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Opinião

Adolescente – nem algoz nem vítima – parte 2

Comunidades cristãs que desenvolvem programas atraentes voltados para os adolescentes podem ocupar um papel revolucionário na vida dos mesmos

Entrevista 
Parte 2


“Catito” e Dagmar são os responsáveis pela coluna “Família” na revista Ultimato há quatorze anos. “Catito” é autor de quatro livros publicados pela Editora Ultimato. Há muito tempo trabalham com terapia familiar, no consultório e na igreja, por meio de palestras e cursos. Eles estão atentos aos riscos que a modernidade, especialmente a internet, traz para a família, em especial para crianças e adolescentes. “Catito” e Dagmar também estão envolvidos na liderança da EIRENE, associação dedicada à saúde integral da família, presente em diversos países da América Latina.

O livro escrito por vocês, Pais Santos, Filhos Nem Tanto, deveria ser seguido por um novo livro com este título: “Filhos santos, pais nem tanto”? Há espaço para os filhos florescerem apesar de uma família disfuncional – pais ausentes, violentos, imaturos; lares desfeitos; condições sociais desfavoráveis etc.?
“Catito” e Dagmar: Sim, sempre há esse espaço. Como comentamos anteriormente, inúmeros estudos a respeito da família focam exatamente nesse aspecto, procurando entender por que pessoas nascidas em contextos extremamente disfuncionais conseguem ser bem-sucedidas emocionalmente. Tais estudos têm sido chamados de “resiliência”, um termo importado da física que se refere à capacidade que alguns corpos apresentam de retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação elástica. No campo do comportamento humano, a resiliência caracteriza-se pela capacidade do ser humano responder de forma positiva às demandas da vida cotidiana, apesar das adversidades que enfrenta ao longo de seu desenvolvimento. E o mais importante que se constatou nesses estudos é que há sempre um elemento de espiritualidade envolvido no processo de adolescentes que vem de contextos disfuncionais e alcançam equilíbrio emocional e maturidade. São professores, amigos mais velhos, pastores e religiosos com os quais o adolescente se identifica (principalmente por se dedicarem ao adolescente) e dos quais adotam valores de vida. Nesse sentido, as comunidades cristãs que desenvolvem programas atraentes voltados para os adolescentes podem ocupar um papel revolucionário na vida dos mesmos. E quando falo de programas atraentes não estou me referindo a estudos bíblicos profundos ou “louvorzão”, mas a atividades que promovam integração social e reflexão crítica dos valores da sociedade e até da própria igreja, para que os adolescentes aprendam a “julgar todas as coisas e reter o que é bom!”

No desejo de apoiar os adolescentes em meio ao turbilhão de influências que recebem, há riscos de vitimizá-los? Como apoiá-los e ao mesmo tempo responsabilizá-los e confrontá-los por suas ações?
“Catito” e Dagmar:
Sim. Da mesma forma que existe o risco de demonizá-los. Infelizmente a nossa sociedade ocidental foi construída, nos últimos 300 anos, sobre um modelo de pensamento mecanicista e causal, onde para cada efeito se procura uma causa – o modelo cartesiano! Quando procuramos olhar a realidade de uma forma não linear e causal, mas de uma forma circular e em um constante processo retroalimentativo (modelo sistêmico), vamos entender que os adolescentes não são vítimas nem demônios, antes são, junto com os adultos, corresponsáveis na construção dos relacionamentos – seja para a saúde ou para a doença nos mesmos. Por exemplo: um filho fica muitas horas diante do computador e o pai vem brigar com ele por esse motivo; o filho desliga o computador contrariado e o pai vai se ocupar com atividades de seu trabalho e não interage com o filho; então o filho “intui” que o único momento em que o pai tem uma interação com ele é quando briga para que ele desligue o computador, então o filho vai “buscar” essa forma de interação, voltando ao computador e sendo novamente repreendido pelo pai. Ou seja, nesse processo circular retroalimentativo não se pode dizer que o adolescente é algoz nem vítima e tampouco se pode dizer o que começou primeiro: as broncas ou o uso demasiado da tela. É muito importante que tais processos circulares sejam identificados e quebrados em algum momento – que pode ser por meio de um movimento diferente seja do pai ou do adolescente. Normalmente nenhum dos dois se dá conta desse processo interacional inconsciente e, nesse caso, é preciso buscar ajuda externa para que se enxergue além do que está em primeiro plano. Eu ensino a meus alunos de especialização em terapia familiar uma frase que eu chamo de “minha frase maluca”, que é a seguinte: “O que é não é, é outra coisa!” – ou seja, há sempre algo mais a ser observado que está além daquilo que está aparente. Há sempre um processo interacional no qual todos são corresponsáveis em sua manutenção.



Entre os perigos trazidos pela internet, a ênfase geralmente recai sobre as ameaças e riscos de bullying, comparação, abuso, aliciamento etc. Mas estudiosos têm alertado também sobre o aumento do consumo de pornografia por crianças e adolescentes amplificado pelo uso da inteligência artificial (IA), como exemplifica a manchete desta notícia recém-publicada: “Adolescentes já estão fazendo sexting com IA– veja o que os pais devem saber”. Como a igreja pode contribuir para a saúde e a ética sexual dos adolescentes?
“Catito” e Dagmar:
A internet realmente hoje se tornou modeladora de pensamentos e valores. Constantemente vemos pessoas nas redes sociais se autodenominando “experts” em determinado assunto e seguidas por milhares de internautas que sequer sabem que, em muitos casos, tais “experts” apenas estão ganhando dinheiro (monetizando é o termo do momento) em cima de seus discursos vazios. Como diria meu amigo e mestre Ageu Lisboa, são “experts” formados em faculdades de “ciências ocultas e letras apagadas”. Na área da sexualidade, então, alguns dos que se denominam “sexólogos” falam mais estupidez que bêbados em botequins. Urge a igreja abrir espaço para reflexões sérias e profundas sobre esse tema. Não para falar sobre abelhas e borboletas, tampouco para dar “aulas sobre anatomia e fisiologia da sexualidade” – isso eles aprendem nas aulas de biologia –, e muito menos para dar sermões moralistas do que é pecado – isso eles também já têm introjetado e sentem culpa quando transgridem. O mais importante é conversar sobre a dimensão relacional da sexualidade e como a mesma jamais pode ser dissociada do afeto e da ternura. Entretanto, se os adultos, especialmente os líderes da igreja, não vivem isso, dificilmente vão conseguir passar tais valores aos adolescentes. E viver uma sexualidade relacional significa que a mesma deve estar presente o tempo todo no relacionamento conjugal: os líderes devem tratar seus cônjuges com carinho, falar palavras de ternura um para o outro (de forma autêntica) diante dos adolescentes, ter uma disposição de servir ao cônjuge (Lc 22.26), abraçá-lo, andar de mãos dadas etc. Lamentavelmente vejo líderes que sequer sentam juntos para adorar a Deus nos cultos da igreja e muito menos se tocam ou se elogiam na frente dos irmãos na igreja. Logo os adolescentes deduzem que a sexualidade nada tem a ver com ternura e afeto, antes está restrita ao ato sexual e a busca de uma sensação fisiológica autocentrada – o que é totalmente antibíblico. Precisamos de mais pregações sobre Cantares em nossos púlpitos!

O provérbio “É preciso uma vila inteira para criar uma criança” tem sido citado com frequência para se referir à necessidade de uma rede de apoio – família, amigos, escola, igreja, comunidade – para os adolescentes. Mas parece que todos os pontos da vila, ou os elos desta corrente, estão fragilizados. Como a igreja pode trazer luz a essa realidade?
“Catito” e Dagmar:
Redes de apoio são importantíssimas nessa etapa do ciclo vital. A Bíblia deixa claro isso justamente no episódio de Lucas 2, onde narra que Jesus adolescente ficou em Jerusalém em vez de retornar junto com seus pais a Nazaré. O texto bíblico narra que eles caminharam por um dia e então se deram conta que Jesus não estava “entre os companheiros de viagem”. Isso significa que essa família possuía bons relacionamentos sociais e uma rede de apoio na qual confiava. Jesus podia passar o dia junto com os amigos, tomar refeições e divertir-se com eles e, no final da tarde, devia retornar para junto de seus pais. A maioria dos pais não percebe a importância de ajudar o filho a desenvolver bons relacionamentos que lhe servirão de apoio nessa etapa de transição. Deixam por conta deles – ainda imaturos emocionalmente e não tão hábeis em discernir aquelas companhias que são más influências – a escolha dos amigos e depois queixam-se que os filhos fizeram más escolhas. Sim, os pais podem ajudar os filhos nessas escolhas e para isso precisam desenvolver amizades com outros casais que tenham filhos na mesma idade e que tenham valores que os pais julguem compatíveis com os seus – e isso desde a mais tenra idade dos filhos. Se os pais convivem entre si, se visitam, fazem almoços e passeios juntos, os filhos facilmente acabarão se entrosando. Costumo dizer que alguns dos melhores amigos de meus filhos ainda hoje (eu já tenho netos adolescentes) são filhos dos meus melhores amigos. A igreja é um excelente local para desenvolver tais amizades. Nesse sentido, a igreja não deve ser somente um local onde as pessoas vão aos domingos para ouvir um bom sermão ou cantar belos hinos, antes deve ser promotora de relacionamentos sociais que gerem redes de apoio entre famílias que estão na mesma fase do ciclo vital. A ideia de fazer piqueniques, passeios a locais interessantes, gincanas etc. para famílias organizadas por fases do ciclo vital seria um instrumento importantíssimo na construção de redes de apoio para as famílias com filhos adolescentes.

>> Leia aqui a parte 1 da entrevista Adolescente - nem algoz nem vítima <<

  • Carlos “Catito” e Dagmar são casados, ambos psicólogos e terapeutas de casais e de família e membros da Igreja Luterana. São autores de Pais Santos, Filhos Nem Tanto. Acompanhe o blog: ultimato.com.br/sites/casamentoefamilia/.
Entrevista publicada originalmente na matéria de capa da edição 414 de Ultimato.


REVISTA ULTIMATO – ADOLESCÊNCIA – ONLINE E OFFLINE
Muito já se falou da adolescência como uma fase crítica da vida, em que as dificuldades próprias da idade inspiram cuidados especiais – o que é ainda mais importante hoje.

Os adolescentes desta geração são o grupo mais impactado pelo ritmo acelerado das mudanças. A matéria dessa edição oferece subsídio para melhor conhecer e atuar com esse grupo. Nos depoimentos dos 12 adolescentes que participam eles pedem: “Acreditem em nós!”.

É disso que trata a
edição 414 de Ultimato. Para assinar, clique aqui.

Imagem: Unsplash.

Saiba mais:
» Pais Santos, Filhos Nem Tanto – A trajetória de um pai segundo o coração de Deus, Carlos "Catito" Grzybowski
» Série “Adolescência”: o que a igreja tem a ver com isso?, live de Diálogos de Esperança
» Cuidemos de nossos adolescentes, por Carlos "Catito" Grzybowski
» Da tela ao abraço: como proteger nossos filhos na era digital, por Emiliane Rezende

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