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Palavra do leitor

Meus olhos

Quando Fiodor Dostoiévski entrou na minha vida, pressenti que muita coisa mudaria em meu ser. Fui a ele com muita sede, ávida por conhecer o que toda humanidade já conhecia: o homem culto, de pensamento enraizado nas desgastantes lutas filosóficas entre o ser e o ter.
Na minha fome de conhecimento sentei-me logo diante do livro “Crime e Castigo”, um dos mais longos e complexos do autor. Logo nas primeiras páginas me vi em uma terrível batalha: como alguém poderia tramar a morte de uma pessoa de forma tão fria?

Explico: a personagem principal, Raskolnikov, um jovem estudante russo, pobre e precisando sustentar a família, decide assassinar a senhora ranzinza proprietária do prédio onde morava, com o objetivo de roubá-la.

Na narrativa minuciosa, logo Raskolnikov trata de tirar da sua mente qualquer pensamento de misericórdia e arrependimento.

Não prossegui na leitura...

Meu relacionamento com Dostoiévski estava fadado ao fracasso, não conseguia mergulhar na leitura e permanecer apática. Dostoiévski levou a me perceber tão cheia de imperfeições e fria diante dos meus próprios erros que o abandonei.

Por um longo período não falei no assunto comigo mesma, me calei, me afundei em um silêncio covarde e incomodo.

O livro me seguia pela casa, parecia vivo, como se dissesse: Evilangela, quando irá se olhar por dentro? Evilangela, quais culpas carrega? ...

Mas graças, a um outro livro: Muito mais que palavras ( com organização de Philip Yancey), meu caso com Dostoievski foi retomado do ponto onde paramos: o confronto com meus erros, e a necessidade de os confessá-los para ser mais leve, mais livre. Nesse livro faz uma apresentação cristã das obras do russo de forma a contemplarmos o conjunto do seu legado, assim nos situar no método do trabalho literário de Fiodor.

Um outro livro, O idiota, também me redimiu e pude retomar, com mais segurança, o percurso interrompido. Nele um príncipe com ares de bobalhão percebe o interior de cada ser, ama uma prostituta sofrida, escuta a todos ao seu redor, tornando-se, na sua humildade, importante para cada homem e mulher que se aproximam dele.

Ainda não concluí Crime e Castigo, quero ir devagar, dando um tempo para refazer cada sensação e redescobrir novos caminhos para situações que me levariam ao erro. Mergulhando na graça de Deus, compreendendo o poderoso amor de Deus por mim, miserável criatura carregada de culpas.

Não tramamos assassinatos, muito menos carregamos a culpa pela morte de alguém, porém muitos de nós sofremos com culpas e lembranças de erros que não nos dignificam enquanto pessoas.

Por isso ser tão difícil ler Fiodor Dostoievski e permanecermos os mesmos, o próprio Freud o levou para o divã, fez profundas analises de suas personagens. Quanto menos nós, pobres mortais, seremos capazes de compreender os emaranhados que Dostoievski nos deixou.

Nesse principio de ano novo, nada melhor que nos olharmos nos olhos, talvez precisaremos de outros olhos para nos enxergar melhor. Os meus olhos foram os livros desse russo corajoso e sensível. Não foi fácil me manter ao lado dele, quis muitas vezes nunca tê-lo conhecido, pois mexeu com minhas estruturas.

Mas agora me vejo, me percebo. Não totalmente ainda, mas aceitando-me com todos os erros e, a melhor parte, me perdoando, me amando. Por ter entendido que todo ser humano é essa mistura de erros e acertos, fraquezas e forças, lágrimas e risos, um mundo de probabilidades boas e ruins...

Passando a olhar com os olhos de um Cristo misericordioso, repleto de perdão, conhecedor dos estragos que a culpa faz na alma do ser humano.

O que aconteceu com Raskolnikov? A culpa o corroeu, a tal ponto de sentir que precisava ser castigado, daí o nome do livro ”Crime e Castigo”. Como disse: ainda não concluí a leitura, por isso não posso compartilhar o desfecho.

Mas estou avançando, na certeza de que meus olhos “dostoievskianos” poderão contemplar o perfeito e imperfeito que há em mim de forma mais serena e tranquila.
Marabá - PA
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