Opinião
29 de abril de 2025
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A bênção de ter avós – e de ser avós
Avós podem construir e ou reforçar caminhos do bem na vida dos netos
Por Esther Carrenho
Não tem como começar a escrever sobre relacionamento entre avós e netos sem recorrer às memórias que tenho da minha vida. Minhas duas avós já tinham falecido quando eu nasci. E fico imaginando que possivelmente minha infância teria sido mais alegre se elas ainda estivessem vivas. Mas tive os avôs.
Um deles, aos meus olhos e percepção de criança, era assustador. Vivia de cara feia e reclamando de tudo. Falava muito em esmurrar e até em matar alguém. Como ele tinha um revólver, eu achava que ele podia matar mesmo. Então mantinha distância.
O outro era neto de escravos e totalmente diferente. Era amoroso, acolhedor e eu não tinha medo dele. Quando tinha dez anos, fui morar em sua casa para fazer o último ano do curso, hoje chamado Fundamental I. Ele fez um balanço para mim embaixo de uma mangueira e sempre deixava a rede de que ele gostava livre para que eu me deitasse nela.
A escola oferecia sopa e arroz doce na hora do chamado recreio. As crianças que levavam como contribuição uma quantidade de arroz tinham o direito a comer sopa e arroz doce. Então, além de algum lanche que levava de casa, eu roubava arroz da dispensa com frequência. Meu avô, que já era viúvo e continuava sem parceira, era quem cozinhava e notou rapidamente o saco de arroz diminuindo. Foi fácil descobrir para onde o arroz estava indo. Amorosamente me chamou e disse: “Você só precisava pedir. Acho que você ficou com medo de receber um não. Mas o que tenho para você é um sim”. E me abraçou carinhosamente. Em nenhum momento me repreendeu pela mentira e pelo furto. A atitude amorosa e acolhedora dele, dali para frente, foi um estímulo para que eu me tornasse mais corajosa em pedir e para ser mais verdadeira.
Hoje eu tenho sete netos que têm entre treze e vinte e quatro anos. Com todos tenho uma boa interação. Com alguns convivi pouco, alguns moram bem pertinho outros moram em outro país.

Listo aqui experiências gratificantes que podemos desfrutar no tempo passado com os netos, durante a infância deles.
Contar histórias
A primeira é que podemos contar muitas histórias vividas. Os tempos vão mudando e eles amam ouvir as experiências vividas pelos avós em tempos, lugares e situações diferentes. Meu primeiro neto queria sempre que eu ficasse com ele à noite até o sono chegar contando histórias da minha vida. E a neta mais velha, que morava longe, sempre que nos visitava com os pais, pedia para colocar o colchão dela no chão ao lado de onde eu durmo, para que eu contasse histórias até ela adormecer. E eu contava todas as histórias de meninas e mocinhas da Bíblia.
Outro neto, por volta dos sete anos, era aficionado em histórias de herois. Via os animes e outros desenhos infantis que traziam sempre um heroi invencível. Contei pra ele que eu também tinha um herói. E que o meu era mais forte que todos os heróis dele. E travamos este diálogo:
Ele: O meu herói é forte, ninguém derrota ele...
Eu: O meu também. Uma vez ele ficou 40 dias sem comer...
Ele: O meu herói tem muita força e poder, ele aparece do nada...
Eu: O meu também. Um dia seus amigos estavam numa sala e de repente ele apareceu no meio...
Ele: O meu herói voa...
Eu: O meu também. Chegou um dia que meu herói entendeu que não dava mais para ficar na terra e voou para o céu.
Ele: Mas o meu herói, ninguém consegue matar...
Eu: O meu conseguiram matar! E ele morreu, mas acredite, ele não ficou no túmulo. Depois de três dias descobriram que um lenço que era parte da roupa que ele usava estava dobrado no túmulo, mas ele não estava mais lá. Tinha saído vivo.
Ele ficou intrigado, pensativo, curioso e saiu perguntando qual era o nome deste herói. Até que alguém lhe falou que era Jesus de Nazaré. Mas até hoje – já um jovem adulto – ele se lembra dos nossos heróis.
Escutar com o coração
A segunda coisa que podemos fazer é escutar, não só com os ouvidos, mas também com o coração tudo que um neto quer contar. Isto significa escutar atentamente, sem censura e sem querer corrigir. Muitas vezes são medos e dificuldades na escola, críticas, apelidos e chacotas que recebem dos colegas. E até queixas e dificuldades com os pais no convívio diário e nas tarefas do dia a dia. Quando ouvimos com atenção damos espaço para que eles falem e, falando, muito peso e angústia saem do seu coração, deixando-os mais leves e livres. Há situações da vida dos netos que não podemos mudar, mas podemos responder com empatia. Podemos deixar claro que entendemos que é muito difícil mesmo, mas que estamos juntos e queremos caminhar perto.
É importante lembrar que, por mais que os avós tenham estudado e adquirido conhecimento, com certeza os netos têm oportunidades de aprendizados de coisas novas e poderão ampliar nosso conhecimento. Então sair do patamar de que sabemos muito e se dispor a escutar o novo que vem dos netos é gratificante para os dois lados. Lembro do dia que depois de elogiar um neto de nove anos porque ele tinha me dito algo que eu não conhecia ele disse: “Tem coisa que você sabe que eu ainda não sei; mas tem coisa que eu já sei e você não sabe”. E ele estava certo!
Ter contato físico
A terceira coisa que os avós podem fazer e que contribuirá muito para o bem-estar emocional dos netos é o contato físico. Este contato pode acontecer através do abraço, do toque carinhoso, do colo e até da brincadeira. O brincar pode ser a oportunidade para ficar perto e se tocarem vez ou outra. A pele é o maior órgão do corpo e um meio rápido de registro de prazer. Então quando um deles bate a perna ou o braço, aproveite para fazer uma massagem demorada com algum creme. A dor da batida vai passar e o prazer do contato ficará para sempre registrado na memória corporal.
Avós ajudam a construir caminhos do bem
Posso citar outras experiências, mas aqui vou deixar a última, que é providenciar algo que crianças e adolescentes gostam e deixar disponível para eles sempre que quiserem e puderem. Pode ser desde construir uma piscina como oferecer uma refeição saborosa ou simplesmente deixar uma caixa de chocolate sempre disponível.
Como psicoterapeuta de adultos, mais de uma vez já ouvi: “Foi muito difícil quando meus pais se separaram, mas meus avós foram acolhedores e amorosos e fizeram toda a diferença na minha vida. Não sofri demais e não fui para caminhos piores por causa do amor e do cuidado dos meus avós”.
Então está claro que, em todo o tempo, os avós podem construir e ou reforçar caminhos do bem na vida dos netos, através da presença, dos passeios, das comidas apetitosas, das brincadeiras, do diálogo, da escuta e do carinho.
Avós, aproveitem e sejam presentes! Façam a diferença! Sejam construtores de bons caminhos e boas lembranças na vida dos netos!
Legenda das fotos
1. Eliel Carrenho [esposo da autora] e Lorenzo, o neto adolescente.
2. O desenho desta caneca (todos os meus 7 netos segurando minha mão) revela como a vida é paradoxal. Já peguei no colo e conduzi pela mão os sete. Uns mais outros menos…
No entanto, chegou o tempo que, quando estou com algum deles ou alguma das duas, eu preciso da mão e do braço para suporte! E eles amorosamente me dão o apoio de força que meus joelhos enfraquecidos já não conseguem mais!!! Gratidão por cada um deles e delas!
REVISTA ULTIMATO – LIVRA-NOS DO MAL
O mal e o Maligno existem. E precisamos recorrer a Deus, o nosso Pai, por proteção.
O que sabemos sobre o mal? A que textos bíblicos recorremos para refletir e falar do assunto? Como o mal nos afeta [e como afetamos outros com o mal] e porque pedimos para sermos livres dele? Por que os cristãos e a igreja precisam levar esse assunto a sério?
É disso que trata a matéria de capa da edição 413 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» Olhando para dentro, por Esther Carrenho
Por Esther Carrenho

Um deles, aos meus olhos e percepção de criança, era assustador. Vivia de cara feia e reclamando de tudo. Falava muito em esmurrar e até em matar alguém. Como ele tinha um revólver, eu achava que ele podia matar mesmo. Então mantinha distância.
O outro era neto de escravos e totalmente diferente. Era amoroso, acolhedor e eu não tinha medo dele. Quando tinha dez anos, fui morar em sua casa para fazer o último ano do curso, hoje chamado Fundamental I. Ele fez um balanço para mim embaixo de uma mangueira e sempre deixava a rede de que ele gostava livre para que eu me deitasse nela.
A escola oferecia sopa e arroz doce na hora do chamado recreio. As crianças que levavam como contribuição uma quantidade de arroz tinham o direito a comer sopa e arroz doce. Então, além de algum lanche que levava de casa, eu roubava arroz da dispensa com frequência. Meu avô, que já era viúvo e continuava sem parceira, era quem cozinhava e notou rapidamente o saco de arroz diminuindo. Foi fácil descobrir para onde o arroz estava indo. Amorosamente me chamou e disse: “Você só precisava pedir. Acho que você ficou com medo de receber um não. Mas o que tenho para você é um sim”. E me abraçou carinhosamente. Em nenhum momento me repreendeu pela mentira e pelo furto. A atitude amorosa e acolhedora dele, dali para frente, foi um estímulo para que eu me tornasse mais corajosa em pedir e para ser mais verdadeira.
Hoje eu tenho sete netos que têm entre treze e vinte e quatro anos. Com todos tenho uma boa interação. Com alguns convivi pouco, alguns moram bem pertinho outros moram em outro país.

Listo aqui experiências gratificantes que podemos desfrutar no tempo passado com os netos, durante a infância deles.
Contar histórias
A primeira é que podemos contar muitas histórias vividas. Os tempos vão mudando e eles amam ouvir as experiências vividas pelos avós em tempos, lugares e situações diferentes. Meu primeiro neto queria sempre que eu ficasse com ele à noite até o sono chegar contando histórias da minha vida. E a neta mais velha, que morava longe, sempre que nos visitava com os pais, pedia para colocar o colchão dela no chão ao lado de onde eu durmo, para que eu contasse histórias até ela adormecer. E eu contava todas as histórias de meninas e mocinhas da Bíblia.
Outro neto, por volta dos sete anos, era aficionado em histórias de herois. Via os animes e outros desenhos infantis que traziam sempre um heroi invencível. Contei pra ele que eu também tinha um herói. E que o meu era mais forte que todos os heróis dele. E travamos este diálogo:
Ele: O meu herói é forte, ninguém derrota ele...
Eu: O meu também. Uma vez ele ficou 40 dias sem comer...
Ele: O meu herói tem muita força e poder, ele aparece do nada...
Eu: O meu também. Um dia seus amigos estavam numa sala e de repente ele apareceu no meio...
Ele: O meu herói voa...
Eu: O meu também. Chegou um dia que meu herói entendeu que não dava mais para ficar na terra e voou para o céu.
Ele: Mas o meu herói, ninguém consegue matar...
Eu: O meu conseguiram matar! E ele morreu, mas acredite, ele não ficou no túmulo. Depois de três dias descobriram que um lenço que era parte da roupa que ele usava estava dobrado no túmulo, mas ele não estava mais lá. Tinha saído vivo.
Ele ficou intrigado, pensativo, curioso e saiu perguntando qual era o nome deste herói. Até que alguém lhe falou que era Jesus de Nazaré. Mas até hoje – já um jovem adulto – ele se lembra dos nossos heróis.

A segunda coisa que podemos fazer é escutar, não só com os ouvidos, mas também com o coração tudo que um neto quer contar. Isto significa escutar atentamente, sem censura e sem querer corrigir. Muitas vezes são medos e dificuldades na escola, críticas, apelidos e chacotas que recebem dos colegas. E até queixas e dificuldades com os pais no convívio diário e nas tarefas do dia a dia. Quando ouvimos com atenção damos espaço para que eles falem e, falando, muito peso e angústia saem do seu coração, deixando-os mais leves e livres. Há situações da vida dos netos que não podemos mudar, mas podemos responder com empatia. Podemos deixar claro que entendemos que é muito difícil mesmo, mas que estamos juntos e queremos caminhar perto.
É importante lembrar que, por mais que os avós tenham estudado e adquirido conhecimento, com certeza os netos têm oportunidades de aprendizados de coisas novas e poderão ampliar nosso conhecimento. Então sair do patamar de que sabemos muito e se dispor a escutar o novo que vem dos netos é gratificante para os dois lados. Lembro do dia que depois de elogiar um neto de nove anos porque ele tinha me dito algo que eu não conhecia ele disse: “Tem coisa que você sabe que eu ainda não sei; mas tem coisa que eu já sei e você não sabe”. E ele estava certo!
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A terceira coisa que os avós podem fazer e que contribuirá muito para o bem-estar emocional dos netos é o contato físico. Este contato pode acontecer através do abraço, do toque carinhoso, do colo e até da brincadeira. O brincar pode ser a oportunidade para ficar perto e se tocarem vez ou outra. A pele é o maior órgão do corpo e um meio rápido de registro de prazer. Então quando um deles bate a perna ou o braço, aproveite para fazer uma massagem demorada com algum creme. A dor da batida vai passar e o prazer do contato ficará para sempre registrado na memória corporal.
Avós ajudam a construir caminhos do bem
Posso citar outras experiências, mas aqui vou deixar a última, que é providenciar algo que crianças e adolescentes gostam e deixar disponível para eles sempre que quiserem e puderem. Pode ser desde construir uma piscina como oferecer uma refeição saborosa ou simplesmente deixar uma caixa de chocolate sempre disponível.
Como psicoterapeuta de adultos, mais de uma vez já ouvi: “Foi muito difícil quando meus pais se separaram, mas meus avós foram acolhedores e amorosos e fizeram toda a diferença na minha vida. Não sofri demais e não fui para caminhos piores por causa do amor e do cuidado dos meus avós”.
Então está claro que, em todo o tempo, os avós podem construir e ou reforçar caminhos do bem na vida dos netos, através da presença, dos passeios, das comidas apetitosas, das brincadeiras, do diálogo, da escuta e do carinho.
Avós, aproveitem e sejam presentes! Façam a diferença! Sejam construtores de bons caminhos e boas lembranças na vida dos netos!
Legenda das fotos
1. Eliel Carrenho [esposo da autora] e Lorenzo, o neto adolescente.
2. O desenho desta caneca (todos os meus 7 netos segurando minha mão) revela como a vida é paradoxal. Já peguei no colo e conduzi pela mão os sete. Uns mais outros menos…
No entanto, chegou o tempo que, quando estou com algum deles ou alguma das duas, eu preciso da mão e do braço para suporte! E eles amorosamente me dão o apoio de força que meus joelhos enfraquecidos já não conseguem mais!!! Gratidão por cada um deles e delas!
- Esther Carrenho, teóloga, psicóloga e autora do livro: Em Busca do Bem Estar Emocional: Quando espiritualidade e psicologia caminham juntos e outros. @esthercarrenho.

O mal e o Maligno existem. E precisamos recorrer a Deus, o nosso Pai, por proteção.
O que sabemos sobre o mal? A que textos bíblicos recorremos para refletir e falar do assunto? Como o mal nos afeta [e como afetamos outros com o mal] e porque pedimos para sermos livres dele? Por que os cristãos e a igreja precisam levar esse assunto a sério?
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