tipo, confesso, desde ruas ocupadas, portões fechados e braços cruzados, que são geralmente a forma de indicar que além do pensamento, o corpo já não aguenta mais. De ciclistas a caminhoneiros, cada categoria tenta chamar a atenção e defender sua causa. Eu mesmo já participei de algumas paralisações enquanto estudante. A feijoada na Reitoria foi de longe a mais nutritiva. Mas aqui quero falo da nossa condição primeira. Aquela que nos aproxima. A condição de humanos.
 
Em 1968, na cidade de Memphis, no estado norte-americano do Tennessee, uma paralisação de 65 dias promovida pelos Sanitation’s Striker, trabalhadores responsáveis pela coleta de lixo nas ruas, ficou marcada por um simples slogan capaz de reivindicar o mais básico dos direitos da pessoa: “I am a human”. Os cerca de 1300 garis empilharam as latas de coleta, não ligaram os caminhões e lado a lado andavam pelos lugares mais movimentados e caros da cidade, vestidos da frase “Eu sou um humano”. O protesto chamou a atenção do então renomado ativista da não-violência Martin Luther King Jr., que se juntou à causa e, numa fatídica manhã de abril, na porta do quarto da pousada Lorraine, teve seu fôlego tirado com violência.
 
Porque alguém precisaria defender a humanidade contra os próprios humanos? Isso só é possível porque existem seres “parcialmente” humanos. São os excluídos que gritam e ninguém os ouve, são os ‘generalizados’ e ‘numerizados’ nas tragédias, inclusive o número de mortos nesta pandemia. Os que não têm acesso ao mínimo de oxigênio, os que são rapidamente esquecidos por serem de menor importância, os incapazes e eliminados pelo neodarwinismo social. Dentro desse grupo que vive ou sobrevive à permanente desumanização, disfarçada às vezes de meritocracia, às vezes de conquistas sociais, há os que diariamente são empurrados para esse lugar por meio das decisões seletivas dos governos, além das que eles mesmos escolheram. 
 
Os que têm sua voz calada e seus corpos dominados primeiramente pela desinformação seguida da coerção são colocados em condição inferior, de descaso e de quase nada de oportunidade. Enquanto competitividade for antônimo de solidariedade, a coisa não vai mudar.
 
O apóstolo São Paulo fez um excelente apontamento sobre a necessidade de mudança na vida das pessoas. Ele escreveu aos Romanos: “transformem-se pela renovação da sua mente”. Essa pode ser uma forma sensata de transformar o mundo, começando pela maneira de ver as coisas. De fato, muito do que está ao nosso redor pode ser melhorado se mudarmos nossa perspectiva. Uma criança bagunçando o quarto, pode ser, na verdade, uma criança em pleno processo criativo despertando para a sensibilidade e aprendendo novos sentidos. Uma confusão e falatório em voz alta, pode ser apenas um rompante de alegria entre amigos. Quando temos saúde mental, quase tudo ao nosso redor vai bem.

Acontece que ao mesmo tempo em que a humanidade é chamada a uma tomada de consciência, a realidade do mundo também lhe é trazida. A Bíblia não esconde o que há de pior na humanidade. Caim matou Abel. Siquém violentou Diná, José foi vendido como escravo pelos seus irmãos, Davi foi cruel com Urias, o profeta Jeremias sofreu como se fosse um traidor, José, Maria e Jesus foram exilados, João Batista foi decapitado. Que diferença há entre inúmeras histórias da Bíblia e as matérias sensacionalistas de violência? Uma nobre diferença. A identificação do divino com a condição humana na realidade da vida.
 
A boa notícia pregada pelos apóstolos de Cristo é a de que diante de todas as situações que geram injustiça, desumanidade e parecem perpetuar a ação dos opressores, Jesus se identifica. Isso mesmo, os discípulos de Jesus devem se posicionar contrários a toda forma de injustiça e opressão. Seja de pessoas ou de governos. A vida do Jesus de Nazaré é a personificação da santa humanidade. É a encarnação da divindade, sem ser a humanização do divino. 
 
Ser humano nas condições de injustiça é algo deplorável. Não dá para seguir Jesus e ir contra a humanidade ao mesmo tempo. Pois, certamente, no meio de todo o desespero e angústia que possa nos acometer, diante de todas as situações sem resposta, ainda é possível encontrar alguém que se identifique. Ainda é possível ouvir um rompante como o que se ouviu da cruz, como se estivesse replicando: “Também já passei por isso. Eu sou um humano!”

Fernando Coêlho Costa é historiador, teólogo, cientista das religiões e pesquisador do Protestantismo Brasileiro. Atuou como Assessor da ABUB, como pastor e hoje está envolvido na Geração de Líderes Jovens do Movimento Lausanne. É autor de Política, Religião e Sociedade: a contribuição protestante de Robinson Cavalcanti (Ed.CRV). Siga no Instagram: @fernandocoelhocosta. Conheça o Instituto Robinson Cavalcanti.
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